E o topetudo aprontou mais uma: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, baixou uma regulamentação que efetivamente proíbe a divulgação científica na base da canetada. Nenhuma agência governamental pode compartilhar seus dados com a imprensa ou o público sem que seja expressamente autorizada pelo governo.

E como você já deve ter imaginado a comunidade científica não aceitou isso numa boa.

Uma coisa precisa ser dita sobre Donald Trump: o atual presidente dos Estados Unidos está trabalhando para cumprir todas as suas promessas de campanha, por mais absurdas que elas fossem. Diferente do Obama que não conseguiu fechar Guantánamo (uma de suas principais promessas nas duas campanhas), o Cenoura Man não só está cortando financiamento a ONGs de planejamento familiar como de fato bateu de frente com toda e qualquer defesa ao, mais que comprovado, aquecimento global, que na sua cabeça (ou o que houver abaixo do topete) é um mito.

Até os trabalhos para a construção do tal muro já foram postos em prática e o país agora vai restringir a imigração de certos países. E como se tudo isso não bastasse, ainda há a ameaça suposta e perigosíssima Comissão Da Vacina, que seria comandada por um notório anti-vaxxer.

A última do Trump, no entanto foi ainda mais nociva e estapafúrdia: funcionários da Agência de Proteção Ambiental (EPA), do Departamento de Agricultura (USDA) e de outras agências científicas governamentais estão impedidos de compartilhar quaisquer informações referentes às suas pesquisas ou o que quer que seja, sem que cada nota seja submetida e avaliada por uma comissão especial designada pelo presidente. Embora o foco principal seja (e isso é sério) impedir a divulgação de dados reais acerca do aquecimento global, a diretriz se estende a qualquer outra instituição governamental científica.

A Associação Americana para o Avanço da Ciência está possessa e com razão: nenhuma outra administração estabeleceu regras sobre controle do que pode e o que não pode ser veiculado livremente, a maioria das instituições em geral possuíam normas que bloqueavam qualquer interferência política, sob o risco de transformar a ciência em propaganda ideológica. Só que com a nova regra assinada por Trump é exatamente isso que irá acontecer: ele vai decidir o que pode ser veiculado às massas, e os órgãos científicos perderam completamente a autonomia sobre seus departamentos de imprensa. Basicamente a tal comissão é um censor.

Nada escapou: comunicados de imprensa, posts em blogs, Twitter, Facebook, vídeos… tudo têm que ser submetido à comissão e essa decidirá o que merece ser divulgado, e para todos os efeitos haverá uma seleção prévia. Sim, a administração Trump já adiantou que nem tudo será autorizado a ser divulgado à imprensa e à população. A publicação de artigos científicos permanece inalterada: os pesquisadores poderão submetê-los a periódicos (de preferência fechados e isso é uma discussão que já externamos aqui, aqui e aqui) e apresenta-los em conferências sem que haja autorização, mas nada além disso.

Só que os membros desses órgãos não levaram tal ataque numa boa. Uma grande quantidade de cientistas e funcionários entraram em FULL REBEL ALLIANCE MODE e começaram a criar uma penca de perfis alternativos no Twitter. A explicação é simples, enquanto os oficiais estão para todos os efeitos amordaçados, o governo não tem poder direto sobre uma conta gerida por indivíduos anônimos.

Como é muito improvável que o Twitter se coce para ir atrás dessas pessoas e derrubar as contas, a partir deste momento é mais confiável seguir tais perfis e ter informações fresquinhas a respeito do que os órgãos científicos andam fazendo do que se manter atrelado às contas oficiais e verificadas.

A saber, eis uma listinha com os principais perfis alternativos:

Em suma, o que todos esses órgãos estão fazendo “ilegitimamente” é continuar divulgando a ciência a quem deseje saber mais, pois o conhecimento não pertence a ninguém e é o bem mais precioso que podemos compartilhar. O que Trump propõe é uma mordaça (eu diria gagball mas o horário é inapropriado) a todos os cientistas dos Estados Unidos, que não poderão falar de seu trabalho com ninguém, apenas o que for devidamente sancionado será compartilhado.

Não há outro termo mais adequado a utilizar aqui como censura pura e simples, a cruzada do topetudo contra tudo que lembre aquecimento global, políticas de saúde pública (o Obamacare é o próximo a cair) e ciência séria aparentemente não está de acordo com sua agenda, e por causa disso o atual presidente fará de tudo para remover da vista de todos.

Duvida? A página sobre mudanças climáticas no site da EPA… sumiu.

É basicamente o que aconteceu (créditos: DWITT)

Claro que a população norte-americana tem sua parcela de culpa. Muita gente preferiu fazer chacota do Trump do que ir votar na Hillary e expressar sua desaprovação ao então candidato republicano. Como não o fizeram agora é tarde, foi exatamente a mesma coisa que aconteceu no Reino Unido com o Brexit. Nem de longe eu aprovo as decisões do Cenoura Man mas é fato que se o povo tivesse realmente ido às urnas, ele não seria eleito.

No mais, fica a certeza de que serão quatro (ou oito, não duvido) longos e duros anos para a ciência, mas os membros da Aliança Científica Rebelde não vão deixar que o imperador Palpatrump meta a mão naquilo que não lhe pertence. Pois todos sabem:

RES PUBLICA NON DOMINETUR!

Fonte: a internet inteira, principalmente Scientific American, The Independent, Time e The Washington Post.