Em época de coronavírus a célula de defesa certa para o serviço pode fazer toda a diferença ou pode acarretar os sintomas mais graves. Nesse caso, em que há uma disseminação de uma infecção viral, o tratamento medicamentoso não é tão efetivo e uma vacina ainda está longe de ser concebida. Logo, a medicação consiste em tratar os sintomas, como febre, dores ou, nesse caso, problemas respiratórios.

Desse modo, cada vez mais precisamos entender e torcer para que nosso sistema imunológico de conta desse vírus de forma precisa e rápida.

Não é meu primeiro texto sobre como as nossas células de defesa e seus mecanismos são fundamentais para que conseguimos combater doenças.

Nesse caso, vou fazer algo um pouco diferente, irei analisar um trabalho inicial liberado dia 16 de março de 2020 sobre um caso de uma mulher com o coronavírus (COVID-19), tendo os sintomas leves a moderados e seus aspectos imunológicos, e outro trabalho em que analisou-se o sistema imunológico de pacientes com os sintomas mais graves da doença.

CÉLULAS DE DEFESA EM CASO MODERADO

Bom, nesse primeiro artigo uma mulher de 47 anos, de Wuhan viajou para Austrália 11 dias antes de apresentar algum sintoma. Ela foi até a assistência médica de Melbourne. Seus sintomas começaram 4 dias antes de se apresentar ao médico, seus sintomas incluíam letargia, dor de garganta, tosse seca, dor no peito, dificuldade de respirar e febre. Além disso, ela não entrou em contato com ninguém do comércio de frutos do mar de Wuhan e nem com pessoas com caso de COVID-19.

De fato, o vírus foi detectado na parte mais alta das vias aéreas (nasofaringe), essa identificação foi por intermédio de uma técnica chamada PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), que, basicamente, faz a multiplicação do material genético do vírus de forma a torna-lo detectável e possível visualizar, para que se possa confirmar o caso.

Ela ficou em isolamento no dia 11 e seus sintomas foram resolvidos no décimo terceiro dia. A paciente permaneceu bem até o dia 20, além de ter um aumento significativo de anticorpos específicos para o vírus entre o dia 7 e o dia 20 da infecção.

Nessa situação, portanto, foi um caso leve a moderado da infecção e o sistema imunológico da paciente conseguiu se sobressair e combater o vírus.

Mas, o que difere uma resolução completa, sem nenhum sintoma grave de um caso que pode levar à morte do indivíduo?

Um dos fatores principais para a resolução é o sistema imunológico, neste trabalho observou-se que ocorre um aumento de algumas células específicas.

Assim, uma dessas células foi a produtora de anticorpos (plasmócitos) e produziu dois tipos específicos de anticorpos chamados de imunoglobulina M e imunoglobulina G (IgM e IgG, respectivamente).

Esses anticorpos têm uma função primordial para o combate a infecções virais: eles conseguem se ligar ao vírus e neutralizá-los. Assim esse microrganismo não terá como infectar a célula seguinte, diminuindo a destruição celular causada por ele. Além disso, outras células se fizeram presente, tal como os linfócitos conhecidos como T helper e T citotóxico (CD4+ e CD8+, respectivamente), as quais têm uma função primordial para o combate viral.

Vou deixar dois textos sobre o sistema imunológico que já escrevi, um falando sobre imunoterapias e outro falando de como nosso sistema de defesa nos tolera, os quais abordo um pouco sobre as funções dessas células.

Se nesse caso a paciente se recuperou, aparentemente sem sequelas respiratórias, como será a resposta imunológica de casos em que os sintomas foram mais graves?

SISTEMA IMUNOLÓGICO EM CASOS MAIS GRAVE

Em outro artigo, publicado 12 de março de 2020, foram analisados 452 pacientes com COVID-19 entre 10 de janeiro e 12 de fevereiro de 2020. Desses, 286 apresentaram uma infecção mais severa. Ou seja, tiveram problemas respiratórios graves, uma oxigenação menor que 93%, dentre outras características. A média de idade foi de 58 anos, além da maioria dos pacientes apresentar hipertensão e doenças cardiovasculares pré-existentes.

Os sintomas mais comuns apresentados foram febre, respiração curta, expectoração, fadiga, tosse seca e mialgia (dor muscular).

Nos casos mais graves os linfócitos ficaram em menor quantidade, caracterizando uma linfopenia, diferente do que ocorreu no caso anterior. Lembrando que os linfócitos T, principalmente o T helper (CD4+) tem uma função essencial para mediar todo o sistema imune, e sem ele não conseguimos nos defender de nenhum microrganismo. Ademais, uma célula que aumentou nesses casos foi o chamado neutrófilo, que é bastante utilizado pelo nosso organismo para combater bactérias e não vírus, além de fazer um “estrago” tecidual maior para o combate bacteriano.

Nesses casos imagine o seguinte, é como se nosso corpo, para eliminar a infecção viral, enviasse uma tropa especial, porém com as armas erradas, em vez de utilizarem uma sniper, tendo uma maior precisão, utilizaram lança-foguetes. Desse modo, o alvo pode até ser eliminado, porém há uma destruição dos arredores, que no caso do paciente é o pulmão. Por consequência, há uma inflamação exacerbada no local (liberação de citocinas inflamatórias) e desse modo os casos ficam mais graves, levando até a morte do paciente.

Por fim, concluiu-se que há uma disfunção do sistema imunológico, principalmente sob os linfócitos T, os quais tem um papel importante para que a doença não se agrave.

COMO PODEMOS AJUDAR NOSSO SISTEMA IMUNOLÓGICO

Como não temos nenhuma arma eficaz e específica para o vírus, como seria o caso de uma vacina, são usados medicamentos para aliviar os sinais e sintomas, como para diminuir a febre, ou em caso mais graves, com problemas respiratórios, tem-se o uso de respiradores automáticos, os quais estão presentes em UTIs.

Mas imagine o seguinte, se uma pessoa adquire a doença, apresenta sintomas leves a moderados, consegue combater o vírus e a produzir anticorpos, esse indivíduo, teoricamente, ficaria imune ao vírus.

Agora, se retirarmos o sangue dele e separarmos os anticorpos, os quais ficam presentes no soro, e injetarmos em alguém com a doença, também, teoricamente, essa pessoa terá uma arma mais específica para combater a infecção.

Essa ideia já foi usada para auxiliar no combate de outras infecções, como o caso do H1N1 e ebola.

Um artigo publicado em 2020 pela revista “The Journal of Clinical Investigation” resumiu esse método em uma imagem.

 

 

Nessa imagem evidenciamos que pacientes que tiveram uma recuperação ao COVID-19 podem ter seus anticorpos separados (nesse caso são anticorpos específicos) que podem ser injetados em duas situações, como profilaxia ou como método terapêutico.

Nessa primeira, seria para prevenir o indivíduo de adquirir a doença, principalmente o grupo de risco, como pessoas maiores de 60 anos, com hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares pregressas, além do corpo de saúde, que trabalha na linha de frente de combate da doença. Essa defesa, por sua vez, pode durar algumas semanas apenas.

Agora, ao utilizar o tratamento de forma terapêutica, serviria para mitigar os sintomas e diminuir a mortalidade dos pacientes. Porém, sem um estudo aprofundado, não se sabe o quanto esse tipo de tratamento poderia ajudar. Contudo, caso feito, deve ser iniciado o quanto antes, quando os primeiros sinais e sintomas aparecerem.

Mas, nem tudo são flores, sempre há riscos para qualquer tipo de procedimento. Um desses é que, ao se transfundir uma parte do sangue de um paciente para outro, outros microrganismos podem ser transfundidos junto ou o receptor pode desencadear alguma reação ao soro do doador. Entretanto, sempre há como diminuir os riscos de erros, como o artigo aponta.

Posso concluir, portanto, que precisamos estar como nosso sistema imunológico em dia. Caso não seja possível, o ideal é evitar o contato com outras pessoas, até que uma vacina eficaz seja disponibilizada.

 

 

 

REFERÊNCIAS:

 

Thevarajan, I., et al. Breadth of concomitante immune responses prior to patient recovery: a case reporto f non-severe COVID-19. NATURE correspondence. 2020.

Qin, C., et al. Dysregulation of immune response in patients with COVID-19 in Wuhan, China. Clinical Infections Diseases. 2020.

Casadevall, A. & Pirofski, L. The convalescente sera option for containing COVID-19. The Journal of Clinical investigation. 2020.

 

Nota da Editora:

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