Depois de um hiato (meu PC faleceu depois de uns bons 5 anos de companhia), volto com mais um texto para iniciarmos mais um ano, onde destrincharemos tramas e mecânicas de games que se baseiam em conceitos científicos. Descobriremos o que já é possível com a ciência atual, o que pode aparecer em um futuro próximo e o que dificilmente veremos um dia. E para começarmos vamos caçar alguns Little Sisters, desafiando Big Daddys atrás do preciso ADAM. Por isso prepare sua dose de Plasmids, pois hoje o tema é BioShock.

BioShock é uma FPS produzido pela Irrational Games (na época ainda 2K Boston), lançado em 2007 inicialmente para PC e Xbox 360, posteriormente o game ganhou uma versão para PS3. No game exploramos a cidade submarina de Rapture, criada por Andrew Ryan, depois da Segunda Guerra Mundial. O sonho desse empresário megalomaníaco era fundar um sociedade livre de restrições como politicamente correto, ética na ciência e limites para pesquisas. Uma sociedade onde os humanos pudessem sonhar sem limites, porém os mesmo ideais que fizeram com que Rapture fosse possível, também foram a causa de sua destruição.

Com esses ideais muitas pessoas foram atraídas para Rapture, entre elas estava a Dra. Brigid Tenenbaun, pesquisadora que um dia presenciou um homem que tinha as mãos aleijadas voltar a usá-las normalmente depois que foi mordido por uma estranha lesma marinha. Esse “acidente” foi o início do desenvolvimento dos Plasmids e o primeiro passo para a queda e destruição de Rapture.

Lesma marinha

Tenenbaun focou suas pesquisas nessas misteriosas lesmas marinhas, a partir delas acabou por sintetizar uma substância que chamou de ADAM. Essa substância era rica em células-tronco, que quando injetadas em humanos melhoravam a condição física do corpo e até mesmo promoviam curas milagrosas de doenças, tudo isso através de mutações promovidas por essas células. Não demorou muito para que isso chamasse a atenção de Andrew Ryan, assim ele começou a investir nas pesquisas de Tenenbaun, e como resultado foram criados os Plasmids.

Plasmids no game são substancias injetáveis que provocam violentas mutações no usuários, como exemplo temos o Incinerate e o Electro Bolt, que fazem com que o usuário, respectivamente, lance fogo e raios pelas mãos. Segundo o game, tomando um injeção de células-tronco poderíamos ganhar poderes como esses. Mas será que isso é possível? Vamos ver como estão os avanços da ciência nesse ramo.

Primeiramente, células-tronco ou células-mãe são células que possuem a capacidade de se transformarem, mais facilmente, em outras células do organismo se auto replicando várias vezes, diferente de outras células. Em outras palavras essas células podem ser usadas para se tornarem qualquer tipo de tecido do corpo. Com essa incrível capacidade, esse tipo de célula pode ter um uso muito promissor em tratamentos de doenças degenerativas, crônicas e recuperação de tecidos danificados.

Algumas fontes de células-tronco

De maneira geral, são dois os tipos de células-tronco: as de origem embrionária e as chamadas adultas. Embrionárias, como o nome já diz, são encontradas no embriões (normalmente 5 dias após a fecundação) e possuem alta capacidade de se transformarem em outras células, podendo se transformarem em quase qualquer outra célula do corpo. Entretanto aqui existem implicações éticas (as quais não existem em Rapture, afinal esse era um dos ideais da cidade). Até que ponto podemos “criar” embriões para depois “destruí-los”, só para usarmos suas células-tronco? Muitos consideram um embrião com 5 dias de formação como uma vida, então destruir esse embrião seria um homicídio. Bem, não quero levantar aqui essa questão pois não é a proposta do texto. Passemos para as células-tronco adultas.

As células-tronco adultas são células que possuem a função de reparar e renovar tecidos do corpo. Elas são encontradas em todas as parte do corpo humano, assim podem ser retiradas do próprio paciente para serem usadas no seu tratamento, praticamente sem nenhum risco de rejeição. Infelizmente sua capacidade de autorreplicação e divisão é bem menor em relação às células-tronco embrionárias, o que diminui sua área de aplicação.

Depois dessa breve explicação vamos jogar aquele balde de água fria. No game, Tenenbaun usa células-tronco de uma lesma marinha para criar os Plasmids, o grande problema é que as células-tronco de outros animais não são compatíveis com as nossas células. Uma aplicação dessas células em uma pessoa não surtiria efeito algum, pelo menos nenhum positivo. Se isso fosse possível, com certeza haveria uma revolução na medicina e no jeito de tratar doenças e ferimentos.

Agora, se a pesquisa de Tenenbaun envolvesse fetos, a história poderia ser outra (lembrando que, no game, nenhum tipo de ética barraria essa pesquisa). Tecnicamente já é possível criar humanos misturados com outros animais. Se um embrião recebesse as células responsáveis por uma enguia emitir eletricidade talvez resultasse em algo semelhante ao Plasmid, já citado, Electro Bolt. Aqui já estamos falando de engenharia genética.

Esse ramo da medicina, engenharia genética, avançou muito nos últimos anos, desde a decodificação do genoma humano cientistas vem realizando pesquisas e hoje já é possível “editar” o DNA de um embrião humano. Com isso já poderíamos escolher como nossos filhos seriam, diminuir a chance de aparecimento de doenças hereditárias até a cor dos olhos. Claro que o índice de sucesso ainda é pequeno, mas em um futuro próximo….

Lembrando que a ética aqui ainda prevalece. Até que ponto poderíamos “modificar” embriões? Esses humanos seriam melhores que outros? Como seria uma sociedade assim? Em Rapture as coisas não deram muito certo.

Finalizando com uma curiosidade, o nome Plasmid é inspirado no termo da genética que caracteriza fitas de DNA extra-cromossômicas circulares que podem ser encontradas em bactérias e algumas células eucarióticas, usadas ​​como vetores na engenharia genética para modificação ou reestruturação de partes do DNA.

Fico por aqui, espero que tenham gostado. Como de praxe, fico no aguardo de críticas e sugestões nos comentários. Deixo recomendado os filmes A Ilha do Dr Moreau (de 1996) e GATTACA, são ótimos filmes que exploram um pouco esse tema. Até a próxima.

Fontes: Game Blast, Toda Matéria, Hype Science, e Super Interessante.