Descansavam próximos a uma pequena fogueira, a luta foi mais fácil do que imaginavam, porém a caçada foi cansativa, aproveitaram para recuperar a energia e berber um pouco enquanto o rastreador não voltava.

– Daniel, os magos vermelhos não carregam uma espada mágica para usar seus poderes? – Alerin perguntava isso, pois estava curioso desde o momento que a viu a arma do mago.

– Bem, a minha espada foi tomada pelo conselho vermelho de Kar’l, umas das punições por ter sido banido. Esta foi um presente de uma pessoa que não queria me deixar desprotegido – Daniel pensou um pouco e continuou falando – Você está enganado se acha que um mago vermelho fica impossibilitado de usar magia sem sua espada, é verdade que a arma aumenta a intensidade do feitiço, mas sem ela não fico indefeso.

– Sei que os magos vermelhos são ótimos com lâminas e não ficam atrás de nenhum guerreiro iniciante, mas não tem a experiência em combate de uma vida de mercenário ou um veterano de guerra. Não devem suportar serem cortados, ou podem se desesperar se ficarem sangrando, passar noites ao relento com fome fugindo de inimigos ou feras – ria orgulhoso o guerreiro enquanto aproveitava sua bebida.

– Verdade, mas seria um erro mortal igualar um mago armado com sua arma com um lutador iniciante. Não esqueça, um mago vermelho é perito em magias de ilusão, controle e … de manipulação, logo não são mestres em magias mortais como os magos negros, então recorrem as laminas para derrotar inimigos enfeitiçados – explicava o mago – Além de magia, estudam a anatomia de grande parte dos seres vivos, pois os golpes devem acertar os pontos vitais não permitindo chance de reação.

– Dizem que uma das piores mortes nesse mundo é através das mãos de um mago vermelho. Falam que você vê seus piores pesadelos enquanto sangra até morrer, outros sofreram dores horríveis enquanto babam e reviram os olhos imploram por clemência – falava o jovem anão enquanto comia algo e limpava a barba suja de migalhas.

– Você está bem informado, Alerin. Nada disso é mentira, ou exagero da crença popular – surpreendendo anão, o mago continuava falando – na realidade, sou capaz de fazer esse tipo de coisa….  Cuidado!!!

Quando o anão olhou para baixo, via uma cobra se aproximando dele, saltou surpreso para longe procurando algo para matá-la. Enquanto isso, o guerreiro rindo jogou uma pedra contra o bicho que ao ser tocado virou fumaça.

– Tolice, uma cobra cuida de seu território nunca avançaria contra nós, caça animais pequenos a noite, somente uma cobra gigante teria coragem para caçar humanos e existem longe daqui em florestas bem diferentes – ria o guerreiro do anão agora irritado com o mago.

– Talvez deva usar isso contra o dono da cobra, creio que não possa lançar mais feitiços sem os dentes – falava irritado o anão apontando um enorme galho de árvore para o mago.

– Não se irrite, caro anão. Continue sentado conosco e aproveite sua bebida e sua comida, prometo que não farei mais nada durante essa noite – ria o mago da situação que criara.

– E então Daniel? Porque foi expulso da torre? Você nunca me contou por que foi banido pelos vermelhos – indagava Alerin que guardou esse pergunta por muito tempo.

– Humm… – visivelmente contrariado o mago começou a falar… – Bem… Falei dos três caminhos da magia de um mago vermelho, quando um  aprendiz domina esses caminhos, passa a ser considerado um mago vermelho… Não posso me denominar assim, pois não tenho controle sobre a manipulação, ainda fui expulso da torre e proibido de falar para as pessoas que sou um mago de Kar’l. Acredito que a transformação é um caminho melhor, entendam, controlo o caminho da dominação e da ilusão, acredito que seria uma grande vantagem para o mago ter a capacidade de criar uma ilusão e transforma-se em uma fera impiedosa. Imaginem uma pantera, uma onça, um urso com conhecimento de anatomia, seria mais fatal do que um mago com uma espada. Imagine um mago acuado quase sem energia, poderia se transformar numa ave e escapar do local, mas se desviar dos caminhos é considerado traição. Uma vez, fui punido por apenas falar sobre o assunto e severamente orientado a tirar isso dos meus pensamentos – Daniel parou por um tempo e prosseguiu.

– Saibam que dentro da torre, ou em qualquer local de estudo mágico de uma das seis ordens, existe uma grande biblioteca sobre magia com vários livros, além de alguns dos caminhos das outras, pois além de dominar os seus caminhos, um mago deve saber se defender contra outros, para isso deve entender como aquele caminho funciona. Não estou dizendo que são livros idênticos aos iniciados em outras escolas, são relatos de outros magos que entraram em contato e sobreviveram aos combates, mas existem livros roubados ou comprados no mercado negro. Roubam, interrogam e torturam para obter informações preciosas de outras escolas e descobrir as fraquezas de seus rivais – Daniel tomou um gole de sua bebida e pensou um pouco antes de recomeçar.

– Resolvi desobedecer meus mestres, peguei um livro de transformação da escola dos druidas e comecei a estudar esse caminho. Achei fascinante a capacidade de transforma-se numa fera, ter sua agilidade, vitalidade, força! Durante minhas folgas secretamente estudava e praticava essa magia até ser descoberto por um dos estudantes – o mago parecia chateado – fui entregue aos mestres…

– Enquanto fiquei preso, continuei estudando tanto a transformação quanto a dominação, foram dias solitários, mas aprendi muito e refleti sobre os caminhos… – falou o mago antes de ser interrompido

– Mas a sentença para traição não é a morte? Como conseguiu ser poupado pelos magos anciões? – indagava o curioso anão enquanto aproveitava sua bebida.

– Não! Existe um julgamento, obviamente tive minha vida poupada, porém fui expulso da torre, tive minha espada tomada, fui avisado para não tentar me passar por mago vermelho. Sou obrigado a contar a minha história para quem me perguntar, pois querem que sirva de aviso para os outros, ainda corro o risco de ser capturado por magos de outras escolas, e jamais devo retornar a torre de Kar’l, caso desobedeça qualquer uma dessas ordens, se os magos descobrirem, serei caçado e morto por eles – cansado de tanta falação, o mago sentou e tomou alguns goles de sua bebida.

– Saí de lá apenas com alguns trapos, umas anotações e essa adaga para me defender. E agora sou um mercenário junto com meu sócio anão. Provarei algum dia que estava certo! Acredito que posso obter os livros da magia no mercado negro e retomar meus estudos, então faremos fortuna e fama pelo reino! Um brinde companheiros! – levantou sua bebida para dar um belo gole.

Beberem e se animaram com várias histórias sobre as aventuras do guerreiro que valorizava e aumentava seus feitos, mas nada tão interessante quanto a história do mago.