Ad Astra – Rumo às Estrelas  – dirigido por James Gray (que também foi co-autor do roteiro). Estrelado por Brad Pitt (que também fez parte da equipe de produção).

“Ad Astra per Aspera” é uma expressão em latim bem conhecida no meio astronômico (amador e profissional). Pode ser traduzido como: por ásperos caminhos se alcança as estrelas. Tem o significado de chegar à glória por caminhos árduos ou alcançar o triunfo (a imortalidade) através de dificuldades. Tem sido o lema de diversas entidades (governamentais, educacionais, militares etc) entre elas a Real Força Aérea britânica (RAF). O termos já foi, inclusive, título de filme e livro de ficção científica russos (filme de 1981 Richard Viktorov baseado no livro de Kir Bulychov). Bastou dar uma olhada rápida na resenha do filme para ver que não tem nada a ver com o filme atual

Comparações entre Ad Astra e Interestelar ou 2001 não são justas. Apesar do excelente cuidado visual de Ad Astra não dever nada aos dois grandes filmes espaciais citados, sua proposta é bem menos ambiciosa. O plot básico é a dura viagem física e simbólica de um astronauta (Brad Pitt) em busca de seu pai (Tommy Lee Jones), que pode ter ficado louco e ameaça a Terra dos confins do Sistema Solar. Um colega definiu bem o filme: “é como levar o divã pro espaço”. A enfase numa busca de cura psicológica através de uma viagem inclui todos os traumas que envolvem a figura paterna do personagem mais a ameaça a sanidade que as viagens espaciais podem gerar. Ao conversar sobre o filme, surgiram comparações com as duas versões Solaris (soviético de 1972 e americano e 2002) de Stanisław Lem (1921-2006). Pessoalmente não gosto muito de nenhum dos dois. E realmente são parecidos: uma modernidade de ambiente e uma discussão romantizada e clássica do sofrimento humano. Na mesma linha de astronautas torturados por problemas psicológicos familiares temos filmes como Gravidade e O Primeiro Homem. Será que o esterótipo do astronauta mal resolvido tem seu charme?

Achei o filme um desperdício de grandes atores e cenografistas. Atores que merecem menção: Donald Sutherland e Tommy Lee Jones (ambos participaram do filme Space Cowboys de 2000), Liv Tyler (Armageddon, 1998) e Ruth Negga (Agentes da S.H.I.E.L.D, 2013)

O diretor, ao anunciar o projeto em 2016, disse querer reproduzir “a representação mais realista das viagens espaciais que foi colocada num filme”. Não conseguiu. Uma coisa que me incomodou muitíssimo foi a consultoria científica que ou foi ignorada em função da intenção dramática ou realmente foi descuidada em excesso. Alguns tópicos especialmente mal cuidados:

CONTÉM SPOILERS

Viagens de longa distância feitas em navezinhas apertadas sem animação suspensa (ou coisa que o valha) ou gravidade artificial seriam muito mais danosas ao astronautas. Não seriam só suas mentes que iriam ser prejudicadas: ossos descalcificados, músculos atrofiados e etc.
Num momento a pequena navezinha pega uma onda numa explosão nuclear como se surfasse em plasma superaquecido e radioativo. Não ia sobrar astronauta nenhum pra contar o drama paterno.

A nave do astronauta-pai encontra-se em Netuno, o que me fez lembrar do filme de terror espacial Event Horizon (1997).
Houve que sugerisse que Ad Astra é uma espécie de Apocalipse Now (1979) no espaço. Veja e tire suas conclusões se meus spoilers não te fizeram desistir do filme.