Provavelmente pipoca é o petisco mais acessível do mundo. É muito difícil encontrar alguém que, por opção, não goste nem um pouco desse alimento tão apetitoso. Pela facilidade de produção, a pipoca é presença garantida em eventos, festas públicas, espetáculos itinerantes, cinemas, mostras, praças e locais de grande circulação de pessoas. 

Mas não somente a praticidade explica o porquê a pipoca é tão popular. Sua textura, sabor, forma, cheiro, cor… Tudo nela remete ao petisco perfeito. Mas será que podemos estar comendo-a o tempo todo? Não há nenhum problema de saúde relacionado com esse hábito?

No texto de hoje, iremos quebrar a casca de mais um mito sobre alimentos. Afinal, pipoca é um petisco saudável? Há alguma forma ideal para estarmos nos alimentando desse grão de milho esquentado? Eu espero tirar sua dúvida agora!

Muito se pensa a respeito do hábito de petiscar alimentos. Geralmente, o mesmo está associado com horários menos rígidos de refeição e padrões repetitivos de nutrientes. A prática de snacking (“beliscar”, em tradução livre) é realizada com alimentos monodoses (cada um com o seu), porcionados e agradáveis o suficiente para serem comidos em pé (consumo stand up) [1]. A pipoca, por estes quesitos, se encaixa no perfil dos petiscos.

Justamente por isso, muitos discutem sobre as propriedades nutricionais da pipoca. Afinal, associamos fortemente os petiscos com alimentos de baixo valor nutricional. Com a expansão de aparelhos microondas, há uma nova forma de esquentar o milho até a quebra da casca. Porém, novas dúvidas também surgiram com esse método mais moderno.

 

 

Imagem um: Com o avanço do mercado e da “gastronomídia” fitness há espaço para desenvolvimento de diversas receitas alternativas à pipoca [2]. Acima, uma figura anexada de uma receita de pipoca doce com aspecto caramelizado. Podemos ver uma bandeja de cerâmica derrubada ao lado de outra bandeja, ambas cheia de pipoca caramelizada. Atrás, há outra bandeja com pipoca.

Contudo, pelo perfil nutricional, não existem grandes perigos associados ao hábito de petiscar pipoca. Para a o milho da pipoca amarela (Zea mays L), inclusive, existem nutrientes de caráter funcional ao organismo humano. Estes são responsáveis pela regulação das mais variadas funções fisiológicas. 

Estes produtos químicos naturais, inclusive, são responsáveis pela coloração amarelada do endosperma da pipoca, a parte que fica comestível após esquentarmos o grão [3]. Estes nutrientes são conhecidos como carotenoides, responsáveis pela cor de diferentes alimentos naturais. O processamento térmico não elimina uma parte significativa desses nutrientes.

Os carotenoides presentes no endosperma são a zeaxantina, luteína, beta-criptoxantina, alfa e beta carotenos. Os dois primeiros, inclusive, possuem conhecido potencial anticâncer por serem antioxidantes à nossa fisiologia [3]. Já os carotenos, em especial, possuem capacidade de formar vitamina A, responsável pela regulação do corpo humano e de sua saúde.

Porém, não somente por isso a pipoca pode ser considerada saudável, mas também pelo seu perfil de carboidratos. Estudos comprovam a quantidade mais significativa de amido resistente nos grãos de pipoca em detrimento de grãos de trigo e arroz [4]. Respectivamente, os valores superiores alcançam facilmente 80% e 95% a mais que nesses componentes! Esse tipo de amido possui o mesmo efeito que fibra alimentar, diminuindo o índice glicêmico pela menor absorção de açúcar. 

O amido resistente é uma junção de diversas unidades de glicose e sacarose, todos bem enrolados e integrados. Ao comer esse conjunto de glicídios, podemos esperar nutrição prolongada e menor absorção de açúcares no nosso corpo. Isso sem contar a quantidade alta de fibras já presente no endocarpo — a casca da pipoca.

 

Imagem dois: Por benefícios funcionais, a farinha de pipoca virou aposta para atrair consumidores de produtos naturais [5]. Fabricação de massas alimentícias é uma alternativa viável com este ingrediente. Na figura, podemos observar uma mesa com muita farinha, um pote branco coberto do mesmo produtos e mais farinha caindo de cima.

Porém, para a pipoca virar um alimento 100% saudável, alguns detalhes precisam ser levados em consideração. Primeiro, devemos tomar cuidado com a quantidade de sal adicionada no petisco, bem como temperos industriais. Afinal, o sódio presente nestes itens altera a nossa pressão arterial ao longo do tempo.

Segundo, tente dar preferência aos óleos vegetais naturais ou gordura animal se for fazer na panela. Apesar de relativamente mais gostosa, a pipoca com margarina concentra mais gordura trans, responsável por uma série de problemas sistêmicos ao nosso.

De maneira geral, não despeje muito óleo na panela, pois assim irá aumentar a absorção de ácidos graxos pela pipoca e, consequentemente, o valor calórico do alimento. Procure dosar adequadamente a quantidade de óleo com a superfície de contato da panela com os grãos.

Terceiro, apesar de opcional, é procurar fazer pipoca com a utilização de panela, ou mesmo com a pipoqueira elétrica, que dispensa o óleo. Pipoca pronta de micro-ondas já vem com maior teor de sódio na sua forma de aditivo (conservante, saborizante e corante, etc.). Além disso, a gordura vegetal esterificada também marca presença em grande quantidade no produto. Para piorar, há uma maior perda daqueles componentes funcionais que falamos anteriormente em comparação com a pipoca tradicional [3]. O consumo frequente da pipoca de micro-ondas é desestimulado por todos esses motivos. 

Se sua preocupação for com a saúde, agora já sabe alguns truques. Faça pipoca pelo método tradicional, utilize temperos naturais, dose o sal e nada de gordura esterificada! Se quiser, adicione outros ingredientes gostosos na sua bandeja, como queijo parmesão, calabresa ou patê. Sabendo desses pequenos detalhes, seu petisco tem de tudo para ser mais saudável e completo!

Este texto é inspirado na minha noiva, Ana Isabel, e no nosso casamento marcado para este final de mês. Ana é a maior consumidora de pipoca que eu já vi, comendo quase todo dia um pouquinho. Infelizmente seu petisco favorito não estará marcando presença no buffet, minha linda noiva. Mesmo assim, espero ouvir o seu aceite no altar!

O que acharam desse texto? Já ouviram falar do benefício da pipoca à saúde? E dessas pequenas adequações para garantir o consumo consciente? Não deixe de comentar e até a próxima!

 

Referências
[1]: BLAINE, Rachel E. et al. Food parenting and child snacking: a systematic review. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 14, n. 1, p. 1-23, 2017.
[2]: ESTÚDIO-C. Pipoca doce fitness fácil de fazer. Portal Receitas Globo, 2024. Disponível aqui.
[3]: SIQUEIRA, Mariana Vignolo de et al. Valor nutricional e índice de carotenóides de pipoca amarela (Zea mays L) em diferentes formas de preparo. XXII Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de Pelotas, 2013. 
[4]: Almeida, P. F., Rios, R. V., & Colling, A. de M. W. Desenvolvimento e caracterização de massa de pizza sem glúten com adição de farinha de pipoca e hidrocolóides. Connection Line – Revista Eletrônica da Univag, v. 29.  2023.
[5]: ROSA, Bruno. Farinha de pipoca integral é a nova aposta para fisgar consumidor de olho na balança. Portal O Globo, 27 out. 2022. Disponível aqui.
[6]: MARINHO, B. O. R., GUIMARÃES, M., & QUINTÃO, D. F. Composição centesimal do teor de sódio e gorduras em pipocas de micro-ondas comercializadas em uma cidade da Zona da Mata mineira e seus possíveis riscos para a saúde dos consumidores. Revista Científica da Faminas, n. 12, v.1. 2017.