Pois bem, chegou o dia: Batman vs Superman: A Origem da Justiça já está nos cinemas e nós fomos conferir. Sente-se, escolha um lado e divirta-se.

Ah, desta vez não haverá spoilers, pode ler sem medo.

Desde o fim da trilogia do Batman do Christopher Nolan, as pessoas se perguntavam para que lado a Warner iria com o morcego. A decisão de jogá-lo também na mão de Zack Snyder, como forma de construir os alicerces para a criação da Liga da Justiça em um próximo filme, foi a mais lógica, porém nem todo mundo gostou da ideia. Snyder é conhecido por exagerar ao máximo nas tomadas de câmera lenta e na criação de tomadas dramáticas forçadas, mesmo quando não há nada acontecendo.

Em 300 isso funcionou. Em Wacthmen, sua insistência em tirar as coisas do subentendido e explicar tudo tirou um pouco da magia da película e o faz não chegar nem perto dos quadrinhos de Alan Moore. Sucker Punch é um caso à parte, uma coletânea de videoclips em que o foco é o visual e nada mais.

Aí tivemos O Homem de Aço. Snyder novamente escancarou todas as metáforas e jogava na cara do espectador o tempo todo que o Superman é o messias moderno, algo que todo mundo que leu os quadrinhos sabe desde sempre, que o azulão é uma alegoria de Jesus Cristo. O filme no entanto é bom, pela primeira vez foi possível medir a extensão dos poderes do escoteiro quando levado ao limite. E a reclamação de muita gente sobre ele matar Zod como último recurso é justificável, até porque nas HQ o Superman já matou:

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Pois bem, Batman vs Superman. Todos esperavam que o filme trouxesse uma boa dose de ação, em se tratando de Snyder, mas ainda manteria alguns elementos sombrios como o diretor gosta. Considerando a presença do Batman isso era até esperado, mas na minha opinião ele exagerou.

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Ben Aflleck está muito bem como Batman, tanto que não é exagero dizer que ele é o melhor ator a vestir o capuz até o momento. Sua versão de um Bruce Wayne velho e cansado (reflexos d’O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller) que se tornou mais brutal com o tempo é muito boa. Henry Cavill também está à vontade como Clark Kent/Superman e de uma forma geral, todo o elenco trabalha bem.

O problema do filme é a narrativa. Chris Terrio, roteirista de Argo, sofreu para conter os impulsos de Snyder e conseguiu traçar uma história tensa, deixando as motivações de todos os personagens bem claras para justificarem seus atos. Wayne não admite a existência de um ser quase divino agindo como anjo da guarda da humanidade, na possibilidade deste se virar contra o mundo que o acolheu. E no filme ele já combate o crime há 20 anos como o Cruzado de Capa, é testemunha de que o mundo está mudando e não gosta nada disso.

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Já o Superman se questiona se ele está fazendo demais e interferindo nos rumos da humanidade. Uma de suas ações no início do filme têm consequências (que são explicadas) e isso volta a opinião pública sobre a necessidade de contarem com uma babá superpoderosa. Ele quer ajudar a todos, mas não sabe se seus atos são vistos como bons por todos.

Paralelamente ele vê Batman como uma ameaça, e não só ele faz uma ameaça direta ao morcego para pendurar o capuz como tenta usar sua posição no Planeta Diário para desmoralizar o vigilante de Gotham.

Nesse ponto entra a mão de Snyder. O Superman de Cavill é bem menos pio que nas HQs e em filmes anteriores, embora ainda procure sempre fazer o bem ele se preocupa com outros fatores ao mesmo tempo, como Lois Lane. E como se não bastasse, quando ocorre uma das maiores hagadas do filme, Kent se culpa por não ter feito o bastante. Já o Batman de Affleck é extremamente cruel, num nível que nunca se viu: há um fato incômodo que chega a contradizer toda a filosofia do personagem, algo que os fãs do morcego não perdoarão nunca.

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Tudo em Batman vs Superman porém gira em torno de uma figura: Lex Luthor. A versão de Jesse Eisenberg (A Rede Social) para o arqui-inimigo do Superman é o melhor personagem do filme. Ele é o titereiro e todos os demais, incluindo o Batman são seus fantoches. Suas motivações são bem claras, uma mescla de necessidade de se provar superior ao alienígena e de se mostrar como protetor da humanidade.

Todos os eventos se desenrolam conforme seus planos, embora leve muito tempo para isso: a pancadaria entre os protagonistas só come solta nos 30-40 minutos finais da película de 2 horas e meia, mas foi muito bem construída. Apesar de se encerrar por um motivo um tanto besta, a união entre os dois contra a ameaça final do filme é muito boa.

Só que faltava um elemento:

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Ao contrário do que os haters diziam, Gal Gadot é a Mulher-Maravilha. A atriz não só soube construir uma personagem enigmática (ela aparece diversas vezes no filme e dá uma bela rasteira em Bruce Wayne), como sua introdução pronta para a luta arrancou urros da plateia.

Ela é a mais determinada dos três, parte para cima do Apocalipse sem a menor hesitação (ela é uma guerreira afinal) e consegue com uma naturalidade impressionante ser a liga que faltava entre o Superman e o Batman.

Sua grande cena é curta, mas valorosa. Quem sempre quis ver a Trindade em ação no cinema sairá da sala em êxtase. E Gadot prova que não é preciso ter físico de lutadora de MMA para manejar espada e escudo com maestria. E ela é uma semideusa, músculos para quê?

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Ah sim, como isso aqui é DC e não Marvel, não há cena pós-créditos. Entretanto há easters eggs espalhados aqui e ali, procurem a vontade. Sem falar nas pontas soltas.

Resumindo, Batman vs Superman demora para entregar o que prometeu, mas quando chega a hora, não decepciona. Quem quer ver apenas a pancadaria pode achar o filme chato e lento, mas quem deseja absorver mais, gostará.

Nota: quatro de cinco Robins.

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O Deviante assistiu à cabine de imprensa de Batman vs Superman: A Origem da Justiça a convite da Warner.