Séries teen como The Vampire Diaries, ou Sci-fi para maiores de 18, como Altered Carbon e até a aclamadíssima Westworld possuem um assunto em comum, a imortalidade. Vencer a degradação do corpo e desentrelaçar vida e morte não é somente um plot interessante para roteiro é também um desejo de muitos humanos e a ciência tem dado passos para isso.

Mas sabe o que é bom para acompanhar séries? Bolo de cenoura. Adoro bolo de cenoura. Vou colocar a receita aqui para que você possa fazer o bolo comigo.

Algumas das pesquisas voltadas para tornar a morte uma escolha e não um destino focam em manter unicamente sua mente, sendo seu corpo algo descartável, como vemos nas séries Altered Carbon e Westworld. Uma dessas iniciativas é a 2045, que tem como objetivo o upload mental (O Felipe já falou sobre isso aqui e tem até um contrafactual).  No entanto, nas séries teen, manter a beleza da juventude e seu próprio corpinho 25 é algo levado em consideração e, como virar vampiro não é opção, a ciência tem estudado outros meios.

Sim, a receita. Você vai precisar de: 3 cenouras médias cortadas, 3 ovos, 1 xícara de óleo, e tem mais coisa, mas pega essas primeiro enquanto continuo a falar sobre os caçadores da imortalidade.

Um dos pesquisadores que querem tirar o trabalho do ceifador é o Michael D. West fundador da Agex Therapeutics que tem como tema: Envelhecimento, redefinido. Mas o que eles estudam e onde eles tentam intervir para alcançar isso?

Pesquisas como a do Dr. West tentam desvendar a imortalidade celular e a biologia regenerativa estudando principalmente os telômeros. Os telômeros são as porções de DNA na extremidade  dos cromossomos, ou seja, as pontinhas daquela dupla fita de DNA, e são compostos por sequências repetidas de “TTAGGG”. Esta sequência é repetida algumas centenas de vezes pois sua função não está em armazenar informação, mas sim em proteger o material genético da degradação. A cada replicação, esta parte do DNA diminui pois a maquinaria de replicação é incapaz de copiar as extremidades dos cromossomos.

É como se seu DNA, que é o livro de receitas para tudo no seu corpo, fosse sempre copiado, mas, a cada cópia, o início do texto e o final do texto fossem perdidos, porque a máquina responsável não consegue copiar essas extremidades. Então, sabendo disso, você adiciona letras repetidas no início e no fim, no intuito de proteger as receitas importantes. Porém, chega um momento em que essas porções capazes de proteger já não são mais suficientes, e algum conteúdo importante acaba por não ser copiado.

Por falar em receita, para o bolo de cenoura ainda falta: 2 xícaras de açúcar, 1 colher de fermento em pó e 1 pitada de sal. Pega esses que já te falo o resto. Enquanto isso deixa eu explicar o que acontece quando os telômeros de muitas células diminuem de comprimento.  

O acúmulo de células com telômeros criticamente curtos levam ao envelhecimento e consequentemente aos males que a idade traz. Assim, nossa “data de validade biológica” está ligada ao comprimento dos telômeros, sendo estes um marcador do envelhecimento biológico e o caminho para aumentar o fio da vida.

Se, partindo desta informação, sua primeira ideia para alcançar a imortalidade foi aumentar os telômeros, parabéns. Pesquisadores que criaram camundongos com telômeros mais longos e os compararam a camundongos com telômeros normais mostraram que não somente a longevidade melhorou como também foi observada uma cicatrização mais acelerada em feridas cutâneas. No entanto, isto não é imortalidade.

Não fique triste, vou trazer mais uma informação para você: Uma proteína nomeada de Telomerase está diretamente relacionada com a manutenção dos telômeros, e sua função é adicionar as repetições na extremidade do DNA permitindo que este mantenha um tamanho ideal. Entender completamente os mecanismos pelos quais a telomerase exerce sua função é o objetivo de muitos cientistas e, em fevereiro deste ano (2018), o pesquisador Yinnan Chen publicou parte de como este processo ocorre. -Então pronto, resolvido, vamos tentar manter a atividade da telomerase. certo? – Não, não é tão simples assim.   

A ação da Telomerase é vista em células tronco pluripotentes e em células cancerígenas, assim é importante lembrar que a imortalidade é um assunto diretamente ligado ao câncer, uma vez que várias linhagens de células tumorais imortais possuem atividade intensa da telomerase. Além disso, a carência da ação da telomerase nas demais células é o mecanismo pelo qual nosso corpo previne células cancerígenas. Equilibrar esta manutenção é a chave e a quest que estes pesquisadores tentam conquistar. Além disso, alcançar a imortalidade fica um pouco mais complicado quando lembramos que o DNA geralmente fica danificado quando é replicado, mesmo que reparos ocorram, células que se dividem muitas vezes estão mais propensas a acumular erros genéticos do que células jovens.

Pra terminar o bolo você ainda vai precisar de 2 xícaras de

Assim como no bolo de cenoura, a receita do nosso corpo precisa ta completa. No bolo, a falta da farinha de trigo vai mudar completamente o resultado, na vida, a receita incompleta acaba gerando o que costumamos chamar de: é coisa da idade. Claro que este texto não terminaria com uma resposta, já que vida e morte continuam entrelaçados. As pesquisas correm, novas informações surgem e nós ficamos aqui, vivendo enquanto os grãos de areia da nossa própria ampulheta da vida caem. Mas, enquanto estamos vivos, sempre da pra fazer um bolo de cenoura.

 

Referências:

Varela, Elisa, et al. “Generation of mice with longer and better preserved telomeres in the absence of genetic manipulations.” Nature communications 7 (2016): 11739.

Chen, Yinnan, et al. “A single nucleotide incorporation step limits human telomerase repeat addition activity.” The EMBO journal (2018): e97953.