Dificilmente alguém que não trabalha com linguagens já parou pra apensar “ mas, o que diabos é uma pergunta?”, mas certamente já se questionou se fez a pergunta certa em algum momento da vida. Nesse texto eu discuto não só as várias interpelações que podem ser consideradas perguntas, como te ajudo a formular a pergunta perfeita!

Responde rápido: O que é uma pergunta?

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Provavelmente, o que te veio à mente foi uma interrogação. Sim, perguntas geralmente estão relacionadas a interrogações: “Que dia é hoje?” ou “O que temos para o almoço?”. Só que não paramos para pensar que o contexto é quem dita para a gente se algo é uma pergunta ou não.

Uma interrogação como “Rafaela, que horas são?”, se colocada em um contexto em que Rafaela é uma aluna que chegou atrasada na sala de aula e quem perguntou foi a professora, na verdade essa interrogação não é realmente uma pergunta. A professora não quer saber a hora. A interrogação é, na verdade, uma bronca (“você está atrasada!”) disfarçada de pergunta.

E o contrário, será que acontece? Algo que não é uma interrogação ser visto como uma pergunta? Pensa aí!

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Mais uma vez, pensar em exemplos isolados deixa a vida mais difícil. Pense em uma situação. Foto sua na balada no Instagram. Chega aquela mensagem no privado daquele amigo que você deixou de ir no aniversário porque estava “doente”, mas esqueceu e postou a foto. “Vi que saiu ontem”. Não é uma interrogação, mas essa declaração tem por trás um monte de questionamentos (“Por que você não veio no meu aniversário?” ou “Por que mentiu?”).

Ser capaz de ler entrelinhas é muito importante até para pensar na melhor resposta. E para isso, precisamos entender que nem toda pergunta vem com uma interrogação. Você pode até escolher se fazer de doido e responder algo como

“Pois é! Foi massa!”,

mas não será pego de surpresa se o amigo desaparecer da sua vida. Agora respostas como

“Sabe o que foi? É que um amigo que não mora na cidade apareceu e, mesmo muito doente, não consegui falar não. Como você é meu melhor amigo, sabia que entenderia se eu não fosse no seu aniversário. Até porque vamos dar uma saída no próximo final de semana para compensar, não é mesmo?”

respondem às perguntas que estavam por trás daquele comentário sobre a foto.

Deu pra ver, pelos dois exemplos que dei que o contexto é muito importante para entendermos uma pergunta. Mas como fazemos para melhor elaborarmos uma pergunta?

Bom, agora, além do contexto, precisamos levar em conta o que você quer como resposta. Vamos pensar no contexto de um relacionamento. É sexta à noite e você está querendo programar seu final de semana. Que pergunta você faz para o seu alguém especial?

a) (   ) Qual a boa do final de semana? (ou qualquer outra coisa que vocês jovens digam)

b) (   ) O que a gente vai fazer neste final de semana?

c) (   ) O que você vai fazer neste final de semana?

d) (   ) Que tal um Netflix and chill sábado?

 e) (   ) O que acha de um cineminha depois do almoço na casa da minha avó?

Eu poderia seguir aqui com mais um tantão de exemplos, mas vamos olhar esses, por enquanto. Como eu disse, só o contexto não é mais suficiente. Cada uma das escolhas acima implica você dar maior ou menor liberdade de escolha para o outro.

Se você escolheu a),

Você não quer guerra com ninguém. Está deixando a pessoa bem livre, tanto para dar ideias boas, como para dizer que ela já tem planos que não te incluem.

Se você escolheu b),

Você ainda não quer guerra com ninguém, mas tem uma certeza: você quer fazer algo junto esse final de semana!

Se você escolheu c),

Talvez você esteja disposto a ter uma briguinha… (Ou não dependendo do tipo de pessoa com quem você se relaciona, ou se ela não lê entrelinhas) Ao fazer essa escolha, muito provavelmente você quer um tempo só para você. Ou está precisando de um certo convencimento para encontrar com a pessoa. Se ela for fazer algo legal, até rola…

Se você escolheu d),

Você sabe o que quer! Será que a outra pessoa vai topar? Você não deixou muita margem de opção. Você disse o que quer fazer e espera que ela tope, ou dê uma ideia melhor.

Se você escolheu e),

Você só falta querer controlar a roupa que a pessoa vai vestir. Hehehehehehe! Vocês podem até não ir ao cinema, mas o almoço na casa da avó é certo.

Por favor, povo, essa é uma brincadeira! Tem outros milhões de fatores de contexto que vão interferir na decisão de formular essas perguntas. Pode ter o aniversário de 100 da avó, que é massa, todo mundo está doido pra ir e já tinha sido decidido há meses! Entende?

O que eu quis mostrar é que podemos formular perguntas que deem mais ou menos espaço de resposta para a pessoa com quem você está falando. Cada situação pede um tipo de pergunta diferente. E cada pessoa também. Sabe aquele amigo que não consegue decidir nada? De repente é mais estratégico dar duas opções legais do que perguntar “Onde você quer ir?” ou “O que você quer comer?”.

A gente faz e responde perguntas o tempo todo. Analisar como elas são feitas pode ter dar uma ideia legal de como as pessoas interagem, das relações que as pessoas têm entre elas e até de como o meio influencia nesse comportamento. Você já leu o meu texto sobre entrevista policial?

Essa última pergunta era realmente uma pergunta?

E essa?

E essa?