No início dos anos 70 vimos o surgimento dos primeiros arcades (fliperamas como são mais conhecidos aqui), máquinas eletrônicas com games que utilizavam o que havia de mais moderno para criar gráficos até então inimagináveis, muito à frente do que os consoles domésticos podiam realizar. Como essas máquinas eram caras demais para o consumidor comum, surgiram as casas de jogos eletrônicos, lugares com várias máquinas que podiam ser jogadas através de fichas ou moedas. O que chegou até mesmo a ocasionar a falta de moedas em certo mercado estrangeiros, devido à febre pela jogatina.

As primeiras empresas a entrarem nesse ramo de arcades foram a Atari, Namco, Midway, Sega e Nintendo, gerando clássicos como Pong, Pac-Man, Donkey Kong, Space Invaders, entre outros. Porém nem só de grandes clássicos viveu essa época, muitos outros games com ideias ou mecânicas diferentes surgiram nesse período e acabaram passando despercebido do grande público, esse foi o caso de Phozon.

Insira sua ficha e vamos continuar

Lançado pela Namco em 1983, inicialmente apenas no Japão, o game utiliza conceitos de química para desafiar o jogador a formar padrões de moléculas enquanto foge de um inimigo que dispara raios alfa e beta. Contado o plot do game, vamos aproveitar o tema e explorar alguns conceitos de química. Então já se prepare e tire a poeira daquele seu caderno do ensino médio, pois hoje o tema é Phozon e as forças intermoleculares.

Em Phozon, controlamos o Chemic, um pequeno átomo que precisa se ligar às Moleks que passam e assim replicar um padrão mostrado no centro da dela. Se por acaso o Chemic se ligar a uma Molek no local incorreto, é possível expulsa-la apertando um botão. No meio disso se encontra o Atomic, um inimigo que pode destruir o Chemic apenas com um toque e ainda se dividir para cobrir mais terreno. Em compensação o Chemic pode contra-atacar ao se ligar as Power Moleks (um power-up aos moldes da estrela do Super Mario). Porém nem mesmo as Power Moleks são páreas para os raios alfa e beta liberados pelo Atomic.

Por ser um game de arcade, o game é bem difícil, incentivando que o jogador use mais moedas/fichas para conseguir mais pontos, o atrativo daquela época, em que os maiores pontos apareciam na tela da máquina junto às 3 letras inicias do nome do jogador.

Interessante que já nos anos 80, um game se utilizasse de conceitos científicos para compor seu tema, claro que de maneiras bem superficiais, porém eles estavam lá.

E, meus caros, quando falo sobre conceitos científicos, estou falando aqui das forças intermoleculares, as forças de interação entre as moléculas e átomos. Todos sabemos que uma molécula de água possui 2 hidrogênios e 1 oxigênio, e o que fazem essas moléculas/átomos ficarem juntos são as forças intermoleculares. Isso acontece porque cada molécula/átomo possui um campo magnético e esse campo faz com que haja influência em outros campos de moléculas/átomos.

Mas antes de seguimos em frente, uma breve explicação sobre átomos e moléculas. Átomo é a unidade básica da matéria que possui um núcleo central de carga elétrica positiva e que está envolto em uma nuvem de elétrons de carga elétrica negativa. Já as moléculas são os conjuntos de 2 ou mais átomos, porém tanto átomos como moléculas possuem campos eletromagnéticos. Continuando agora…

Quando duas moléculas/átomos se aproximam uns dos outros começa a surgir uma força entre eles, essa é a força intermolecular, e eles se ligam, como visto no game. Essa força pode variar de intensidade, dependendo principalmente do tipo de moléculas, polares ou apolares.

Quando dois ou mais átomos se ligam para formar uma molécula, há uma disputa entre eles para ver quem fica com mais elétrons. Se por acaso um deles for mais eletronegativo que o outro, o mais eletronegativo conseguirá manter mais elétrons próximos de si por mais tempo, isso é uma molécula polar. Já se nenhum átomo for mais eletronegativo que outro, eles dividem os elétrons existentes e se tornam uma molécula apolar. Moléculas polares formam ligações mais fortes.

Os estados físicos da matéria também estão relacionados as forças intermoleculares

No game, intencionalmente ou não, isso pode até mesmo explicar a mecânica de ejetar moléculas que não ligaram corretamente para formar o padrão na tela. As moléculas do padrão poderiam ter ligações mais fortes que as outras moléculas que se ligam fora do padrão estabelecido, com isso só podemos ejetar as que formam as ligações mais fracas.

Como já dissemos, o inimigo no game, Atomic, pode disparar raios alfa e beta. Raios alfa e beta são “tipos” de radiações que podem alterar a trajetória de elétrons, fazendo com que ligações entre moléculas sejam desfeitas. Uma boa razão para justificar o uso dos raios como ataques do Atomic, porém vale lembrar que para raios alfa e beta alterarem a trajetória de elétrons eles precisam possuir muita energia, o que não é uma coisa comum. Nesse caso, raios X e gama são melhores exemplos de radiações que afetam ligações entre moléculas, por serem altamente energéticos.

Poder de penetração dos “tipos” de radiação

Pois bem pessoal, por hoje é só. Por curiosidade recomendo jogaram Phozon, porém tem que ser visto como um produto de sua época, um game de arcade que oferecia diversão rápida e uma constante busca por pontuações maiores. De qualquer modo é um dos primeiros exemplos de integração entre games e ciência.

Por fim, já que comentamos sobre arcades, deixe aí nos comentários também se você viveu essa época e assim como eu, era “um rato de fliperama”. O tema inclusive pode gerar um texto sobre essa cultura no Brasil durante os anos 80/90. Eu era tão viciado em fliperamas que quando me tornei uma pessoa adulta, comprei um.

Sim, eu tenho um fliperama na sala de casa. Achou que eu estava brincando?

Como sempre críticas e sugestões são sempre bem-vindas. Até a próxima.

Fontes: Namco Wiki, Uol Educação e Mundo Educação

Capa: T-Newton