Quando a discussão entre Alerin e a elfa terminava, um jovem mensageiro se aproximou deles, era nitidamente um rapaz pobre, e figura conhecida da região.

– Senhor Alerin BlackHammer? Procuro o senhor Alerin, ele está aqui? – perguntou o jovem agitado olhando para o anão.

– Sou eu rapaz, o que queres de mim? – respondeu irritado

– Sou o mensageiro da torre dos pássaros, há uma mensagem urgente para ti, mas o custo é de trinta moedas de cobre. É uma mensagem do seu pai, senhor – foi o que o jovem rapaz conseguiu falar antes de recuperar o folego.

– Tome suas moedas, preste meus agradecimentos ao seu mestre, rapaz – entregou as moedas recebendo a mensagem enrolada.

– Vejamos se isso vale apena – ele desenrolou a mensagem com cuidado. A letra era de seu pai. Por um momento o rosto do ano ficou branco, mas a fúria logo veio em seguida.

– A montanha cinzenta foi atacada ontem, foi saqueada por um grupo de ladrões. Meus irmãos que estavam na guarda morreram, Ilarin e Denarin. Que Grurin tenha os recebido bem! Os malditos que fizeram isso vão pagar, esses ladrões não irão viver por muito tempo – deu as costas ao grupo indo em direção ao estabulo.

– Alerin! Você não vai só – falou o mago.

– Não, a companhia não tem nada a ver com meus problemas – disse o anão.

– Se não tivesse, não serviria de nada. Senhores, estamos de partida em meia hora, estejam todos prontos – ordenou Daniel.

– Sim, senhor! – saiu uníssono, os cinco foram se preparar para partir.

– Obrigado, sócio – agradeceu o anão.

– Por Kar’l, levaremos eles à justiça, senhor anão – disse o mago.

– Sim, à justiça do meu martelo e à forca da montanha se sobreviverem a ele, aqueles malditos – o anão terminou soltando algumas injurias.

Em vinte minutos, o grupo estava saindo de Belo Jardim. Eles observaram as barracas improvisadas pelo prefeito para acolher as pessoas que chegaram de vila da Vigília. Os três jovens e antigos guardas olhavam com tristeza aquela situação.

– Não precisava terminar dessa forma – disse Edgardo para Túlio e Alessandro.

– Verdade, mas devemos esquecer nossa vida antiga – falou Túlio ao amigo, Alessandro confirmava balançando a cabeça.

– Senhores, sejamos rápidos, não queremos dormir próximo ao local amaldiçoado, não temos jovens senhoras para reclamar dos cavalos e serem bajuladas por nosso amigo aqui – disse Alerin se referindo ao trapaceiro e a elfa.

– Meu nome é Mitchel, meus caros, meu sócio ainda não se acostumou com a ideia aparentemente – o ladino fora convidado pelos dois para fazer parte dos lucros.

– A propósito, meu nome é Larliel, já que ninguém perguntou – falou a elfa visivelmente contrariada.

Eles cavalgaram com pressa e cuidado, pois não queriam desgastar os animais além do necessário. Tinham desistido da ideia de usar um animal de carga, então distribuíram os mantimentos entre si e partiram sabendo que, em caso de qualquer imprevisto, seriam obrigados a racionar. O anão se manteve calado boa parte do caminho, quebrava o silêncio com algumas perguntas de Daniel, mas respondia asperamente. Os três jovens que os acompanhavam também ficavam calados bastante tempo, mas conversavam entre si algumas vezes contando histórias de suas infâncias. Já Larliel era quase sempre cortejada pelo trapaceiro. Ela ignorava o ladino, mas gostava de conversar com Daniel, achava sua história interessante, mesmo sabendo só uma parte que foi contada por Mitchel.

Passaram pelo desvio no meio da tarde, voltaram à estrada original e conseguiram acampar a duas horas de distância do inicio do desvio. Acamparam próximos à estrada em um terreno aberto.

O amanhecer foi triste para Alerin. Tivera um sonho estranho com seus irmãos. Na verdade, sabia que não havia sido um sonho. Fora uma despedida. Seu pai tinha muito orgulho de Ilarin e Denarin, pois eram guardas valorosos na montanha e bem respeitados. Ilarin, o mais velho, estava destinado a se tornar um capitão. Outa coisa deixava Alerin ainda mais inquieto, pois sua irmã, seus sobrinhos, seu cunhado e Milnarin também apareceram no sonho. Nele, estavam prontos para uma grande viagem, estavam em roupas belas, e as crianças, felizes para conhecer um novo lugar, brincavam de felicidade. Foi a primeira vez que Daniel viu uma lágrima escorrer do rosto do anão. Larliel ficou impressionada também ao acordar com essa cena. Notou ainda que seu dejejum estava pronto, pois Mitchel acordara um pouco mais cedo e fizera esse agrado a elfa.

– Aceito sua gentileza, senhor, mas gostaria de perguntar algo. Essas marcas ocultas, como conseguiste? – indagou a jovem que surpreendeu um pouco Daniel que escutava a conversa.

– Não te preocupas, mago. Não foi roubo ou algo grave – disse o trapaceiro.

– Verdade, mas foi algum golpe? A mensagem diz “não confiável”, ficou bem abrangente, concorda? – insistiu a mulher.

– Isso foi um negócio ruim com elfos. Tentei tirar uma vantagem, não gostaram, assim, no seu estilo, deixaram uma mensagem para o próprio povo, certo? – explicou bem pouco.

– É, suas feições confirmam o que diz, apesar da mensagem – falou a garota.

– Espero que isso não nos atrapalhe muito com os elfos, meu novo sócio – falou Daniel com desconfiança.

– Claro que não, espero provar no futuro que sou indigno dessa marca – comentou bem animado.

– E talvez ter o apoio de Larliel, claro – disse Daniel.

– Posso ser uma voz a seu favor, se for digno disso, mas pare com as bajulações agora se queres minha ajuda no futuro. Entendido, Mitchel?! – falou com voz irrita.

– Sim, senhora, chega de bajulações – concordou passando a mão no bigode.

– Certo, chega de papo, vamos seguir, tenho que chegar o mais rápido possível em casa – gritou o anão chamando a atenção de todos.

Em pouco tempo estavam prontos novamente para seguir viagem. O dia estava estranho, algo sombrio parecia espreitar os viajantes. As nuvens escondiam o sol, o vento frio soprava com insistência. Larliel notara algo diferente, sua intuição a deixara em alerta.