A educação básica vive um momento de transformação, uma mudança forçada de paradigmas. Em uma sociedade em que as crianças, cada vez mais jovens, têm acesso indiscriminado à internet, redes sociais e estímulos de todos os lados, a estrutura arcaica e ainda utilizada de sala de aula, de cuspe, giz e quadro-negro, presta um desserviço à motivação dessas crianças, evidenciando a necessidade de novas abordagens para o docente.

Entre as muitas possibilidades de mudança na dinâmica em sala de aula, os jogos de RPG vêm ganhando cada vez mais espaço nos planejamentos escolares, dados os imensos benefícios de sua utilização como ferramenta didática. Antes um hobby de nerds, muitas vezes mal visto pelas pessoas que não o conheciam, o RPG se tornou mainstream, e parte integrante da Cultura Pop, o que por si só já é um ganho para o professor que pretende utilizá-lo, pois quebra a desconfiança ou preconceito inicial dos alunos. Além disso, algumas características específicas desses jogos o tornam uma escolha especialmente eficaz no que diz respeito à sua utilização com alunos.

Os jogos de RPG possibilitam uma ação interdisciplinar por parte do professor, já que ele pode, no planejamento de suas aventuras, introduzir conceitos de diferentes disciplinas e áreas de conhecimento. Em uma mesma aventura, o professor pode introduzir ou reforçar conceitos de história, geografia, biologia, física, temas transversais, como ética e respeito às diferenças, e muito mais, limitado apenas por sua própria criatividade. Além disso, por ser um jogo cooperativo, ele é ideal para ser utilizado em um ambiente de sala de aula, criando entre os alunos um clima de respeito e amizade, e estimulando o trabalho em equipe. Trabalho em equipe que pode servir a finalidades adicionais, de acordo com certas ações especificas tomadas pelo professor quando organizando a estrutura da aula-aventura, como por exemplo, a escolha de duplas ou equipes para a criação de personagens mesclando alunos em diferentes graus de desenvolvimento, permitindo assim que um atue diretamente sobre a aprendizagem do outro, agindo como um facilitador para a aquisição de conhecimentos de seu parceiro.

Concluindo, muitos são os benefícios trazidos pelos jogos de RPG para a educação. Além dos enumerados, tantos outros poderiam ser ainda citados nesse texto. Por outro lado, aplicar essa ferramenta não é um processo simples, e exige envolvimento, dedicação e, principalmente, desejo de mudar, por parte do professor. Porém, diante de toda a competição desleal que enfrentamos quando temos que dividir a atenção de nossos alunos com todo o universo de possibilidades que eles carregam em seus bolsos e têm acesso nas palmas de suas mãos, só podemos nos adaptar, ou então, virar peça de museu, junto com o quadro-negro e nossas caixas de giz.


Para saber mais sobre RPG na educação:

MeiaLuaCast #109: RPG no Ensino

SciCast #230: Educação Infantil

Dissertação de Mestrado: Usando RPG no ensino da Matematica