Sempre que estamos navegando pela internet, é comum encontrarmos alguns tópicos de discussões que visam melhorar nossa vida diária. Alguns destes textos, mesmo que de forma despretensiosa, são capazes de espalhar inverdades ou informações fora de contexto, que mais fazem é desinformar alguém.

Com a alimentação não seria diferente, e com o famoso ômega-3 também não. Pela internet, encontrei benefícios no ômega-3 presente no óleo de linhaça, que estaria ligado com o efeito protetor presente na população esquimó. Será que o ômega-3 da linhaça possui mesmo todo esse poder?

No texto de hoje, pretendo abordar as verdadeiras capacidades, diferenças e similaridades entre os ômegas-3, bem como explicar sobre o mito do óleo de linhaça com seus super efeitos na saúde. Devemos mesmo procurar na linhaça um dos grandes mantenedores da nossa saúde? Afinal, o que é ômega-3? Continue lendo para tirar essas e mais dúvidas!

Ômega-3 — ou ácido linolênico — é a denominação dada para todo ácido graxo insaturado (Lembra-se da explicação das gorduras aqui?) em que a primeira dupla ligação na cadeia carbônica está localizada no terceiro átomo de carbono a partir do último [1]. Nosso corpo não é capaz de sintetizar por si mesmo esta cadeia carbônica, por isso sua alimentação é crucial para a manutenção dos tecidos, formação de membranas celulares e síntese hormonal.

Por este motivo, o ômega-3 é dado como um ácido graxo essencial. Além dos efeitos citados, incluem-se a redução de riscos de doenças cardiovasculares e redução de doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide [2]. Cápsulas pequenas e virais eram vendidas em um canal famoso, com uma apresentadora que logo se tornou meme por sua entonação vocal, cerca de uma década atrás. (Sim, faz tempo!)

 

Como é uma cadeia de ômega-3 [3]. Repare que a ponta esquerda possui um traço por cima da cadeia. Este traço é a ligação carbônica dupla que transformou a cadeia insaturada em ômega-3 por estar na terceira ligação do final ao início.

Sabendo que a linhaça é uma boa fonte deste ácido graxo, algumas pessoas adotaram o alimento como constituinte principal da dieta. Elas associaram o consumo do óleo de linhaça com proteção de diversas doenças, dentre as quais: câncer de estômago, aterosclerose, asma e outros distúrbios inflamatórios.

Esta associação surgiu da alimentação dos esquimós. O povo do norte seria menos suscetível a desenvolver quadros problemáticos de saúde por se alimentar da linhaça. Logo muitas pessoas buscaram o alimento com este intuito, procurando encontrar o bendito do ômega-3 em auxílio da saúde.

Porém, os “seguidores da linhaça” esquecem que a alimentação esquimó é pautada também em outros alimentos. Os peixes de água fria desempenham um papel importante como fonte de ácido linolênico em sua gordura [1]. Existem diferenças entre o ômega-3 de fonte animal e vegetal.

O ômega-3 vegetal — óleo de soja, linhaça, nozes e castanhas — possui 18 átomos de carbono e trás duplas ligações (aquele “tracinho” na cadeia), chamado então de ácido alfa-linolênino (ALA). O ômega-3 animal — sardinha, pescadinha, salmão, atum e truta [4] — possui cadeias de 20 e 22 átomos, com cinco e seis duplas ligações, respectivamente: ácido eicosapentaenóico (EPA) e decosahexaenoico (DHA).

 

Imagem demonstrando as diferenças estruturais entre ELA, EPA E DHA [5]. De acordo com a explicação, você consegue encontrar um erro na imagem?

A proteção atribuída à alimentação esquimó é mais observada com a alimentação do EPA e do DHA do que com ELA da linhaça. Poderíamos até pensar que existe uma conversão metabólica de ELA nesses outros dois, porém a capacidade de conversão está menor que 1% do total de ômega-3 consumido [1]. Não existe maneira de atribuirmos estas super capacidades com a linhaça sozinha.

Porém, não deixem que isso te desanime! A linhaça ainda é uma fonte interessante de antioxidantes, proteínas com aminoácidos essenciais, fibras solúveis e insolúveis e compostos fenólicos. São componentes que controlam o nível de glicose, a saúde óssea, previne o envelhecimento celular e conserva a manutenção muscular. O alimento merece ser consumido pelo que ele realmente faz!

E aí, vai saber responder quando te falarem do mito da linhaça? Que outro mito eu posso abordar aqui na nossa redação Deviante? Não deixe de comentar, criticar e dar sugestões para o próximo texto. Até a próxima!

 

Referências
[1]: VIEIRA, Enio Cardillo. Tabus, mitos e crendices em nutrição. Rev. méd. Minas Gerais, 2010. Disponível aqui.
[2]: MENDONÇA, Rejane Teixeira. Obesidade infantil e na adolescência. Editora Rideel, São Paulo. 2014, v. 1, Ed. 1, 230 p.
[3]: TECCONCURSOS. Questões ENEM Química e Engenharia química. Portal Tec Concursos, 2013. Disponível aqui.
[4]: SCHERR, Carlos et al. Concentração de ácidos graxos e colesterol de peixes habitualmente consumidos no Brasil. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 104, p. 152-158, 2015.
[5]: SENEGALHE, Franciane Barbiéri Dias. Ácidos graxos na carne e gordura de ovinos. Enciclopédia Biosfera, 01 jul. 2014.