Hipertensão é uma desordem com múltiplos fatores, os quais podem ser genéticos e ambientais. Essa patologia, por sua vez, atinge, em sua maioria, indivíduos idosos, tal qual outras doenças associadas à idade, como diabetes, demência, osteoporose, dentre outras. Logo, a cada mazela inclusa no diagnóstico, alguns medicamentos são acrescentados à sua lista de remédios. Bom, mesmo não sendo idoso, hoje vou relatar um pouco sobre como descobri que tenho pressão alta, apesar de ter menos de 30 anos.

Hoje, com 27 anos, ingiro diariamente um medicamento com o objetivo de diminuir minha pressão arterial. Mas, como tudo começou? Por qual motivo desenvolvi essa condição?

O início se deu, se não me engano, no fatídico ano de 2017, em que me encontrei indo ao cardiologista pela primeira vez (acho que nunca esperei tanto para ser atendido). Logo no início, aferiram minha pressão e constatou-se que estava alterada (maior que 120×80 mmHg).

Ainda na sala de espera, notei que eu era o mais jovem dos pacientes, na época com 25 anos.

Quando finalmente fui atendido, o médico observou que minha pressão estava alta e solicitou alguns exames. Dentre eles, o teste ergométrico, o qual avalia, por meio de uma esteira, a capacidade cardiovascular. Outro exame foi um conhecido como M.A.P.A (Monitorização Ambulatorial de Pressão Arterial), o qual consiste em aferir sua pressão arterial (PA) a cada 30 minutos durante um período de 24 horas (ou o mais próximo disso), o que não é nada confortável, pois ele infla toda vez que for aferir a pressão arterial.

 

Aparelho MAPA – Desconfortável

 

Após os exames, constatou-se já uma pressão mais alta, que chegou a atingir 160×100 mmHg (se não me engano) durante o período de 24 horas. Porém, como eu era jovem, o médico apenas recomendou fazer exercícios e diminuir a quantidade da ingestão de sal, o que me deu um alívio, pois não iniciou o tratamento medicamentoso (na cabeça de um jovem tomar medicamentos considerados de idoso é o fim).

Contudo, esse primeiro contato com o cardiologista me fez acender uma pequena luz vermelha. Em minha adolescência, se minha memória não falha, eu sempre tive uma  pressão mais elevada que o normal, mas para evitar longas perguntas por parte da equipe médica, eu falava que o aumento é ocasional, pensando na conhecida “síndrome do jaleco branco” (consiste em ficar nervoso e ter a pressão maior do que realmente é apenas por ver alguém de jaleco aferindo-a).

Agora, pula para 2019.

No início do ano de 2019 fui ao cardiologista novamente, depois de quase dois anos, fazer um novo check-up e verificar minha pressão arterial. Entretanto, o mesmo processo ocorreu. Pressão alta, mesmos exames, o que mudou foi um ecocardiograma (ultrassom para o coração), o qual não constatou nenhuma alteração.

Assim, após realizar os exames, as mesmas recomendações foram feitas: exercícios e diminuir o sal.

Embora eu tenha me esforçado, pois mudei radicalmente o consumo de sal e fiz exercícios, após um mês, no retorno, a pressão continuou alta, chegando a atingir 170 x 110 mmHg (que é muito alta).

Quando o cardiologista começou a receitar e falar da medicação que eu iria necessitar, meu mundo “saudável” desmoronou. Quase em lágrimas perguntei se é necessário mesmo, que eu faria qualquer coisa para não iniciar um tratamento medicamentoso, porém foi inútil.

Logo, com o remédio em mãos, comecei tomando-o. Entretanto, nos primeiros dias minha pressão baixou muito, o que me fez feliz, pois demonstrou que eu não iria precisar da medicação, certo? Errado! Pois apenas a receita foi alterada.

Mesmo sendo relutante à medicação, tomei-a. Uma vez que com saúde não se brinca, com hipertensão menos ainda.

Para ilustrar o que o aumento da pressão pode fazer, imagine uma mangueira (vaso sanguíneo) e que em sua confecção há várias camadas de material (células, proteínas…), agora se a pressão estiver normal essas camadas mais internas da mangueira vão permanecer íntegras, sem qualquer problema, pois ela tem a capacidade de se dilatar um pouco para minimizar a pressão. Porém, se houver um excesso de água passando (sangue) ou se não for possível ocorrer a dilatação normal, essas camadas mais internas da mangueira podem ser levadas juntamente (destruídas) com a água (sangue), deixando a próxima camada exposta. Contudo, essa camada secundária tem um problema, ela parece uma “cola”, o que, por consequência, pequenas estruturas (plaquetas) podem se ligar a ela, obstruindo a mangueira, o que acarreta um maior fluxo de água (sangue). Portanto, tendo como resultado um aumento ainda maior da pressão arterial.

Esse processo, por sua vez, ocorre em todo o corpo, inclusive nos vasos renais e cerebrais. De fato, se essa pressão continuar alta durante longos períodos, podem ocorrer lesões renais e até um déficit cognitivo, além de gerar um infarto ou acidente vascular cerebral.

Atualmente, continuo utilizando a medicação, e não há, por enquanto, um fim para esse uso. Porém, o que não pode ocorrer é esquecer de tomar tal medicamento, pois agora quando a pressão aumenta e atinge níveis como 170×100 mmHg, começo a sentir os sinais e sintomas (dor de cabeça, suor, vermelhidão na face), fato que não acontecia antes do início do tratamento.

Pensando em relatar sobre o meu caso, pesquisei alguns artigos sobre a hipertensão arterial em jovens adultos e um que me chamou atenção se intitulava: “I have to live like I’m old”. Young adult’s perspectives on managing hypertension. A multi-center qualitative study”.

Esse, por sua vez, explicitou relatos de jovens que descobriram que, pelo resto da vida, vão precisar fazer o uso de medicamentos, ingerir uma baixa quantidade de sódio e praticar atividades físicas de forma regular.

Assim, como um dos resultados do artigo, dentre 38 participantes, 37 apresentaram algum tipo de emoção que variou entre “surpreso”, “medo” e “raiva”. Com exceção de um voluntário, que não sabia que hipertensão arterial é uma doença crônica que requer tratamento e cuidado ao longo de toda sua vida.

Com relação ao trabalho citado, eu compartilho de algumas emoções com os indivíduos, as quais variam também entre surpresa e medo. Pois, o diagnóstico de uma patologia crônica, que não é tão grave quando recebe o devido cuidado, desperta sentimentos de angústia, principalmente em indivíduos mais jovens, como é meu caso. Por esse motivo, será que preciso realmente viver como um “idoso” para que esse quadro não se agrave?

Outro ponto levantado no trabalho é a vergonha. Alguns participantes descreveram que outras pessoas podem julgá-los e simplesmente não entender que, às vezes, não é apenas o estilo de vida da pessoa, como também fatores genéticos que podem estar associados à doença.

Por fim, o trabalho concluiu que são necessárias atitudes intervencionista desenvolvidas especialmente para jovens adultos, com a finalidade de que procurem tratamento e adiram a ele.

E você, já procurou seu médico hoje?

 

REFERÊNCIAS:

Johnson, H., et al. “I have to live like i’m old.” Young adults’ perspectives on managing hypertension: a multi-center qualitative study. BMC Family Practice. 2016.