A exposição “Diálogo no Escuro” traz uma proposta diferente. Composta por diversos ambientes sem nenhuma fonte de luz, preparados para estimular seus sentidos e dar um descanso aos olhos. Os guias são deficientes visuais e te levam com toda segurança para se aventurar num espaço invisível.

Idealizada na Alemanha há 25 anos, a mostra itinerante já teve mais de 8 milhões de visitantes em todo o mundo, passando por 40 países até agora.

Ela tem como objetivo sensibilizar os visitantes para a deficiência e diversidade, promovendo a coexistência e cooperação entre as pessoas, independentemente das dificuldades ou diferenças, além de abrir a mente para uma outra realidade.

Aqui, conto um pouco de como foi minha experiência.

Na entrada, deixamos tudo para trás: bolsas, mochilas e, principalmente, qualquer coisa que emita luz – nada de celular! A experiência promete ser imersiva. Recebemos nossas bengalas, e tivemos uma rápida instrução de como manejá-las (não bater nos amiguinhos).

Guia e visitantes com bengalas, na entrada

Guia e visitantes com bengalas, na entrada

Entramos por um corredor escuro (“Mantenham a mão na parede!”), e logo na primeira curva já nos despedimos da luz. Adeus. Lá se vai a segurança. Os passos viram passos de formiga. O medo de tropeçar, de não saber onde estou indo, ou quem está ao meu lado. Os olhos logo se arregalam, alertas, abertos ao máximo, tentando captar qualquer vestígio de luz, mesmo sabendo que não há nenhum. Depois de um tempo, me conformo. Me concentro, relaxo os olhos. Foco a atenção nos outros sentidos. Sinto o ar ao meu redor, bato com a bengala na curva da parede, e continuo, um pouco melhor, mas ainda bem devagar.

escuro

Dentro…

Após algumas curvas, encontramos nosso guia. Quer dizer, ouvimos sua voz, vindo de um ponto à frente. Ed, ele se apresenta, e começa a nos explicar como será o passeio.

“Mamãe, estou com medo! Não quero ir! Vamos voltar!”. Uma das visitantes, uma menina pequena, exclamou. Após a mãe e os guias tentarem convencê-la de que estava tudo bem, sem sucesso, ela solta um choroso “Desculpa, moço” (achei fofo), enquanto vai com a mãe de volta para a luz.

Forçados a andar no escuro em ambientes desconhecidos, percebemos o quanto nós dependemos da visão. Não só no sentido de necessidade, mas também de vício. Quantas vezes não andamos pela nossa casa, que conhecemos de cor e salteado, mas vamos acendendo as luzes por onde passamos, mesmo que seja apenas entre o banheiro e o quarto? Estamos tão acostumados a ver tudo, que muitas vezes não prestamos atenção às informações que podemos ter a partir dos outros sentidos. Ao final do tour, batemos um papo com o guia. Quando estamos começando a nos acostumar, acaba.

Foi uma experiência bem diferente e reflexiva, além de divertida. Confira você também:

Em São Paulo (até Julho), no espaço Unibes Cultural. Ingressos no site.

No Rio de Janeiro (até Outubro), no Museu Histórico Nacional. Ingressos no site.

Ah, e você pode até tentar dar uma de Demolidor, mas provavelmente não vai dar certo.

Diabo Danado

Ei! Aonde você foi?