Em 2012 durante a E3, a Ubisoft revelou o game Watch Dogs com um gameplay espetacular, gráficos lindos e uma ambientação primorosa, porém quando o game saiu em 2014, vimos que as coisas não eram bem assim, o game tinha passado por um grande downgrade, ficando bem atrás do que foi apresentado em 2012. Então, foi com grande receio e desconfiança que o público viu a revelação de mais uma IP inédita da empresa em 2014, novamente na E3. The Division foi apresentado com um gameplay e gráficos espetaculares, porém quando lançado em 2016, o mesmo também passou por um downgrade, mas nem tanto como o visto em Watch Dogs. Passado todo o “alvoraço” em volta disso na época, o game se mostrou ser muito bom, com um forte apelo multiplayer e calçado em elementos de RPG, mesmo sendo um third person shooter. As vendas foram boas, o que garantiu uma sequência lançada no começo de 2019.

Em The Division, ou Tom Clancy’s The Division se preferir o nome completo, um surto de varíola ocorre em Nova Iorque, o que faz com que cidade entre em crise ficando sem os serviços básicos de saúde e sem acesso à agua ou comida.  Nesse cenário somos um agente da “Strategic Homeland Division (SHD), divisão treinada para agir em situações onde tudo falha, sendo considerada o último recurso para restaurar a ordem”. Nosso objetivo é descobrir a fonte que espalhou esse vírus e retomar o controle da cidade que agora está dominada por bandidos.

The Division se baseia em eventos reais que mostraram como a sociedade se tornou frágil e complexa, e como nos tornamos vulneráveis a eventos desse tipo. Que eventos reais foram esses e se existem medidas para impedir que o caos se instale em situações como essa é o que descobriremos nesse texto. Então prepare seus equipamentos, reúna seus aliados e cuidado com traições, pois hoje falaremos sobre The Division e os eventos que inspiraram o game.

Na Nova Iorque do game, durante uma Black Friday, tradicional data em que o comércio promove grandes descontos, um grupo terrorista contamina algumas cédulas de dinheiro com o vírus da varíola e em poucos dias a cidade inteira está contaminada, entrando em colapso. Essa premissa pode ser considerada muito real, já que apesar de as transações online crescerem cada vez mais, a quantia de dinheiro em espécie ainda é muito grande. No Brasil, por exemplo, o valor atual é de quase 270 bilhões de reais.

O game é baseado na caçada a “loots” que compreendem desde armas, equipamentos a roupas

A questão de se contaminar o dinheiro com o vírus da varíola também é plenamente plausível. Nos Estados Unidos a vacinação contra varíola foi interrompida em 1972 porque a varíola foi erradicada, tendo sido efetivamente erradica em todo mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, em 1980. Como os efeitos da vacina desaparecem aproximadamente depois de 10 anos, atualmente a maioria das pessoas se encontra suscetível a infecção do vírus.

O ano em que cada país erradicou a varíola

Hoje o vírus em si não circula entre as populações do mundo, somente algumas poucas amostras existem em laboratórios autorizados para uso em pesquisas e estudos. Porém isso não quer dizer que essas amostras não poderiam ser roubadas por terroristas e usadas em ataques. Falhas de segurança sempre podem existir.

Foi com base nisso e em outras possíveis ameaças que o governo americano colocou em ação a Operação Inverno Sombrio em 2001.

A Operação Inverno Sombrio era o codinome de uma simulação de ataque bioterrorista realizada pelos EUA na cidade de Oklahoma entre 22 e 23 de junho de 2001. A simulação tinha como objetivo verificar possíveis falhas de uma resposta, a nível nacional, a um ataque com arma biológica contra a população.

Como resultado da operação, os principais pontos levantados foram:

  • Um ataque com armas biológicas pode ameaçar interesses vitais da segurança nacional;
  • As estruturas e as capacidades organizacionais não eram adequadas para o gerenciamento de um possível ataque com armas biológicas;
  • A ausência de vacinas suficientes para conter o avanço de um surto de varíola, o vírus que foi “utilizado” na simulação, e nem mesmo as indústrias farmacêuticas tinham capacidade de produzir vacinas em quantidade e tempo suficiente para suprir a demanda;
  • O problema de lidar com a mídia, já que informações vazadas poderiam gerar ainda mais caos.
  • A contenção da contaminação causada por um patógeno usado como arma biológica apresentaria grandes desafios éticos, políticos, culturais, operacionais e legais. Visto que medidas como a implementação de quarentenas e o racionamento de vacinas e recursos seriam muitas vezes vistas como ações “draconianas”.

Com esses resultados o governo tomou várias medias, dentre elas, decidiu primeiramente vacinar todos os soldados contra o vírus da varíola e outros patógenos e mais importante, criou a Diretiva 51.

Aproveitando o tema, vou usar essa foto novamente para dizer: PELO AMOR DE DEUS! VACINEM SUAS CRIANÇAS!

A Diretiva 51, entre outras coisas, estabelece “uma política nacional abrangente sobre a continuidade das estruturas e operações do Governo Federal” em caso de “emergência catastrófica”. Resumidamente, essa diretiva estabelece que em caso de emergência o governo federal tem controle absoluto sobre todos os outros poderes, sendo dele a responsabilidade de coordenar operações que garantam a continuidade das estruturaras governamentais.

Essa ideia é basicamente a utilizada no game, em que, depois de declarada uma emergência nacional, agentes que respondem diretamente ao presidente entram em ação para controlar o caos.

Um panfleto visto no game orientando sobre o que fazer e como agir quando a Diretiva 51 estiver em “ação”

E se você ficou curioso para saber se o Brasil tem alguma coisa parecida, a resposta é não. O máximo que nós temos é um Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, criado em 2011 depois da tragédia causa pela chuva na região serrana no Rio de Janeira, tragédia essa que matou mais de 900 pessoas. Porém hoje o plano definha, pois a cada ano recebe mais e mais cortes nos gastos e equipes.

Os 4 pontos que resumem o funcionamento do plano

Pois bem pessoal, por hoje é só. Espero que tenham gostado, tentei não entrar muito em questões políticas para não correr o risco de tornar o texto maçante, outra coisa é que vários anexos da Diretiva 51 não foram divulgados ainda, com isso não se sabe ao certo até onde e o que ela poderia fazer centralizando o poder todo na “mão” do presidente dos EUA.

Sobre The Division, tanto o 1 como o 2, recomendo para você que curte jogar online com os amigos, já se for jogar sozinho há outras opções melhores no mercado. Deixo como recomendação o excelente cast que nossos amigos do Meia Lua fizeram sobre o game: MeiaLuaCast #237: The Divison. Recomendações e sugestões são sempre bem-vindas, a série Tom Clancy’s aborda diversos temas mais realistas que podem gerar conteúdo para cá. Fico por aqui, até a próxima.

Fontes: Wikipédia Br, IGN Brasil, Wikipedia, FAS e Congresso em Foco