São 210 milhões de pessoas, 26 estados (mais o DF) em um território de 8,5 km². Resultado: uma linda miscelânea de costumes e hábitos alimentares!

Sorte de quem tem a oportunidade de conhecer todas as regiões desse nosso Brasil. Eu não sei vocês, mas não tem nada que eu goste mais do que viajar e poder experimentar comidas novas, em especial as típicas de cada lugar.

Para a minha lista ficar completa falta percorrer muitos quilômetros ainda, mas ainda assim eu te convido a me acompanhar em um passeio virtual em forma de texto! Vamos?

Se eu te perguntasse qual é a prato com a cara do Brasil, qual seria o primeiro que viria à sua memória? Eu, se fechar os olhos, sou capaz até de sentir o cheiro de uma boa feijoada. Mas eu sei que nem todo mundo vai pensar nela. Talvez a resposta mais comum seja arroz com feijão. Será que foi isso que você pensou? Mas saiba que nem mesmo o simples arroz com feijão é tão simples assim, porque há uma enorme variação na forma de preparo, em especial no tipo de tempero usado de acordo com o local.

Vamos começar pelos lindos sulistas, mas, por favor, não pensem que por lá só se consome churrasco. É preciso tirar o chapéu para o delicioso arroz carreteiro, o famoso Eisbein (uma preparação catarinense de joelho de porco), e a iguaria em forma de doce que é a cuca. E como falar dessa região sem citar o tão famoso chimarrão, queridinho dos guapos gaúchos, que é uma bebida à base da erva mate, consumida normalmente bem quente e que, diga-se de passagem, tem várias propriedades nutricionais interessantes.

Daremos agora um salto lá para o norte dessa nossa terra mãe gentil, onde temos uma baita influência indígena. Região que é privilegiada pela riqueza de ingredientes da floresta amazônica e pelos seus rios, tem inúmeros pratos à base de peixes, como é o caso do Pirarucu, do Tacacá, da Caldeirada de Tambaqui e da Mujica de peixe.

Um prato bem complexo servido por lá, em especial quando se chega no Pará, é o Pato no Tucupi, que é a carne de pato com um caldo feito da raiz de mandioca e folha de jambu. Além disso, não posso deixar de citar o verdadeiro açaí (que é bem diferente do que consumimos nas outras regiões do país) e a maniçoca que é uma feijoada paraense (que curiosamente não leva feijão).

Eis que chegamos no nordeste brasileiro, muitíssimo famoso pelas suas praias e clima tropical, também possui uma vasta e marcante culinária. Pratos como o baião de dois, que é típico do Ceará e tem como base ingredientes simples, como arroz, feijão, carne seca e outras delícias mais, e a moqueca de peixe já caíram no gosto popular (e são pratos inclusive, que eu particularmente adoro).  Além disso, é impossível chegar ao nordeste e não pensar na Bahia e seu tradicional acarajé, só não vale deixar de citar também a tapioca (ou beijú), a rabada, o bobó de camarão, o cuscuz e, claro, a tão famosa cocada.

Com uma culinária altamente influenciada pela pecuária, estamos agora no centro-oeste.  Os ciclos de imigração também trouxeram elementos marcantes da culinária africana, portuguesa, italiana e síria. Além disso a forte presença indígena aumentou a preferência regional por raízes. Ao norte da região, com a proximidade com o Ceará, refletiu diretamente no preparo de alguns pratos, como os que são feitos com carne-de-sol e pequi. O Mato Grosso do Sul, no entanto, sofreu forte influência da culinária latino-americana, sobretudo nos ensopados de peixe. E devido à diversidade da fauna pantaneira, carnes exóticas e peixes típicos da região, como Pacu, Pintado e Dourado também preenchem o cardápio local.

Um prato interessante que vale a pena ressaltar é a sopa paraguaia, que na verdade não é uma sopa, e sim um bolo salgado feito de farinha de milho.

Por último, mas não menos importante, chegamos na minha querida região: o sudeste. Dividido por 4 estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais), seus principais pratos contam com ingredientes realmente simples, como raízes, carnes, grãos e vegetais, com uma exceção para a culinária capixaba que, por sua grande área litorânea, tem uma forte presença de peixes e frutos do mar no dia a dia.

Agora, passa um café, corta um queijo e vem comigo, porque (com a sua licença para não ser imparcial), vamos falar das nossas delícias mineiras. Quero dizer em nossa defesa que em Minas não se come só pão de queijo, apesar de que de fato você vai encontrar esse danadinho em cada canto. Temos o feijão tropeiro, que é uma mistura de feijão, carne, farinha de mandioca, ovos, torresmo, couve e outros temperos, que, por mais estranho que possa parecer, é um prato servido até em muitos estádios mineiros. Vale citar também a nossa vaca atolada, o tutu, o frango com quiabo, o torresminho, o Romeu-e-Julieta (goiabada com queijo) e o doce de leite.

Antes de finalizar, preciso deixar minha menção honrosa aos pastéis fritos, sanduíches de mortadela e pães na chapa que tanto encontramos nas esquinas do sudeste brasileiro, e em especial ao biscoito globo com mate das praias do Rio de Janeiro, e ao purê de batata do cachorro-quente de São Paulo.

É como eu sempre digo, comer vai muito além de nutrir o corpo. É um ato cultural, político, emocional, e claro que também nutricional. E é certa de que esse texto nos deixa não só com um apetite daqueles, mas também com um desejo latente de viajar por esse “Brasilsão de meu Deus”, que me despeço dizendo:

Se você puder, fique em casa!

Obs.: Aos leitores do futuro, saibam que esse foi um texto escrito durante a quarentena devido à pandemia da COVID-19.