Você já se questionou como continuaria suas atividades sociais e profissionais durante a pandemia da COVID-19 se não existissem TICs? E quais TICs teve que incorporar ao seu dia a dia nesse período? O texto de hoje mostra como uma parcela da população brasileira adaptou sua forma de atuar e colaborar com o apoio das TICs.

Vou começar meu texto falando uma coisa que todos estão vivendo na pele há 1 ano: a pandemia da COVID-19 ainda é uma realidade em nosso dia a dia, com impactos que trouxeram muitas mudanças na vida das pessoas e organizações. No nível pessoal, medidas mais severas de higiene, uso de máscaras e distanciamento social. No nível organizacional, adaptação da forma de operação na tentativa de não parar completamente as atividades (home office e ensino remoto).

Durante a pandemia, percebeu-se que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) desempenham papel essencial no apoio às pessoas em suas atividades diárias. Elas permitem a comunicação entre familiares/amigos, manutenção das atividades de ensino via Internet e continuidade de trabalhos de forma remota. Quem não se lembra do movimento #stayAtHome em posts nas redes sociais ou não se beneficiou das muitas funcionalidades premium de ferramentas que se tornaram gratuitas nesse período?

Nesse contexto, eu e mais e mais dois pesquisadores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO (Tadeu Classe e Paulo Sérgio Medeiros) resolvemos compreender o uso das TICs durante a pandemia de COVID-19, analisando como elas apoiam o trabalho colaborativo no setor de TI. Essa escolha se deu porque, no momento da execução da pesquisa (meados de 2020), (a) pouco se sabia sobre o uso de TICs durante a COVID-19; (b) percebemos a potencialização da necessidade de colaboração entre as pessoas nesse período (link para um texto meu sobre o papel da colaboração para a Ciência) e uso de ferramentas computacionais de apoio; e (c) como profissionais de TI, gostaríamos de enxergar a pandemia sob a lente dos nosso pares.

Assim, organizamos um survey que contou com a participação de 368 pessoas que possuíam algum relacionamento com a área de TI (estudantes, profissionais e pesquisadores). Essas pessoas responderam questões que nos ajudaram a avaliar o nível de distanciamento social exercido, as atividades desempenhadas durante o período, as TICs utilizadas, o suporte à colaboração oferecido pelas TICs, bem como o perfil dos participantes.

Perfil dos participantes

Focando especificamente na colaboração, o Modelo 3C apoiou a análise da colaboração. As TICs também foram categorizadas em grupos, de acordo com o propósito original pela qual foi desenvolvida. Por exemplo, o Google Meet é uma ferramenta de reunião enquanto o Trello é uma ferramenta de coordenação de tarefas.

Categorização das TICs

Em relação à comunicação, as TICs mais usadas pelos participantes foram as relacionadas às categorias mensagens (WhatsApp – 344; E-Mail – 322) e reuniões (Google Meet/Hangouts/Duo – 170; Skype – 109; Zoom – 105), que estão intimamente ligadas à possibilidade de troca de mensagens, argumentação e negociação entre as pessoas envolvidas). Mas observamos também o uso de TICs de outras categorias, como armazenamento (Google Drive – 104) e documentos (Google Docs/Sheets – 96), o que  indica que a comunicação não ocorre somente pela troca de mensagens explícitas, podendo ser feita também por outros meios, como documentos e repositórios que armazenam informações importantes para a argumentação e negociação entre as pessoas.

Para a coordenação, as TICs mais usadas foram aquelas voltadas à troca de mensagens (WhatsApp – 228; E-mail – 226) e reuniões (Google Meet/Hangouts/Duo – 89; Microsoft Teams – 65). Isso nos chamou atenção, já que a categoria “coordenação de tarefas”, que mais se aproximava do objetivo deste aspecto colaborativo (gestão e controle da colaboração), obteve apenas 67 respostas. Compreendemos que a coordenação muitas vezes é operacionalizada através de TICs que não foram projetadas para esta natureza, mas que permitem às pessoas se comunicarem sobre como gerenciar e controlar as atividades do grupo, realizando ações para este fim de diferentes formas (com ou sem TICs desenvolvidas).

Já na cooperação, as TICs mais usadas foram as relacionadas à troca de mensagens (WhatsApp – 163; E-Mail – 148), documentos (Google Docs/Sheet – 132), armazenamento (Google Drive – 104) e reuniões (Google Meet/Hangouts/Duo – 96). Como percebido na coordenação, o grande uso de TICs na categoria de mensagens e reuniões também pode indicar que as pessoas fazendo uso de outras TICs para comunicar como um trabalho conjunto deve ser realizado.

Esses resultados nos permitiram concluir que os estudantes, profissionais e pesquisadores de TI estão usando as TICs, majoritariamente para suporte à comunicação e cooperação com seus pares. Isso se tornou claro ao observarmos o uso de TICs para troca de mensagens, reuniões e edição de documentos. Além disso, vale ressaltar que outras dimensões colaborativas são importantes para manutenção do trabalho: sem coordenação, as tarefas não podem ser atribuídas ou gerenciadas; sem percepção torna-se desafiador compreender responsabilidades, onde uma tarefa é realizada e seu impacto em outras atividades; e sem memória compartilhada, o histórico de colaboração ou contexto sobre uma decisão tomada é perdido. Também é importante destacar o uso de TICs específicas, tais como WhatsApp e E-Mail, pelos participantes em todas as dimensões colaborativas analisadas. O amplo uso destas TICs pode ser explicado pela difusão de tais ferramentas para uso pessoal na cultura brasileira, a qual, devido à necessidade do trabalho remoto, estão sendo usadas para fins profissionais com maior frequência.

E como esse é um recorte bem específico da população brasileira, eu finalizo meu texto perguntando a vocês: Como você adaptou sua forma de atuar e colaborar com o apoio das TICs? Teve que usar essas mesmas ferramentas ou outras foram necessárias?

 

Para saber mais:

  • Diirr, B.; Classe, T.; Medeiros, P.S. “Uso de TICs para Apoio à Colaboração Durante a COVID-19”. In: Simpósio Brasileiro de Sistemas Colaborativos (SBSC), 2021.