Vocês já perceberam que muitas pessoas colocam a culpa de seus problemas de saúde na genética? Elas dizem: “Ah, porque tenho uma genética ruim, vou ter isso ou aquilo”. Ou dizem: “Não consigo emagrecer por culpa da minha genética. Lá em casa, todos são obesos”. Se você faz parte desse grupo e ainda culpa sua genética, está na hora de conhecer melhor o que é a “epigenética” e a “nutrigenômica”, que buscam entender as alterações nas expressões dos genes de cada indivíduo. 

Você precisa saber que a genética não é totalmente determinante. Doenças como obesidade, diabetes, hipertensão e câncer podem aparecer como consequência do nosso estilo de vida. Isso ocorre porque o corpo pode até ter o gene determinante daquela doença, mas são suas escolhas e modo com que vive, como sedentarismo, má alimentação, estresse e tabagismo, que irão “acordar” esse gene, fazendo com que ele se manifeste. Da mesma forma, bons hábitos alimentares, por exemplo, podem causar mudanças benéficas no organismo.

Uma pessoa pode ter, por exemplo, uma herança genética familiar que favoreça o diabetes, mas por meio da epigenética, de seu comportamento e estilo de vida, ela é capaz de redefinir a sua expressão gênica. Diferente do que muitos pensam, a genética pode até tentar dizer o que você será ou terá no futuro, mas é seu estilo de vida que determinará isso de fato. Mas vamos entender melhor como isso é possível.

Foi no ano de 2000 que saiu o primeiro rascunho do genoma humano. Só 2003 declarou-se oficialmente terminada a primeira etapa do Projeto Genoma Humano. Através dele se fez possível a identificação e diferenciação na sequência dos genes, que resulta nas variadas respostas individuais diante de fatores ambientais. Essas diferenças genéticas são chamadas de single nucleotide polymorphisms (SNP). Com esse conhecimento, surgiu no mercado um exame chamado “mapeamento genético”, onde parte dos vários polimorfismos de um indivíduo, são identificados, e dessa forma podemos ver quais são as suas predisposições genéticas à certas doenças crônicas não transmissíveis e intervir até mesmo antes do aparecimento delas.

Através disso, se fez possível a nutrigenômica, que é uma área relativamente nova da ciência, e de extrema relevância para o futuro da nutrição. Isso, devido ao fato dela ser uma terapêutica preventiva, onde através dos nutrientes e compostos bioativos presentes no alimento pode-se ter uma modulação da expressão gênica (alteração do DNA). Tendo esse conhecimento, nós, profissionais de nutrição, podemos então adequar a dieta de forma individualizada, buscando os benefícios nutrigenômicos, ou seja, com o intuito de prevenir que o indivíduo chegue a apresentar as doenças de acordo com a sua predisposição genética.

Um exemplo de composto bioativo com esse efeito nutrigenômico é o ácido graxo ômega-3, em especial o EPA e o DHA. O ômega-3 tem efeito preventivo e com potencial de inibir o aparecimento de certas doenças.  Existem inúmeros estudos mostrando a sua capacidade de modular os genes de indivíduos em todas as fases da vida, em especial em gestantes e lactantes (trazendo muitos benefícios para o feto e para a criança), e também em idosos.

Existe também muita controvérsia sobre o seu consumo (se o salmão é intoxicado por metais pesados, se vale a pena ou não suplementar, se o ômega-3 é mesmo essa coca cola toda-ops-, então vou deixar esse assunto pra um próximo texto, ok?). Mas sabe o que é mais legal? Existem vários outros alimentos que tem esse potencial nutrigenômico!

É claro que, por essa ser uma ciência relativamente nova para a nutrição, outros estudos são necessários, mas é muito entusiasmante acompanhar seu progresso, e imaginar que com isso o futuro da nutrição e da medicina tem “a faca que o queijo” para ser cada vez mais preventivo.

Para saber um pouco mais sobre epigenética, vale a pena conferir o Scicast nº196, exclusivamente sobre o assunto. E para mais informações como essa, dicas e receitas, siga o meu instagram @elisarlobo e o canal do YouTube Conversa Nutritiva 

 

Bibliografia consultada:

LIMA, Ana Rita da Cunha. Nutrigenômica. 2014. 67f. Dissertação de Mestrado. Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2014.

Associação Brasileira de Nutrologia, v.7, n 3, Setembro de 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Estatuto do idoso. Brasília, DF, 2003.


Elisa Lobo. Apaixonada por nutrição (apesar de cansada de responder se “banana pode?”), radialista, e mãe de 2 (ou três se colocar o marido pra jogo).