Em meio a segunda guerra mundial em 1941, os estúdios Disney lançaram o filme que os salvou da falência depois do prejuízo que Fantasia dera um ano antes. Talvez seja esse o principal motivo de Dumbo ser supostamente o filme favorito do patriarca da empresa, Walt Disney. Por se situar em um período conturbado, Dumbo foi uma produção de baixo orçamento. Para ter uma base, outras obras custaram o dobro (Branca de Neve e os sete anões) e até mesmo o triplo (Pinóquio) na mesma época o que refletiu por exemplo na duração do longa, até hoje o filme mais curto do estúdio com 64 minutos.

Isso não impediu essa obra de se tornar um clássico. Cenas desde o nascimento do elefantinho até seu primeiro vôo fazem parte do imaginário popular. A história com uma mensagem agradável, personagens divertidos, trilha sonora cativante e uma boa dose de magia Disney foi sucesso de crítica. O sucesso foi tão grande que o filme foi relançado diversas vezes nos cinemas.

Parece que tudo isso conta a favor da empresa explorar a marca cada vez mais, lançar sequências e, como é o caso aqui, uma versão live-action. Bom, se fosse esse o filme lançado em 1941, dificilmente a Disney seria a empresa que é hoje, provavelmente teria falido antes do final da guerra. Tudo o que faz do original o filme maravilhoso que é, foi esquecido ou ignorado por Tim Burton nessa nova versão da história.

Claro que existem semelhanças. A relação mãe e filho e o bullying sofrido pelo elefantinho estão lá e deveriam ser o cerne do conto por se tratar de temas atuais, mas o pobre roteiro não explora essas questões no nível além do superficial. Aliás, uma prova de que estamos diante de uma história muito mal contada é o arco da Milly Farrer (Nico Parker), a jovem que cuida e treina o Dumbo a voar. A todo momento ela nos lembra irritantemente que adora ciência e quer se tornar a nova Marie Currie. Isso é feito de forma tão artificial que a boa intenção de incluir uma mulher que ama ciência em um filme infantil, acaba sendo um desserviço a causa que é tão cara.

O resto do elenco conta com grandes atores, Colin Farrel, Eva Green, Michael Keaton e até mesmo o sumido Danny DeVito, que é a melhor parte do filme como o atrapalhado dono do circo dos Irmãos Medici. Mas infelizmente nenhuma atuação tem grande destaque, assim como os efeitos visuais. Quem assistiu Okja (2017) vai perceber como o novo filme da Disney não se preocupou tanto em deixar os elefantes tão reais como poderiam.

Falando em realidade, em termos de roteiro, um elefante que voa é uma das coisas menos absurdas que acontecem. A pressa para estabelecer conexões entre as personagens e as facilitações (coincidências) que ocorrem para a resolução dos problemas são irritantes por subestimar a inteligência do expectador.

Em meio a toda essa onda de remakes em live action da Disney, Dumbo de Tim Burton se mostra precipitado e desnecessário como quase todas obras recentes do diretor.