A trinta passos da estrada, eles fizeram o túmulo. Larliel achou algumas flores para decorar o descanso de Alessandro, companheiro de muito tempo de Edgardo e Túlio, que improvisaram uma lápide com as inscrições “aqui jaz um nobre protetor da Vila da Vigília e grande amigo. Alessandro Gulotti”. Edgardo em poucas palavras descreveu o caráter do amigo e seus aventuras ao seu lado. Lembrou do último momento de heroísmo do colega, sacrificando-se para que os amigos ficassem vivos. Túlio ficara acuado e seria morto pelos inimigos, mas Alessandro fez um esforço sobre-humano repeliu o ataque acertando o braço do adversário. Tal movimento custou a mão que segurava sua espada, pois fora decepada pelo segundo adversário. O primeiro inimigo cravou sua espada no peito de Alessandro. Assim Edgardo, num golpe furioso, arrancou a cabeça do segundo com um forte golpe. Alessandro ainda se jogara sobre o segundo para imobiliza-lo. Foi tempo suficiente para que Túlio cravasse a espada no meio da cocha direita do maldito permitindo que Edgardo cortasse o pescoço. Foi o fim de Alessandro, rodeado pelos amigos que mais estimava, enquanto a escuridão eterna o abraçava.

Prosseguiram o seu caminho por mais algumas horas. Grande era a tristeza de Edgardo e Túlio. Perderam um amigo da infância. Haviam crescido e tornado-se homens juntos, eram o grande orgulho de suas famílias quando entraram para a guarda.

Não demorou muito para que encontrassem outra visão terrível. Um grupo de mercadores massacrados, seus corpos mutilados, sangue por toda a estrada. Alguns dos rostos dos mortos mostravam os sofrimentos que tiveram antes de serem mortos de forma tão violenta.

– Fizeram isso apenas por crueldade, não levaram mercadorias nem nada – disse Mitchel ao verificar que as duas carroças estavam cheias.

– O que faremos? – perguntou Edgardo.

– Temos que chegar rapidamente a Nerl, não podemos nos atrasar – disse Alerin.

– Ele está certo, o enterro daqueles desgraçados e desses coitados é de obrigação da cidade, avisaremos assim que chegarmos, concordam? – falou Daniel.

– Sim, mago, você tem razão – resmungou o anão.

– Deixem-me por alguns minutos fazer uma oração para acalmar os espíritos deles, depois encontro vocês – avisou a elfa.

– Eu e Túlio ficaremos com ela. Não se preocupem. Em pouco tempo nos encontramos – disse Edgardo.

– Tudo bem, acho sensato. Alerin, gostaria de conversar com você um pouco – falou o jovem mago.

– Depois, mago. Isso fica para outra hora, vamos! – disse o anão guiando o cavalo para seguir o caminho.

Larliel não gastou mais que meia hora rezando pelos pobres mercadores. Assim, algum tempo de depois se reencontraram na estrada faltando umas duas horas para chegarem a cidade.

Quando chegaram, a agitação tomava conta das pessoas que estavam reunidas nas praças sobre a fumaça que ainda era vista saindo da montanha cinzenta. Um grupo de bandidos invadiu a cidade matando seis guardas e fugiu pela estrada a caminho de Belo Jardim.

Daneil pediu para que Larliel, Edgardo e Túlio informassem as autoridades sobre os acontecidos no caminho até aqui. Foram em direção à grande casa do pai de Alerin. O anão parou por um momento durante o trajeto para fazer uma limpeza simples na arma que recuperou. Quando finalmente chegaram, a cena era triste: vários anões estavam em volta e dentro da casa, os empregados choravam pelos mortos. Eram oito corpos dentro do grande salão, quatro irmãos, a irmã mais velha, os sobrinhos e o seu cunhado. Um misto de ódio e tristeza tomou conta do coração do anão. Mitchel e Daniel perceberam isso.

Alerin recebeu um grande abraço da irmã. Ela o beijava várias vezes e o abraçava.

– Disseram que foram atrás de você, um deles disse que ia acabar com o herói da nossa família – continuava abraçando o irmão.

– Eu o achei. Vinguei nossa família. Preciso falar com meu pai – disse isso se soltando dos braços da irmã.

– Daniel, olhe a por mim – falou o anão sem olhar para o sócio.

Foi até o corpo do irmão mais velho e colocou sua espada nas suas mãos. Quem viu ficou admirado, pois isso significava que Alerin teria vingado a família e recuperado o artefato. No caminho para a sala de seu pai, encontrou a mãe. Foi uma conversa rápida cheia e emoção. Suas tias estavam ali para ajudar a ampará-la, então o jovem anão continuou para se encontrar com seu pai.

-Por Grurin! Você está vivo, meu filho! Espero que meu aviso tenha ajudado, não sabia que os malditos estavam atrás de nós – disse o pai dando um grande abraço e caindo no choro.

-Mataram meus netos, a família inteira, mataram seus irmãos, queriam as melhores armas anãs – falou o pai com um rio de lágrimas derramando dos olhos.

– Eu o achei, trouxe as armas que encontrei de volta. Vinguei meus irmãos e as espada de Ilarin está em suas mãos – bateu no peito com grande orgulho.

– Por Grurin, meu filho! – recebeu um grande abraço do pai, mais lágrimas rolaram, agora dos dois.

– Então o sacrifício deles não deve ser em vão – disse o velho anão. Quem o visse nesse estado perceberia que o patriarca perdera em dois dias uns dez anos de vitalidade.

Ele foi ao fundo da sala e pegou um grande objeto embrulhado em couro firme. Quando desenrolou, era o grande martelo de aço negro de sua família.

– Não deixei aqui, pois achei que na montanha era mais seguro. Sabiam e foram atrás. A família da minha filha pagou o preço pela minha escolha. O que eu fiz meu filho? – segurou o grande martelo. – Você é um grande anão, Alerin. Ela volta ao combate contigo. Você é digno. Seus irmãos irão te guiar. Grurin dará sua benção – então colocou a arma nas mãos de Alerin.

Era mais leve do que ele imaginava. A arma era negra de acabamento impecável. Seu bisavô foi o último a usar em combate.

Bela arma, garoto, é impressionante…

Alerin parecia fora do ar, a voz do nada fizera seu corpo sentir um pequeno calafrio. Não conseguia tirar os olhos da arma.

– Meu filho temos que retornar. Preciso ajudar a guiá-los de volta ao grande salão dos anões – o senhor anão disse isso segurando no ombro de Alerin.

– Tudo bem, pai – disse isso voltando a realidade.

No salão, três figuras observavam tudo cobertas de mantas escuras, mantas que eram usadas para esconder suas vestimentas vermelhas berrantes.

– Lá está ele, garota. Chame-o aqui – disse a figura mais velha de cabelo e barbas cinzentas.

– Sim, senhor – a garota escondera o sorriso do mestre, fora ao encontro do rapaz com pouca pressa passando calmamente pelos anões.

– E então? O que o conselho quer comigo? – disse Daniel tentando surpreender a pessoa que se aproximava, mas ele acabou mais surpreso – Ola, Isabel! Não sabia que era você, fico contente em vê-la – não conseguiu esconder o sorriso.

– Vejo que ainda carrega o meu presente, espero que tenha sido útil – ela retribuiu o sorriso.

– Foi. Gaças a ele que ainda estou aqui, muito…

– Mas preciso que você venha comigo, o mestre Castanho que falar com você – ela interrompeu apontando para o fundo da sala.

As figuras fizeram um gesto com a cabeça saudando Daniel. Era estranha essa atitude para um expulso. Daniel retribuiu o gesto e caminhou na direção deles.

– Porém, você não vai se apresentar ao mestre com isso – a jovem passou a mão por três vezes sobre os cabelos do mago.

– Quem tivesse alguma sensibilidade a magia veria pequenas faísca saindo do cabelo do mago.

– “Ele é meu”. Belo aviso. O que andou aprontando? – perguntou a maga deixando escapar um sorriso de canto de boca.

– Nada demais, vamos – respondeu achando graça e continuando em direção aos outros magos…