Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia. das Letras. Livro de hoje: “Enreduana”, publicado pelo selo Companhia das Letrinhas, escrito por Roger Mello e ilustrado por Mariana Massarani.

No livro, conhecemos parte da história de Enreduana (ou Enheduana), a mais antiga escritora de que se tem registro. Ela foi poetisa e alta sacerdotisa do Império da Acádia, vivendo por volta de 2.300 a.C. na Suméria, mais precisamente nos templos do zigurate da cidade de Ur. Era filha do Rei Sargão, que fundou o império acadiando ao conquistar sob seu domínio as cidades-estados da Mesopotâmia (mais detalhes sobre esse período histórico no longínquo Scicast #37 Mesopotâmia).

O livro se centra no episódio em que Enreduana é expulsa de Ur por seu irmão, Rimush, trazendo também algumas lembranças anteriores, como o casamento dela com a deusa Inana, “a festa mais bonita de tida Ur”, e jogo de tabuleiro “com bichos e pessoinhas cravadas em jade” que Enreduana costumava jogar com Rimush.

O livro tem narrativa poética e alterna cores de terra com cores vibrantes.

A narrativa escrita por Roger Mello tem tom poético e características de fábula, tanto que quem nos conta essa história é um grão de areia, o “menor grão do mundo”, que se aproxima de Enreduana e Rimush ao pegar carona nas escamas de uma cobra pelo deserto. Ao acompanhar a história de Enreduana, acompanhamos também a trajetória do pequeno grão narrador, desde o deserto até o seu destino final eterno.

A arte do livro consegue alternar perfeitamente entre tons de terra de marrom e cinza, das argilas e areias, e tons vibrantes de laranja e rosa, reproduzindo a alegria, a beleza e a erudição de Enreduana, sobressalentes em meio à aridez infértil do deserto. Além das imagens desenhadas à mão, o livro também é ilustrado com desenhos na areia e esculturas de argila.

Ilustração do livro feita na areia

Ilustração do livro com escultura de argilas

O livro ainda é uma homenagem à forma mais antiga de escrita conhecida e às primeiras formas de poesia registrada, relatando de forma sublime o ofício dos escribas e a escrita cuneiforme, com suas canetas de junco e tabuletas de argila, criada pelos sumérios há alguns séculos antes, e agora sendo utilizada por Enreduana para eternizar suas poesias, orações, hinos e encantamentos.

Enreduana é daqueles livros que servem para todas as idades: além dos já citados fatores para amantes de poesia e história, o teor de fábula e as ilustrações lúdicas ainda permitem a leitura e a apreciação pelas crianças. Fica aqui então mais uma recomendação com a cara do Portal Deviante: interdisciplinar, histórico, divertido e sensível!