Não é de hoje que observamos o quanto os alimentos possuem mitologias próprias, no que se referem às apreensões, medos, potencialidades e desejos que são capazes de gerar aos consumidores de forma geral. Alguns desses “mitos” possuem certa base lógica, pois muitas informações foram tiradas da gastronomídia (lembra-se dela neste texto aqui?), como os benefícios da fibra de sementes.

Outros alimentos, porém, foram vítimas de “estudos” que acabaram por minar a sua reputação, gerando dúvidas na cabeça dos comensais mais antenados nas notícias sobre saúde. Este ambiente contraproducente de informação e de rápida mudança de hábitos é responsável por gerar cacofonia alimentar (Leia mais sobre este fenômeno aqui), quebrando paradigmas consolidados de saúde e de hábitos alimentícios.

Entre alguns alimentos que se destacam por sofrer com a cacofonia alimentar, o ovo é provavelmente um dos casos mais emblemáticos até os dias de hoje [1]. Muitas dúvidas foram lançadas na década de 70 se o mesmo seria o grande vilão das doenças de coração, pela presença de lipídios e do chamado “colesterol”.

Mas será que o ovo pode ser considerado o grande vilão da alimentação? Os benefícios superam os malefícios? Neste texto irei abordar um pouco sobre o ovo e sua composição e tentarei tirar algumas dúvidas sobre o colesterol do ovo.

De fato o ovo possui uma quantidade significativa de lipídios, representando 11% do seu peso. Os lipídios (óleos, gorduras e ceras) são formados por uma cadeia complexa de carbono e hidrogênio e são divididos de acordo com a presença de insaturação, sendo, portanto, saturados (sem dupla ou tripla ligação entre os carbonos) e insaturados (uma ou mais dupla ligações).

 

Imagem mostrando dois conhecidos lipídios. ácidos graxos insaturados são importantes para a manutenção das funções celulares, como mobilidade, formação de tecidos e de hormônios [2].

Para que ocorra o transporte dos ácidos graxos, da região de absorção aos tecidos do corpo, são necessárias proteínas especiais que desempenham esta função. Estas proteínas são conhecidas como lipoproteínas, ou como colesterol para os íntimos. O colesterol pode ser dividido de acordo com a densidade da molécula, sendo o de baixa densidade o LDL (Low density lipoprotein) e o de alta densidade o HDL (High density lipoprotein). Esta classificação é muito importante para observarmos o comportamento das moléculas no corpo humano.

O LDL tem uma função de recolhimento dos lipídios próximos nas paredes dos vasos, enquanto o HDL centra sua função no fluxo sanguíneo. Por estar menos exposto à movimentação, células de defesa podem encontrar o LDL e o oxidar, formando placas de gordura, prejudiciais para o fluxo sanguíneo. É deste problema que se origina a famosa classificação do LDL como o “colesterol ruim” e o HDL como o “colesterol bom”.

Longe de fazer um juízo de valor, o HDL recebe esta denominação muito baseada na sua capacidade de buscar o excesso de LDL, evitando este problema de entupimento das veias que é responsável por doenças coronárias e de pressão sanguínea. Muitas pessoas buscam evitar alimentos ricos em lipídios justamente para evitar o famoso colesterol. Estas moléculas só são absorvidas em alimentos de origem animal, logo o ovo recebe a conotação negativa por causa disso.

Porém, os produtores de conteúdo sobre alimentação esqueceram de citar que não é só na alimentação que acumulamos colesterol, muito pelo contrário. Cerca de 70% do colesterol do corpo é sintetizado pelo fígado, e 30% é oriundo da alimentação. Para que o corpo consiga produzir o “colesterol bom” é necessária a presença de lipídios insaturados, dos quais o ovo é uma ótima fonte.

 

Além da presença de substâncias lipídicas protetoras da saúde, o ovo se destaca pela quantidade de proteína (albumina em especial) e de vitamina D, acarretando em benefícios para práticas corporais e manutenção dos tecidos [3], como bem aprova  o personagem Rocky Balboa, preparando, na imagem, a sua dieta clássica antes dos treinos.

Logo, o principal problema do ovo está relacionado com explicações mal formuladas e descontextualizadas, gerando medos que não deveriam existir aos comensais. O ovo possui um efeito protetor da circulação sanguínea, apesar de ser rico em “colesterol”. O principal problema do colesterol está justamente na péssima relação HDL/LDL, que é sintoma de uma alimentação rica em gordura saturada e alimentos industrializados.

O ovo é fonte tanto de lipídios insaturados quanto de HDL, então não precisamos ter medo com relação aos malefícios corporais do mesmo. Na dúvida, procure um nutricionista, que lhe explicará com mais detalhes sobre esta complexa relação do ovo com a nossa saúde!

O texto de hoje foi inspirado no artigo da Carla Pizzolante [1], busquem o texto dela para retirar mais informações interessantes sobre a relação ovo/saúde! Alguma dúvida final? Não esqueça de comentar críticas e felicitações, e até a próxima!

 

Referências
[1]: PIZZOLANTE, Carla Cachoni. O ovo e o mito do colesterol. Pesqui. Tecnol, v. 9, 2012.
[2]: GRIMALDI, Renato. Ingestão de ácidos graxos ômega 3 x ômega 6. Editora Stilo, 13 abr. 2017. Disponível aqui.
[3]: ZANIN, Tatiana. 16 alimentos ricos em vitamina D. Portal Tua Saúde, set. 2021. Disponível aqui.