Mais de 100 laureados do Nobel assinaram uma carta apelando ao Greenpeace que deixem de se opor aos OGMs.

OGMs, ou Organismos Geneticamente Modificados, são alvo de muitas discussões e ainda geram apreensão.

Especificamente, a carta solicita ao Greenpeace que pare seus esforços em bloquear a introdução de uma linhagem de arroz GM. O arroz dourado pode reduzir a deficiência de vitamina A, causa de cegueira e morte em crianças de países em desenvolvimento.

“Apelamos ao Greenpeace e seus apoiadores que reexaminem a experiência de produtores e consumidores de todo o mundo com lavouras e alimentos melhorados através da biotecnologia, reconheçam as constatações de autoridades científicas e agências regulatórias, e abandonem sua campanha contra os OGMs em geral, e ao Arroz Dourado em particular”, diz a carta.

Arroz dourado, geneticamente projetado, e o arroz "comum".

Arroz dourado, geneticamente projetado, e o arroz “comum”.

A campanha foi organizada por Richard Roberts, chefe científico da New England Biolabs, e Phillip Sharp, Nobel em medicina. Neste site é possível ver a lista atual de assinaturas.

“Nós somos cientistas. Entendemos a lógica da ciência. É fácil de ver que o que o Greenpeace está fazendo é prejudicial e anti-ciência”, conta Roberts. “Inicialmente o Greenpeace, e então alguns de seus aliados, deliberadamente se esforçaram para aterrorizar as pessoas. Foi um modo deles arrecadarem dinheiro para sua causa”.

Roberts decidiu agir depois de ouvir de colegas cientistas que suas pesquisas estavam impedidas por ativismos anti-OGM. Ele apoia muitas outras atividades do Greenpeace, e espera que o grupo, após ler a carta, admita que esta foi uma questão em que eles estavam errados e foquem nas coisas que eles fazem bem.

O Greenpeace não é o único grupo que se opõe aos OGMs, mas ele tem uma presença global sólida

 

Até a última quarta-feira (29), as assinaturas já chegaram a 107 nomes. No total, há cerca de 296 laureados do Nobel vivos.

“Acho surpreendente que grupos que apoiam fortemente a ciência quando se trata de aquecimento global, e até reconhecem o valor da vacinação na prevenção de doenças, possam ser, no entanto, tão desdenhosos com a opinião geral de cientistas quando se trata de algo tão importante quanto o futuro da agricultura mundial”. – Randy Schekman, biólogo, ganhador do Nobel em fisiologia e medicina.

A carta segue:

“Agências científicas e regulatórias ao redor do mundo têm constatado, repetida e consistentemente, que lavouras e alimentos melhorados através da biotecnologia são tão seguros, se não mais seguros, quanto os derivados de quaisquer outros métodos de produção.

Nunca houve um único caso confirmado de um resultado negativo na saúde de humanos ou animais pelo seu consumo. Foi demonstrado repetidamente que o seu impacto ambiental é menos danificante ao meio ambiente, e um benefício à biodiversidade global.

O Greenpeace tem encabeçado a oposição ao Arroz Dourado, o qual tem o potencial de reduzir ou eliminar muitas das mortes e doenças causadas por uma deficiência de vitamina A (VAD), que tem o maior impacto nas populações mais pobres na África e sudeste da Ásia.

A Organização Mundial da Saúde estima que 250 milhões de pessoas sofrem de VAD, incluindo 40 por cento das crianças abaixo de cinco anos nos países em desenvolvimento. Com base nas estatísticas da UNICEF, um total de dois milhões de mortes evitáveis ocorrem anualmente como resultado de VAD, porque ela compromete o sistema imune, colocando bebês e crianças em alto risco. A VAD em si é a causa líder de cegueira infantil no mundo, afetando 250.000 – 500.000 crianças todo ano. Metade morre dentro de 12 meses após perder a visão”.

O consenso científico é que a edição de genes em laboratório não é mais perigosa do que a produção tradicional

 

Além disso, plantas projetadas tem potencial para trazer benefícios de saúde ou ambientais – como diminuir a necessidade de pesticidas.

Um relatório da National Academies of Sciences, Engineering and Medicine, liberado em Maio, atesta que não há nenhuma evidência substancial de que culturas OGMs tenham causado doenças em pessoas ou prejudicado o meio ambiente, mas também advertiu que tais culturas são relativamente novas e que é prematuro fazer generalizações amplas, positivas ou negativas, sobre a sua segurança.

O site internacional do Greenpeace alega que a liberação de OGMs no ambiente natural é uma forma de “poluição genética”:

“Engenharia genética possibilita que cientistas criem plantas, animais e microorganismos através da manipulação de genes de um modo que não acontece naturalmente”.

Esses organismos geneticamente modificados (OGMs) podem se espalhar pela natureza e cruzar com organismos naturais, assim contaminando ambientes não “GM” e gerações futuras de um jeito imprevisível e incontrolável”.

Virtualmente, todos os plantios e criações de animais foram geneticamente projetados no sentido mais geral. Não existem vacas selvagens, e os campos de milho dos Estados Unidos refletem muitos séculos de modificações através do cruzamento tradicional. Culturas geneticamente modificadas se tornaram comuns em meados de 1990. Hoje, a maior parte do milho, soja e algodão no país foram modificados para serem resistentes a insetos ou tolerantes a herbicidas.

Opositores dos OGMs também se focam nas repercusões econômicas e sociais da introdução de culturas modificadas em laboratório. O Greenpeace advertiu sobre a dominação das corporações sobre a cadeia de alimentos, dizendo que pequenos produtores irão sofrer.

Esse debate entre cientistas reconhecidos e ativistas ambientais não é novo. Há pouca esperança de que a carta dos laureados Nobel irá realmente persuadir os movimentos anti-OGMs a ceder. Porém, a visibilidade que os vencedores do Nobel tem talvez ajude a disseminar a questão e leve a discussões produtivas.

Fonte: Washington Post