O Autismo, ou transtorno do espectro autista, é um distúrbio que leva ao comprometimento da capacidade de comunicação social.

Esse quadro costuma manifestar-se ainda nos primeiros anos de vida. É chamado de espectro autista justamente por ser composto por uma variedade de características, que podem manifestar-se de formas diversas.

Pessoas autistas tem muita dificuldade em comunicar-se, perceber contextos, identificar expressões e expressar-se. Além de desenvolver comportamentos repetitivos e interesses ou afinidades específicos, como manias e rituais.

Todas essas características tornam o desenvolvimento de uma criança autista muito difícil, ainda mais em nossa sociedade.

 

Na evolução, por seleção natural, variantes genéticas que tenham impacto negativo no sucesso reprodutivo desaparecem rapidamente da população. Mas aquelas que proporcionam uma melhor chance de sobrevivência podem ser mantidas, se suas vantagens superarem as desvantagens.

Um estudo com mais de 5000 casos do distúrbio, mostrou que variantes genéticas ligadas ao autismo foram naturalmente selecionadas. Elas estão presentes em maior número do que se esperaria acontecer ao acaso. Ou seja, para terem sido positivamente selecionadas,  devem apresentar algum tipo de vantagem, pelo menos individualmente.

Essas mesmas variantes genéticas já foram associadas a traços de desempenho do cérebro, como funções moleculares envolvidas na criação de neurônios.

A pesquisa sugere que, durante a evolução, essas variantes genéticas que tem efeitos positivos nas funções cognitivas foram selecionadas, mas a um custo: o aumento do risco de distúrbios do espectro autista.

Autistas tem dificuldades sociais e transtornos mentais, mas costumam ter boa capacidade cognitiva, ainda que muitos não consigam desenvolvê-la por conta das dificuldades sociais e falta de orientação.

Eles costumam se sair bem em tarefas que exijam concentração, repetições, boa memória visual, e, principalmente, atenção a detalhes. Algumas empresas inclusive contratam especificamente autistas para funções que necessitam dessas habilidades, independentemente de cotas.

O quadro de autismo é um conjunto de características que se tornam um transtorno quando impedem que a pessoa tenha uma vida ‘normal’.

É interessante pensar que essa correlação entre características do espectro autista e inteligência não é exclusiva de quem tem o transtorno. Por exemplo, pessoas introvertidas, tímidas, também costumam ser vistos como mais inteligentes. A ideia é que pessoas com este tipo de introversão se sentem sobrecarregadas em interações sociais porque estão sempre processando todas as informações, o que pode ser uma vantagem em certas situações, mas é exaustivo.

Amy abraça Sheldon e ele diz estar se sentindo estrangulado por uma cobra

Na série “The Big Bang Theory”, apesar de ser um personagem bastante exagerado e até, por vezes, inconsistente, Sheldon Cooper apresenta muitas características do espectro autista, como dificuldade de identificar intenções e sentimentos, aversão a interações sociais, afinidades específicas (trens), manias, apreço por regras e métodos, entre outras. E é extremamente inteligente. O personagem possui muitos fãs na comunidade autista. Legenda: – Como se sente? – Me sinto como se estivesse sendo estrangulado por uma Boa constrictor (anaconda).

Ainda não foram identificados nem compreendidos todos os fatores genéticos que levam ao espectro autista, mas estão caminhando para isso.

Hoje, terapia genética para tratamento do distúrbio autista ainda acontece apenas em laboratório, e em ratos. Para pessoas, o principal tratamento ainda é a terapia comportamental. (E, quando necessário, medicamentos anti-psicóticos para evitar irritabilidade e auto-agressão).

“Life Animated” é um documentário que conta a história de Owen Suskind, um menino autista que aprendeu a se comunicar graças a um longo trabalho de imersão nas animações clássicas da Disney, pelas quais ele tinha grande afinidade. (Disponível na Netflix).

Quem sabe um dia teremos um tratamento certeiro, que amenize as desvantagens sociais, sem perder as capacidades mentais que a evolução selecionou.

Fonte: Independent