Por muito tempo Donald Trump se superou nas besteiras que postou internet afora. E a rede que ele mais gostava de usar para fazer isso era o Twitter. Não é raro encontrar posts racistas, sexistas, incitando a violência e com muitas, fake news vindas desse cidadão, se é que podemos chamá-lo assim.

É importante também dizer que essa prerrogativa não é algo exclusivo do Sr. Laranjão. Temos uma outra figura, que ocupa o cargo de presidente do Brasil, que também gosta de usar as redes sociais para incitar o ódio e fazer posts “oficiais”, descreditando a imprensa, cientistas, entre outros, e demonstrando que os dois têm mais similaridades do que diferenças em seu comportamento online.

Em Maio de 2020 tivemos um caso de muita repercussão na imprensa norte americana por conta da sua relevância. No fim daquele mês o político republicano Matt Gaetz, do estado da Flórida, teve um de seus posts bloqueados e ocultados no Twitter por perguntar se, em tradução livre: “Agora, como vemos claramente a Antifa como terroristas, podemos caçá-los como fazemos com os terroristas do Oriente Médio?”. Para quem não conhece, a Antifa é um movimento ativista de esquerda dos Estados Unidos que luta contra o fascismo, o racismo, o sexismo e outras ideologias de extrema direita. Prontamente o Twitter bloqueou esse post por violar os termos de uso e por incitar a violência.

Até esse momento, parecia mais um dia comum no mundo da internet até que o presidente estadunidense resolveu se prenunciar, também no Twitter, dizendo que o governo dos Estados Unidos iria designar a Antifa como organização terrorista, validando o que o Matt Gaetz tinha publicado momentos antes. Pelos mesmos motivos do caso do político da Flórida, o Twitter bloqueou o post do presidente. Não contente com a situação, nos dias que seguiram, o nosso amigo cenourão, resolveu fazer mais uma de suas peripécias e soltou mais um post nessa rede do passarinho, chamando de bandidas as pessoas que protestavam em Minnesota sobre o caso da morte de George Floyd e ainda continuou: “Qualquer problema, assumiremos o controle mas, quando os saques começarem, o tiroteio também começará!”.

Mais do que prontamente, esse post foi bloqueado pelo Twitter e esperava-se que o Facebook fizesse o mesmo, porém, por uma decisão unilateral do Zucky, a empresa manteve-se do lado do presidente alegando que não poderia ir contra a liberdade de expressão que está na constituição estadunidense. Claro que essa sequência de eventos deu uma inflamada nos ânimos por lá, fazendo com que Donald Trump iniciasse quase que uma batalha campal contra o Twitter que, depois de alguns anos e incontáveis polêmicas, resolveu fazer o que é certo! Enquanto, do outro lado, o nosso amigo da rede azul com o efe branco no meio, mais uma vez demonstrou que a empresa tem interesses que estão além da nossa compreensão.

Essa atitude do CEO do Facebook causou um alvoroço e muitos funcionários resolveram deixar a empresa e resolveram protestar publicamente sobre as ideias do Zucky. Alguns exemplos de comentários que valem a pena mencionar:

“Sua falta de culhão e sua fraca liderança serão julgadas pela história.”
“Eu não sei exatamente o que fazer, mas sei que não fazer nada é inaceitável.”
“Estamos desapontados e atordoados pela incompreensível explicação que o Mark deu sobre permitir que o post do Trump permanecesse publicado.”

Funcionários e ex-funcionários do Facebook

Podemos imaginar o quão difícil é para uma pessoa tomar a decisão de sair de uma empresa em meio a essa crise que estamos vivendo (lembrando que estamos no meio de uma pandemia) por não concordar com a ideologia de seu CEO e, além disso, se expor publicamente sobre o assunto.

Assim como o Trump e o Gaetz, o Zucky também se baseou no preceito de que a liberdade de expressão está acima de tudo e não tem o direito de excluir, bloquear ou ocultar nenhum post na sua rede social. Segundo ele, todos tem a liberdade de dizer o que quiserem e isso tem que ser respeitado. Sim, ele está certo! Não fosse pelo fato de ser um presidente de um país e por se valer de fake news para se expressar! Sem contar que um governante precisa governar para todos e não deveria incitar a violência publicamente.

Mais recentemente, no dia 6 de janeiro de 2021, um grupo de partidários do Donald Trump resolveu invadir o Capitólio justamente no momento em que as duas casas legislativas se reuniam para ratificar a vitória do novo presidente eleito Joe Biden. Essa invasão foi fortemente incentivada pelo Trump que usou as redes sociais alegando falsamente que houve fraude durante as eleições e convocou seus partidários a realizar protestos contra o presidente eleito e contra o processo eleitoral. Uma das alegações que o ex-presidente trazia é que o voto pelo governo, amplamente usado no país inclusive por ele mesmo, é fraudulento e que ele perdeu as eleições por esse motivo. Os fatos que seguiram essa invasão foram catastróficos, incluindo a morte de 5 pessoas durante esse ato.

Eu sou totalmente favorável à liberdade que a internet nos proporciona. Poder escrever, falar e se expressar da maneira como quiser, mas existem algumas coisas que precisamos levar em consideração. Diferentemente de um canal de rádio ou televisão que, normalmente, é uma concessão pública, e que precisa dar espaço igual para todos, independente da ideologia. Uma rede social é uma empresa privada e ganha dinheiro com ela. Por isso possui uma política de uso e um código de conduta para os participantes. Dessa forma, a empresa tem total controle do que pode ou não pode aparecer em seus posts.

Digamos que o Twitter fosse uma empresa ativista, assim como a organização Antifa, e que seu objetivo fosse simplesmente promover posts relacionados com esse tema. Significa que eles teriam todo o direito de não permitir qualquer outro tipo de usuário que não tivesse essa mesma ideologia, afinal é uma empresa privada e eles podem decidir quem participa ou quem não participa dela. É a mesma analogia que fazemos quando damos uma festa em casa e temos os convidados. Como a casa é nossa, temos total direito de permitir quem entra e quem não entra na festa. Igualmente, podemos comparar com uma praça pública, ou qualquer outro espaço público versus um espaço privado. No primeiro, qualquer um pode frequentar sem nenhuma restrição, já no segundo o proprietário estabelece as regras para seus frequentadores e, para isso, precisam aceitar essas regras. Parece um contra-senso pensar na internet dessa forma, mas é assim que funciona. E quero deixar bem claro aqui que não estou expondo a minha opinião e sim trazendo os fatos como eles são!

Outro aspecto importante a levarmos em consideração é o precedente que atos como o do Trump, incentivando seus partidários a fazer protestos com base em fake news, pode causar. Políticos que têm simpatia ou alinhamento ideológico com o do laranjão podem motiva-los a fazer o mesmo. E isso precisa ser impedido por se tratar de crime por incitação à violência.

Quando uma empresa como o Twitter ou o Facebook resolve agir da maneira como agiu e quando políticos como o Trump, o Gaetz ou um outro de terras tupiniquins resolvem se expressar livremente na internet, todos precisam estar cientes das consequências. Sim, consequêncis!

Muito vem sendo discutido se o banimento da conta do Trump por parte do Twitter e de outras empresas não é censura. E a resposta é simples: não, não é! De acordo com o Dicio.com.br, “censura é a restrição alteração ou proibição imposta às obras que são submetidas à um exame oficial, sendo definido por preceitos morais, religiosos ou políticos.“. Sendo que, por se tratar de um processo avaliativo, uma censura acontece antes da publicação do que está sendo avaliado. O que está acontecendo neste caso são as consequências negativas pelo uso inadequado da liberdade de expressão e ninguém está isento dessas consequências que podem ser das mais variadas, desde as leves como um “strike” no YouTube ou ter um post bloqueado no Twitter, passando por um nível intermediário que é a perda de popularidade, banimento das redes ou problemas com sua imagem pública, até as mais severas como a denúncia por um crime, em caso de racismo ou coisas do tipo.