Já temos tantos reviews, resenhas e posts destrinchando o novo Zelda – Breath of the Wild que eu falaria apenas mais do mesmo se seguisse essa linha. O que muitos procuram, e tive a oportunidade de trazer isso em casts, é saber como foi a experiência daquele jogador. Tentarei trazer isso para esse texto.

Nós ouvimos podcasts não só pelo conteúdo, mas pelas pessoas envolvidas no projeto. Elas se tornam nossos amigos distantes, quase penpals se levarmos em conta os comentários, e é sempre gostoso ouvir eles falando sobre algum assunto por darem seu toque pessoal à visão geral construída daquilo. E aqui vai um pequeno resumo da minha história e experiência com essa maravilha.

Não é segredo para ninguém o meu amor por essa franquia, motivo quase exclusivo para eu continuar consumindo consoles da Nintendo, então conforme foi chegando a data de lançamento mais dificuldade eu tinha de controlar minha ansiedade e minha vontade de colocar as mãos em Breath of The Wild.

Capa do Game

A grande angústia para mim, já nas vésperas do grande dia, foi se eu estava disposto a esperar chegar o Nintendo Switch no Brasil e, principalmente, a pagar o preço sem noção que seria cobrado por ele. Em menos de dois meses minha filha nasceria, fator fundamental para a minha decisão, afinal poderia usar a grana do Switch com coisas mais úteis, fraldas por exemplo, além de saber da impossibilidade de eu jogar horas seguidas uma vez que ela nascesse.

Tomei a grande decisão. Comprei para o WiiU mesmo e que se danasse a versão do Switch. Sim, eu forçosamente me fiz acreditar nisso naquele momento. Esperei até duas da madrugada, para equivaler o lançamento mundial, comprei a versão digital e fui dormir.

O meu dia de trabalho seguinte foi tenebroso. Após ter colocado meu número do cartão e deitado por poucas horas, toda a certeza que tinha sobre a minha escolha havia se desfeito em fumaça. Qual o tamanho da burrada, comprar a versão de um console anterior se a geração nova receberia o mesmo game. Admito aqui publicamente não ter produzido absolutamente nada naquela tarde, passei todas as horas possíveis olhando no Twitter, Youtube e fóruns, sim ser velho é uma dureza mesmo, buscando as diferenças entre as duas versões.

Aparentemente, e hoje facilmente confirmável, as únicas discrepância entre os dois consoles eram o visual, iluminação e afins, e a distância de renderização. Até as quedas de frames por segundo estavam presentes no Switch. Parabéns Nintendo, te amo muito, mas te desprezo demais também.

Fui para casa. Me contive por tempo suficiente para comer, me higienizar e ficar com a Larissa um pouco, e finalmente liguei o vídeo game. Em menos de 10 minutos, qualquer medo anterior se mostrava infundado. Me joguei pelo buraco do coelho e mergulhei de cabeça no País das Maravilhas.

Poster do Game

Acho que a última vez que joguei tantas horas seguidas foi quando coloquei as mãos no Mass Effect 2, para PS3. Até hoje, já estou com o game quase 100% fechado, ainda me impressiono com a minha facilidade de entrar em fluxo com esse Zelda. Para quem não sabe, entrar em fluxo é entrar naquele estado mental no qual as horas voam e você nem percebe. Tem um MLC falando disso. Enfim, foram horas e horas jogadas numa imersão integral. Cheguei a ultrapassar os limites dos gráficos de horas por dia do WiiU. Ainda estou decidindo se me orgulho disso ou não.

Entretanto, o ponto chave é: por que aquele jogo, tão diferente de outros Zeldas em alguns pontos chaves, me entregava uma experiência marcante daquela? Após terminar, coloquei ele tranquilamente no meu TOP 3 da franquia, finalmente chutando do pódio o famoso Ocarina of Time, desculpe internet, mas não me sentia satisfeito. Ainda queria pegar e continuar jogando e explorando aquele mundo e descobrindo mais alguns dos 900 Koroks espalhados, sempre em busca de… de… de nada em especial. Só brincar mesmo.

Pensando sobre a pergunta acima, após escutar casts e conversar com amigos, finalmente me bateu uma ideia de resposta. Além de todos os motivos mais óbvios, que garantiram notas altas nas críticas profissionais, Breath of the Wild faz um balanço muito interessante três aspectos que raramente são mencionados. Existe um equilíbrio lindo nesse game entre simplicidade efetiva, liberdade e limites.

“Como assim? Você equilibrar liberdade e limites até faz sentido de certa forma, mas onde a simplicidade é inclusa nesse tripé?”

A liberdade e os limites podem parecer óbvios, mas não são totalmente assim. Pensem em jogos artísticos, como fã de indie games já pude experimentar meu fair share deles, muitos são extremamente livres, extrapolando a parte prazerosa para quem quer aproveitar algo que não seja de sua própria criação. Peguemos o Minecraft e o Lego World como exemplos. Não temos limites ali, podemos criar qualquer coisa, ir para qualquer lugar. Ficamos perdidos se não tivermos uma veia artística criadora. E é aqui que o BotW brilha.

Realmente podemos olhar em volta e querer chegar em qualquer ponto visível no mapa. Podemos fazer o jogo em qualquer sentido. Explorar em qualquer direção. Só que estamos sendo enganados, de um modo belo e sutil. O game tem limites sim. Alguns impostos pelas próprias características do personagem, como a quantidade de stamina ou comida, outros impostos por sutilezas físicas do terreno. Após rodar quase 100 horas, encontrei apenas duas paredes invisíveis e só por estar forçando a barra mesmo para ver até onde ia. E é por conta desses limites sutis, que nos impedem de entrar num mundo abstrato de criatividade, que eu adiciono a simplicidade efetiva ao balanço.

Um jogo ser simples por opção, principalmente em suas mecânicas, é algo muito difícil. Normalmente a simplicidade decorre de limitações do código ou do processamento ou de estrutura mesmo. Porém, quando ela é escolhida e trabalhada adequadamente, temos algo como esse jogo. Os controles e as mecânicas desse Zelda são tão, ou até mais, simples que seus predecessores, porém a física por trás disso e as sutilezas são extremamente “parrudas”. A limitação de stamina mencionada previamente era algo a ser criticada, mas hoje vejo o quanto faz sentido naquele mundo de esforços, o quanto trocar de armas pelas suas resistências me fez saborear mais as batalhas, o quanto eu tive de começar a pensar como o próprio protagonista se daria conta de fazer algo daquela forma ou naquele momento. E tudo isso não afetava de modo algum a minha sensação de liberdade e a minha segurança, subjetiva, de estrar dentro dos limites estabelecidos. Me fez pensar muito naquela frase “O combinado não sai caro”.

Por fim, minha experiência com Breath of the Wild ainda está sendo muito delícia, AAAAAAH. E recomendo muito a ideia de, após mergulhar e desfrutar o game, dar uma pensada em como esses detalhes fazem diferença e como isso deverá afetar nossa forma de jogar no futuro.

Um grande abraço e deixem suas próprias impressões nos comentários!