
Se você já assistiu a um filme de tubarão e pensou: “Caramba, queria ser esse tubarão por um dia!”, Maneater é o jogo perfeito para você. No jogo, você não é só um tubarão qualquer, mas uma máquina de dentes, barbatanas e vingança, pronta para transformar banhistas desavisados e pescadores ousados em lanchinho da tarde.
Desenvolvido pela Tripwire Interactive e lançado em 2020 para diversas plataformas, incluindo PC, PlayStation e Xbox, o jogo tem uma premissa única e divertida: você controla um tubarão em busca de vingança contra um caçador que matou sua mãe. Maneater exagera bastante as habilidades do tubarão para fins de diversão e jogabilidade, mas ainda assim apresenta alguns paralelos interessantes com os tubarões da vida real. Então se prepare e traga um barco maior, pois iremos aprender e nos maravilhar com esses grandes peixes que dominam os mares ao mesmo tempo que combatemos a pesca predatória e a degradação do meio ambiente.
Maneater é aquele tipo de jogo que pega uma ideia maluca, dá uma boa temperada e transforma numa experiência tão divertida quanto caótica. A trama começa com um toque quase de novela. Você nasce como um filhote de tubarão, testemunha a morte brutal da sua mãe pelas mãos de um caçador de tubarões famoso e, claro, jura vingança. O jogo inteiro gira em torno dessa jornada de crescimento (literalmente) e revanche. Do tamanho de um peixinho inofensivo, você vai evoluindo até se tornar uma verdadeira aberração marítima, pronta para virar lenda.
Apesar de possuir um tom cômico, a cena inicial é bem brutal. O pescador mata a mãe tubarão e retira o filhote de dentro de seu ventre. Mesmo chocante, aqui temos nosso primeiro ponto com a vida real. Apesar de ter uma aparência diferente, o tubarão que controlamos é da espécie Cabeça-Chata (Carcharhinus leucas), essa espécie de tubarão é vivípara, ou seja, animais que dão à luz filhotes já desenvolvidos. O embrião se desenvolve dentro do corpo da mãe, em um ambiente protegido. Durante esse tempo, o filhote recebe nutrientes diretamente da mãe, geralmente através da placenta (em mamíferos, por exemplo).

Imagem 1: O tubarão Cabeça-Chata com o formato icônico de sua cabeça. A imagem mostra a fotografia de um tubarão com a cabeça achatada.
Ainda sobre o tubarão Cabeça-Chata, ele recebe esse nome devido ao formato achatado e largo da sua cabeça, que, aliado ao corpo robusto, lhe confere uma aparência poderosa.
Esse tubarão é encontrado em águas tropicais e subtropicais ao redor do mundo, sendo uma das poucas espécies capazes de viver tanto em água salgada quanto em água doce. É comum encontrá-lo próximo à costa, em estuários, rios e até lagoas. Podendo ser encontrado no Rio Amazonas e no Lago Nicarágua. Inclusive, isso é bem usado no jogo, já que seu estilo sandbox contribui para que o jogador nade livremente por um mundo aberto dividido em várias áreas – pântanos, praias, mar aberto e até áreas urbanas onde ninguém imaginaria um tubarão aparecendo.

Gif 1: Nosso protagonista devora tudo, seja em água doce ou salgada. O gif mostra um tubarão realizando diversos ataques no jogo em águas diferentes.
Para avançar no jogo você precisa se alimentar para crescer e enfrentar ameaças maiores, isso faz com que o jogador esteja mordendo qualquer coisa a todo momento, outro paralelo com a realidade, já que o Cabeça-Chata come praticamente tudo: peixes, tartarugas, aves, golfinhos e até outros tubarões.
Os dentes do tubarão são sua principal arma. Diferente dos humanos, que têm apenas duas dentições ao longo da vida, os tubarões estão constantemente trocando seus dentes, podendo perder milhares de dentes ao longo da vida e substituindo os mesmos, isso graças as várias fileiras de dentes que se movem para frente quando um cai, garantindo que nunca fiquem sem.

Imagem 2: As várias fileiras de dentes do tubarão. Um sorriso não muito legal de se ver. Na imagem podemos ver a fotografia, em close, dos dentes de um tubarão.
E como falamos sobre crescer, esse é uma das grandes diferenças entre o jogo e a vida real. Na natureza, o crescimento dos tubarões é bem lento, com alguns podendo crescer apenas 1 cm por ano, bem diferente do jogo, onde em pouco tempo podemos chegar a 9 metros de comprimento, algo bem próximo do maior tubarão que já existiu, o Megalodonte, que podia medir entre 14 e 20 metros e viveu aproximadamente 23 a 3,6 milhões de anos atrás, durante o Mioceno Inferior ao Plioceno.

Imagem 3: O tamanho do Megalodonte comparado com outros tubarões atuais e com um ser humano. Através de desenhos, a imagem mostra a relação de tamanho entre o Megaladonte e outros tubarões e o ser humano.
Já o nosso Cabeça-Chata pode medir até 3 metros de comprimento e pesar 300kg, o que não diminui nem um pouco sua reputação de agressividade e do envolvimento em alguns incidentes com humanos. Incidentes esses que muitas vezes acontecem porque o tubarão confunde uma pessoa com um peixe ou outro animal marinho. Surfistas e nadadores, por exemplo, podem ser vistos de baixo como uma tartaruga ou uma foca, principalmente em águas turvas.
Em Maneater, um ponto importante na jogabilidade é como você detectada inimigos e presas ao seu redor, escolhendo se é hora de atacar ou fugir. Para isso, o “radar” do tubarão é essencial. Ao toque de um botão, temos a visão da silhueta de todos os seres que estão ao nosso redor. Mais um paralelo com a realidade.
Os tubarões são predadores extremamente eficientes e usam um conjunto impressionante de sentidos para localizar suas presas. Diferente dos humanos, que dependem muito da visão e da audição, os tubarões combinam vários sentidos para caçar com precisão. Além dos cinco sentidos já conhecidos, pode-se dizer que os tubarões possuem um sexto, a eletrorrecepção.
Esse “sentido” lhes permite detectar campos elétricos gerados por outros seres vivos na água. Isso acontece graças às Ampolas de Lorenzini, pequenos sensores localizados no focinho do tubarão. Ele funciona da seguinte maneira: Todos os seres vivos emitem pequenos campos elétricos devido às funções do corpo, como os batimentos cardíacos e a contração muscular, esses campos elétricos se propagam pela água e são detectados pelo tubarão. Então, mesmo uma presa parada, sem se movimentar, pode ser detectada graças aos campos elétricos gerados pelo corpo.

Imagem 4: No detalhe o esquema de uma ampola de Lorenzini. A imagem mostra o desenho de uma ampola de Lorenzini, sendo formada por um poro superficial, um canal, células sensoriais e nervos.
Uma mecânica encontrada no jogo é fazer com que o tubarão salte para fora da água e ataque banhistas e animais que estão em terra firme. O tempo fora da água é limitado e apesar de perder um pouco de sua mobilidade, o tubarão ainda continua bem letal. Esse ponto destoa bastante da realidade.
Tecnicamente, um tubarão pode ficar fora da água por um curto período, mas não por muito tempo. Como peixes, eles dependem da água para respirar e sobreviver. Peixes respiram através de brânquias, que extraem oxigênio dissolvido na água. Diferente de mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, eles não possuem pulmões e não conseguem respirar ar atmosférico. Quando estão fora d’água, suas brânquias secam rapidamente e deixam de funcionar.
Outro ponto ainda que temos que considerar é o efeito da gravidade. Dentro da água, o corpo do tubarão é sustentado pela flutuabilidade, mas fora dela, seu peso se torna um problema. Sem a sustentação da água, os órgãos internos podem ser comprimidos, dificultando a respiração e causando danos ao corpo. Nesse caso, quanto maior o tubarão, mais dificuldade ele vai ter fora d’água. Algumas espécies são mais resistentes à falta de água, entre elas, o Cabeça-Chata pode sobreviver por um tempo fora d’água se mantido úmido, mas no final, esses animais só estão aptos viver submersos e dependem totalmente da água para respirar e se movimentar.

Imagem 5: Noticias sobre tubarões encalhados em praias não são difíceis de se encontrar. Na imagem podemos ver um tubarão encalhado na areia da praia sendo socorrido por banhistas.
O jogo ainda tem sua parcela de crítica ao comportamento humano, pois tubarões são frequentemente perseguidos por pescadores (o plot principal da trama inclusive é esse) e sofrem com a caça predatória para obtenção de barbatanas (prática conhecida como finning) e carne. Além da destruição de habitats e a poluição que também ameaçam muitas espécies.
Embora Maneater traga um retrato exagerado e fantasioso dos tubarões, ele consegue capturar alguns aspectos reais da biologia e comportamento dessas criaturas. No final das contas, os tubarões da vida real são tão fascinantes quanto os do jogo, mas bem menos vingativos.

Imagem 6: Maneater é um jogo que nos faz torcer pelo tubarão. A imagem é um print do jogo que mostra um tubarão saltando sobre um pescador com um arpão.
E terminamos. O jogo recebeu críticas positivas por sua proposta criativa, liberdade de exploração e evolução do tubarão. No entanto, a repetitividade das missões pode ser um ponto negativo. Recomendo que joguem, é uma diversão descompromissada, sendo facilmente encontrado em promoções e as vezes figurando nos serviços Games Pass e Playstation Plus.
Deixei aí nos comentários se já conhecia o jogo e/ou já jogou. Fico no aguardo de críticas e sugestões. Até a próxima.
Fontes: Wikipédia, Maneater Wiki, Shark Angels, Biologia Net, Mundo Educação e Reddit