(conto anterior)

Quase dez dias tinham passado desde o desafio de Hamza. Luan muito apreensivo caminhava ao lado do pai em direção ao local do duelo, que ficava próximo ao centro da cidade. Ele pensava na mãe que foi à cidade costeira de San Sartori ajudar duas antigas amigas sacerdotisas. Olivia tinha saído de casa há quase um mês, depois de muita insistência de Hamza, que dizia que ela não poderia negar o pedido de ajuda de amigas de tão longa data. Luan enviou um emissário desde a tentativa de prisão do pai, mas sabia que a mãe nunca retornaria a tempo. Enquanto isso, discutia com Hamza tentando o convencer a parar com aquilo, mas a resposta era sempre a mesma.

-Eu sei o que estou fazendo. Foi a única forma que encontrei para resolver isso – respondia Hamza com muita tranquilidade.

Quando chegaram, Augustus, bem irritado, estava ao lado dos membros mais próximos dos esclarecidos e olhava atravessado para Diego. Este era aconselhado pelos anciãos, alguns poucos. A maioria queria o fim de Hamza, mas não ousava apoiar claramente Diego, ainda assim alguns foram conversar com ele. Os primeiros tentaram convencê-lo a parar com aquilo, perceberam que não seriam escutados e foram embora. Diego não escutava ninguém, olhava fixamente para o pai desde o momento que Hamza chegara ali.

Aníbal chegou com alguns anciãos, tentou convencer os dois a parar com aquilo. Nenhum deles o escutou. Então disse que apenas observaria tristemente aquela tragédia, logo, saiu do centro do local e aguardou.

Agora, pai e filho estavam um a frente do outro. Diego estava completamente em êxtase, o suor escorria pelo rosto, as pupilas dilatadas denunciavam o momento de euforia. Hamza estava completamente tranquilo, sorriu para o filho e disse:

-Você vai acabar com essa farsa? – perguntou Hamza com tom de deboche.

-Cale-se, pai! Insiste com isso? Não tem mais volta, entendeu? – gritou Diego irritado.

-Então eu acabo com isso! – desafiou Hamza com voz autoritária.

A provocação surtiu efeito. Diego ficou tão irritado que atacou o pai com uma bola de luz alaranjada. Hamza desviou com facilidade, Diego esperou um contra golpe, mas seu pai ficou parado onde estava. Tal atitude irritou Diego ainda mais, que continuou repetindo o mesmo ataque caminhando em direção a Hamza, que continuava fazendo o mesmo. Diego ficou a menos de um metro de Hamza, sorriu e realizou uma explosão de energia que cobriu seu pai. O ataque foi tão forte que fez Hamza desaparecer diante da energia. Os anciãos mais velhos balançaram a cabeça negativamente.

Quando o ataque de Diego cedeu, era possível ver que Hamza tinha bifurcado a energia. Velho sacerdote nunca fora atingido. Deu dois passes para frente. Isso assustou Diego, que escapou usando um ataque cinético, a medida improvisada acabou machucando ambos. Pior para Hamza, que era um senhor de idade.

-Muita maquinação, muita traição, pouco treino, pouca dedicação. Este é o resultado: nada – criticou Hamza limpando um pouco de sangue que escorreu pelo canto da boca e deixando Diego ainda mais furioso.

-Veremos, velho. Cansei de brincar com você. Agora vamos fazer de forma séria! – desafiou Diego, fazendo surgir em volta dele uma aura sombria.

Os irmãos ficaram perplexos com o que viram, uma parte dos anciãos começou a sair apressadamente do local por vergonha. Alguns fugiram rapidamente com bastante medo. Augustus dispensou metade da guarda que estava ali, estava se preparando para um ataque rápido quando falou para Luan:

-Parece que nosso pai estava certo, outra vez – Augustus estava surpreso, pois não tinha acreditado na história do Lich.

-Pare, Augustus! Eu lido com ele! – ordenou Hamza ao filho mais velho.

Augustus mandou os guardas se afastarem e observou os dois, temendo pelo pior. Luan deu vários passos em direção aos duelistas, mas foi segurado por Augustus pelo pulso que pediu para respeitar a vontade do pai deles.

-Veremos, agora! – disse Diego.

Do seu braço esquerdo surgiu uma espécie de tentáculo de energia que se enrolou no pulso de Hamza, mas o antigo paladino fez uma energia piscar e o tentáculo se dissolveu.

Diego estava completamente em fúria. Isso o deixou extremamente vulnerável. Atacava incansavelmente com rajadas de energia sombria cada vez mais fracas e fáceis de ser defendidas por Hamza, que caminhava calmamente em direção ao filho.

-Bem, Diego. Eu peço desculpas se estiver me ouvindo. Só achei uma solução. Eu sempre amei todos vocês! – disse olhando diretamente para o filho quando chegou bem próximo.

Diego retirou de dentro do manto uma adaga de lâmina escura com aura roxa e tentou atacar Hamza, porém o velho paladino o desarmou acertando no pulso. Então abraçou o filho e começou a falar no ouvido dele. Diego tentou se soltar, mas seus olhos começaram a brilhar, o corpo de Hamza começou a brilhar tão intensamente que ofuscou a todos ali.

O brilho intenso durou por alguns segundos. Somente Diego, Hamza e Luan foram capazes de escutar o grito de agonia do velho inimigo. Quando a luz sumiu, todos que estavam próximos conseguiram ver. Diego em lágrimas segurando o corpo do pai sem vida.

Boa parte do ciclo interno se apressou para ir embora enquanto Augustus e Luan correram na direção deles.

Augustus tentou tirar Hamza dos braços de Diego, mas viu o rosto do irmão, a expressão era outra como se realmente algo tivesse mudado ele. Diego pedia perdão aos irmãos e ao pai, dizia que não teve forças para enfrentar a influência maligna cada vez mais forte.

Por dois dias, a cidade se despediu de seu grande herói. Várias pessoas ajudadas por Hamza apareceram de vilas próximas para se despedir. A cidade foi enfeitada por rosas brancas e amarelas. Olivia chegou no final do segundo dia para dar o último adeus a seu amado marido. Forças e lágrimas não faltaram quando viu o corpo de Hamza. Ainda mais lágrimas quando viu Diego, o último grande ato de Hamza foi salvar o próprio filho.

Depois houve um cortejo pela cidade recheado de nobres, representantes da realeza, membros da ordem. Jovens membros e várias crianças jogavam pétalas brancas até o caminho do cemitério. Foi enterrado com presença de seus filhos e de Olivia no maior mausoléu da cidade, construído rapidamente por membros da ordem e dos esclarecidos. Esse foi o fim da saga de um dos maiores heróis do reino de Dreen.

(Próximo conto)

Agradecimentos ao grande revisor e amigo, Adriano Schramm.

Gostou? Compartilhe nas redes!!