“ O Arnesto nos convidou prum samba, … nós fumo, não encontremo ninguém!”Acho que se houver uma frase que resuma melhor a atual política externa brasileira provavelmente seria aquela do simpático meme do cachorro tomando chá na sala em chamas dizendo “Tá tudo bem”.  Como Arnesto, nosso chanceler fez um convite para um passeio, que segundo ele seria maravilhoso. Imagine você um samba no Brás! Cheio de colegas de tradicionais famílias e com pensamentos alinhados, todos prontos pra se divertir ao som da nova era. O problema é que o samba de Ernesto desafina, não tem ritmo e tem uma letra sofrível.

Recomendo a leitura deste texto ouvindo:

 

Imaginar que em pleno século XXI com mercados, interesses e realidades interconectados, o espírito do “cidadão de bem” deva ser o sentido das relações internacionais é no mínimo algo “que não se faz Arnesto!”.Ernesto Araújo é tudo menos bobo. Um diplomata de carreira não convencional que viu no fenômeno Bolsonaro uma oportunidade única de alcançar o posto mais alto da diplomacia brasileira. O problema é que pra isso teve de se amarrar ao personagem do “Chanceler Cruzado”, um misto de comentarista de portal com seguidor do astrólogo escatológico. Ao criar uma ideia de que o Brasil iria ter uma nova posição no mundo se relacionando apenas com os países “alinhados aos fundamentos cristãos-ocidentais-judaícos-contratudoissoaê-taokei?”, Ernesto criou um enredo cheio de promessas e imensas possibilidades. Mas, após pouco mais de 5 meses de governo, os convidados do samba já notaram que neste samba não tem ninguém.

O samba do Ernesto propunha um país forte, que andaria lado a lado com seu “big brother” e, tal como um mané – outra alegoria perfeita para este texto – acreditou que iria participar do clube dos grandes. Acreditou que, facilitando as coisas pro protetor, ele também ajudaria nosso sambista dos pampas. O caso é que, ao chegar ao samba, Arnesto leu um belo recado ponhado na porta “Oi, turma! Não deu pra esperar, aquele negócio de OCDE, facilitação de visto, aumento de exportação a gente vê na volta.” Nestes meses de política da nova era, o capital político brasileiro vai sendo diminuído diariamente com discursos que simplesmente rasgam as tradições da diplomacia nacional. Se antes éramos reconhecidos como um parceiro confiável, as sobrancelhas do mundo começam a se levantar ao ouvir o samba atravessado e fora de compasso do chanceler.

Propostas que parecem saídas de um universo paralelo levadas como política de Estado expõem o país a riscos e prejuízos (veja aí a queda das exportações, retirada de investimentos etc.) que levarão anos para serem superados.  Fato é que não há caminho de volta para Arnesto, ele sabia muito bem que aquela aposta em outubro do ano passado só funcionaria se fosse 100%, não tem como alterar a cadência do samba. Se reduzir, trocam o mestre de bateria e ele sabe disso. No fim das contas quem fica com “uma baita de uma reiva” somos nós, que, sem nem mesmo termos aceitado o convite, damos com a cara na porta. Nos resta esperar que da “outra vez não sejamos tão tatu”.


James Milk. Alguém disposto a provar que relações internacionais e diplomacia fazem tanto parte da sua vida quanto pão de queijo.