O meio do inverno é uma época sombria para a NASA, coincidentemente as maiores tragédias do programa espacial aconteceram todas na mesma época, entre janeiro e fevereiro. Uma época triste para os Americanos e também para o resto do mundo.

Apollo 1, pouco menos de três anos antes de Neil Armstrong e Buzz Aldrin caminharem na Lua; Challenger, uma tragédia assistida ao vivo por milhões de pessoas ao redor do mundo e Columbia, assim como a Challenger, um acidente evitável que continua assombrando a NASA.

Vamos falar um pouco mais de cada uma delas:

Apollo 1

A equipe principal da Apollo 1: Virgil "Gus" Grissom, Edward H. White e Roger Chaffee, durante treinamento na Flórida. Créditos: NASA

A equipe principal da Apollo 1, Virgil “Gus” Grissom, Edward H. White e Roger Chaffee, durante treinamento na Flórida.
Créditos: NASA

A perda da Apollo 1 aconteceu somente algumas semanas antes dos astronautas: Gus Grissom, Ed White e Roger Chaffee, irem para uma missão onde entrariam em órbita baixa da Terra, que estava previsto para 21 de fevereiro de 1967. O objetivo final era que uma série de testes fossem realizados para que em julho de 1969  uma  dupla  de  astronautas americanos pudessem finalmente colocar os pés na Lua. Porém, ao contrário do que se esperava, durante um dos testes, um incêndio aconteceu no módulo de comando resultando no sufocamento de toda a tripulação e na perda da nave.

Grissom e White já haviam ido para o espaço antes. Grissom foi um dos “Original Seven”, um grupo de astronautas que participaram do projeto “Mercury Seven” em 1959. White foi um dos astronautas da “segunda leva” da NASA recrutados para Gemini, que acabou se tornando o primeiro americano a caminhar pelo espaço. Chaffee participou da terceira seleção de astronautas da NASA para o programa lunar. A Apollo 1 foi sua primeira (e última) missão.

O Acidente

O acidente aconteceu em 27 de Janeiro de 1967, durante um teste que envolvia a Apollo 1 funcionando com energia interna. Os astronautas foram presos e selados dentro do módulo de comando. Acredita-se que uma faísca tenha sido gerada por um dos fios internos da nave e causou o incêndio que se espalhou rapidamente devido a grande concentração de oxigênio que havia dentro do módulo. Devido à atmosfera pressurizada dentro da capsula (16.7psi, 2 psi acima da pressão ambiente), era impossível abrir a escotilha rapidamente para tentar ventilar o ambiente. E mesmo que tivessem conseguido, o sistema não teria lidado com pressões tão altas, que rapidamente atingiram os 29psi.

Challenger

Os membros da tripulação STS- 51L: na fileira de trás, da esquerda para a direita: Especialista de missão Ellison Onizuka S., Professora no espaço Participante Sharon Christa McAuliffe, especialista de carga Greg Jarvis e especialista da missão Judy Resnik. Na primeira fila, da esquerda para a direita: Piloto Mike Smith, comandante Dick Scobee e o especialista da missão Ron McNair .

Os membros da tripulação STS- 51L: na fileira de trás, da esquerda para a direita: Especialista de missão Ellison Onizuka S., Professora no espaço Participante Sharon Christa McAuliffe, especialista de carga Greg Jarvis e especialista de missão Judy Resnik. Na primeira fila, da esquerda para a direita: Piloto Mike Smith, comandante Dick Scobee e o especialista de missão Ron McNair .

O Challenger foi um ônibus espacial (também conhecido como vaivém espacial) fabricado pela NASA e foi pela primeira vez ao espaço em 1983.

Em meados da década de 80, as idas e vindas pelo espaço começaram a parecer rotineiras demais para a população, que deixou de  se  interessar tanto. Com a tentativa de reacender nos jovens esse interesse pelo programa espacial, a professora Christa McAuliffe foi convidada para embarcar nesta missão como a primeira civil da hisória a participar de um Voo espacial.

Ao longo dos anos, o lema “Segurança em primeiro lugar”, motivado pelo acidente anterior da Apollo, foi perdendo importância.

Houve vários relatos dos engenheiros alertando a respeito de um defeito em uma anilha de borracha que vedava os propulsores de combustível sólido, essa anilha ficava extremamente frágil a temperaturas muito baixas (cerca de 4 graus célsius). Mas os gestores responsáveis da época não deram ouvidos aos vários avisos dados pela equipe envolvida no projeto, afinal não queriam que o lançamento atrasasse.

A presença da professora Christa McAuliffe fez com que o lançamento da Challenger tivesse mais notoriedade que o normal, afinal ela era a primeira civil indo para o espaço, com isso várias pessoas ao redor do mundo e principalmente americanos acompanharam ao vivo o lançamento transmitido pela NASA TV.

Apesar das temperaturas baixíssimas daquela manhã, o lançamento seguiu em frente.

O Acidente

Em 28 de Janeiro de 1986, estavam a bordo os tripulantes: Ellison S. Onizuka, Sharon Christa McAuliffe, Greg Jarvis, Judy Resnik, Mike Smith, Dick Scobee e Ron McNair. Seria a oitava missão do Ônibus Espacial.

73 segundos após o lançamento o Challenger estava  caído  no  oceano atlântico. Conforme previsto, uma dessas anilhas de vedação falhou e causou um incêndio repentino no tanque externo de combustível, a anilha se endureceu com a baixa temperatura e não ficou flexível o suficiente.

Um fato curioso é que a tripulação provavelmente sobreviveu à explosão inicial e se houvesse algum sistema de ejeção ou paraquedas, as vidas deles poderiam ter sido poupadas. Ao que tudo indica, eles provavelmente morreram devido ao impacto enorme da queda direto no oceano, ou antes, mas sobreviveram a explosão com os paraquedas. Os corpos foram encontrados 10 semanas após o acidente, quase irreconhecíveis.

Isso foi um grande choque para o país. Devido às críticas a respeito de suas políticas internas, a NASA suspendeu o programa por quase 3 anos, retornando apenas em setembro de 1988.

Columbia

A tripulação do STS -107: Sentados na frente são os astronautas Rick D. Husband (à esquerda), comandante da missão; Kalpana Chawla, especialista de missão; e William C. McCool, piloto. Em pé são: ( da esquerda) os astronautas David M. Brown, Laurel B. Clark e Michael P. Anderson, todos s especialistas de missão; e Ilan Ramon, especialista de carga que representa a Agência Espacial Israelense.

A tripulação do STS -107: Sentados na frente são os astronautas Rick D. Husband (à esquerda), comandante da missão; Kalpana Chawla, especialista de missão; e William C. McCool, piloto. Em pé são: ( à esquerda) os astronautas David M. Brown, Laurel B. Clark e Michael P. Anderson, todos s especialistas de missão; e Ilan Ramon, especialista de carga que representa a Agência Espacial Israelense.

Aparentemente a perda de sete astronautas ao vivo na TV não foi suficiente para abalar a NASA ao ponto de ter mais cuidado com suas políticas internas de segurança, infelizmente 17 anos depois do desastre com a Challenger, muito pouca coisa havia mudado.

Quando o Columbia foi lançado em 12 de Abril de 1981, a previsão era que os primeiros modelos de ônibus espaciais fariam até 100 voos e haveria uma média de 24 lançamentos por ano. Ao invés disso, 27 anos depois, foram lançados apenas 124 voos sendo 2 grandes desastres com a morte de duas tripulações. O recorde de lançamentos foi de apenas 9, em 1985.

Estavam a bordo os tripulantes: Rick D. Husband, Kalpana Chawla, William C. McCool, David M. Brown, Laurel B. Clark, Michael P. Anderson e Ilan Ramon.

No dia 16 de janeiro de 2003, durante a decolagem, um pedaço de espuma de isolamento térmico do tanque de combustível se soltou e  acabou  danificando a proteção de cerâmica da asa esquerda da Columbia. Essa não foi a primeira vez que a NASA havia observado um “derramamento de espuma” durante os lançamentos. Na verdade, uma dessas espumas arranhou a estrutura da nave em pelo menos 6 ocasiões anteriores e foram consideradas muito menos preocupantes do que realmente eram.

O lado esquerdo danificado não estava mais protegido das temperaturas altíssimas para as quais havia sido construído para suportar.

O lançamento e a missão continuaram normalmente.

O Acidente

Duas semanas depois, no dia 01 de fevereiro de 2003, durante a reentrada em nossa atmosfera, o Columbia desapareceu dos radares quando sobrevoava em grande altitude (cerca de 200 mil pés) o estado do Texas, EUA.

Aquele pedaço de espuma que tinha danificado a proteção térmica foi o causador do acidente que fez a nave se desintegrar enquanto entrava. O calor da reentrada foi aumentando a fissura que destruiu a asa esquerda e consequentemente o ônibus. Alguns minutos após ela ter desaparecido do radar, foram observados vários pontos brilhantes no céu, que eram os destroços da nave se espalhando.

E essa foi a gota d’água para que o presidente da época (George W. Bush) desse um fim ao programa de ônibus espaciais e a NASA começou a reformular todo o seu programa espacial.

Apesar de todos os imprevistos, o programa de exploração espacial tem trazido vários avanços para a sociedade e para a ciência como um todo, e grande parte disso foi graças a esses heróis e heroínas.

Quer conhecer mais sobre a NASA e os programas espaciais? Ouça o Scicast #80: NASA 100 Anos!

 

Fontes: NASABlastingNews, Arstechnica