Em janeiro eu falei sobre carros elétricos e prometi continuar falando sobre algumas coisinhas relacionadas ao assunto. Pois então, hoje vamos discutir um pouco mais sobre o que é energia limpa e sua relevância não só para abastecimento dos veículos elétricos, mas como ferramenta que está sendo muito usada para o combate ao efeito estufa no mundo todo.

Repetindo o que eu já disse no texto anterior e também o que a Gabriela explicou em um texto muito bacaninha no ano passado, energias limpas são aquelas renováveis, que não causam impactos em nível global, alterando apenas a paisagem onde suas usinas são implementadas.

Como exemplo desse tipo de energia temos a solar, a hidrelétrica, a geotérmica, a eólica, a maremotriz, a nuclear e os biocombustíveis. Sim, você leu direito, biocombustíveis, esses caras que liberam CO2 em sua combustão. Sabe por que eles são considerados fontes de energia limpa? Simples. Para sua produção, são cultivados vegetais (seja cana-de-açúcar e milho para produção de etanol ou mamona, soja e algodão para produção de biodiesel) que absorvem CO2 do ar, não alterando, então, o balanço de carbono na atmosfera.

Tipos de energia limpa: 1) Hidrelétrica (energia da força das águas); 2) Maremotriz (energia das marés); 3) Solar (energia do calor do Sol); 4) Geotérmica (energia do calor da Terra); 5) Nuclear (energia atômica); 6) Eólica (energia da força dos ventos)

Ok, então temos matrizes energéticas diversificadas. Coisa boa, né? Por que é que não usamos tudo isso aí, então? Por diversas razões: custo, eficiência, perigo (acho que não preciso dizer que me refiro a energia nuclear, né?), condições ambientais desfavoráveis, entre outras (como lobby de empresas petrolíferas).

Alguns países ao redor do mundo fazem muito bom uso de seus recursos, gerando boa parte de sua energia (alguns até totalmente) a partir de fontes renováveis. Na Islândia, por exemplo, 85% da energia tem origem geotérmica e o restante é gerado por hidrelétricas. E muitos outros países estão com metas de reduzir a emissão de gases de efeito estufa e, para isso, oferecem subsídios aos seus cidadãos. É o caso da Alemanha, que oferece incentivo para a instalação de painéis solares residenciais com a venda da energia excedente, sendo esse incentivo pago por quem não usa energia limpa através de uma sobretaxa na conta de luz.

Aliás, se tem um país empenhado nessa história de energias renováveis, esse país é a Alemanha. Com seu Energywende (mega projeto de transição energética), o país pretende, até 2050, depender apenas de energias limpas. E uma coisa legal: várias exposições estão levando as ideias colocadas em prática lá na Alemanha para outros países e mostrando como o país conseguiu se tornar o maior produtor de energia solar do mundo, aumentando sua geração em 300 vezes em menos de duas décadas. Lá o negócio está dando tão certo que em dias com condições ambientais favoráveis (bastante sol e bastante vento, por exemplo), é possível suprir quase toda demanda por energia elétrica com fontes renováveis. Já houve até um dia, em maio de 2016, em o preço da energia chegou a ficar negativo.

Exposições da Energywende em TelAviv (Israel) e Santiago (Chile). Fonte: http://www.energiewende-global.com/en/

Mas é claro, que, como tudo na vida, não temos apenas flores, né? A Alemanha ainda mantém termoelétricas e o motivo vai te surpreender! Mentira, é bem óbvio. Como eu acabei de dizer, algumas matrizes dependem de condições ambientais favoráveis. Então, em momentos desfavoráveis, quem vai suprir a demanda é o bom e velho carvão mineral mesmo.

E é nesse momento que eu posso falar de algo muito importante quando o assunto é energia limpa: a diversificação de matrizes energéticas. Vamos pensar juntos. Você acha uma boa ideia um país inteiro depender só de um ou dois tipos de energia? Em um país tão grande como o Brasil, será que podemos instalar usinas de energia eólica em todas as regiões? E será que dá para construirmos hidrelétricas em qualquer lugar? É obvio que não. Explorar os recursos disponíveis de acordo com a região é a melhor alternativa e, nesse quesito (provavelmente não só nesse, mas isso não vem ao caso), temos muito que aprender com a Escócia. Nos últimos anos, o país construiu a maior usina de energia de marés do mundo e inaugurou recentemente a primeira usina eólica flutuante. Incrível o que podemos fazer aliando tecnologia e recursos naturais, não é mesmo?

E a parte mais interessante é que em boa parte do mundo estamos vendo esforços nesse sentido. A Noruega tem geração de energia a partir de fontes renováveis diversas, e até mesmo o Brasil anda dando boas notícias: segundo o Global Wind Statistic 2017, documento anual com dados de energia eólica do mundo todo produzido pelo Global Wind Energy Council (GWEC), o nosso país é o oitavo no ranking mundial de energia eólica. E essa matriz é responsável por 8,3% da energia produzida no país, com participação muito expressiva na energia consumida na região Nordeste, que é a maior produtora desse tipo de energia por aqui.

Então, concluindo, estamos aliando pesquisa e desenvolvimento para aprimorar o uso de recursos naturais e isso é excelente. Se conseguirmos seguir nesse caminho e, ainda mais, aliá-lo ao reaproveitamento dos resíduos que geramos, quem sabe podemos chegar mais perto de um mundo (pelo menos um pouquinho) menos poluidor.