Apesar da popularização recente da Internet das Coisas, o conceito não é tão novo assim. O termo ‘Internet das Coisas’ foi oficializado em 1999, mas antes disso já havia trabalhos nesse sentido. O primeiro trabalho realizado é de 1982, da Carnegie Mellon University. O projeto foi de um grupo de programadores e o que eles fizeram foi bem simples: conectaram uma máquina de refrigerante na internet e, com isso, ela era capaz de expor o seu inventário e se as bebidas estavam geladas ou não. Nessa época, a internet era uma das únicas tecnologias disponíveis para fazer comunicação entre dispositivos. Hoje, há uma quantidade muito maior de tecnologias disponíveis para integrar a IoT (Internet of Things). Entre eles, temos: códigos de barras, códigos QR, comunicação de rede sem fio, sistemas microeletromecânicos (MEMS), sistemas embarcados, automação (incluindo a automação de prédios e residências), redes de sensores sem fio, GPS, sistemas de controles e outros. Com essa convergência de tantas tecnologias, a IoT possibilitou diversas aplicações e abriu muitos caminhos.

O conceito

Kevin Ashton, diretor executivo dos Laboratórios de Identificação Automática do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi o primeiro a cunhar o termo e descreve-lo. Durante uma apresentação para a Procter & Gamble, Ashton declarou:

“Hoje, os computadores e, portanto, a Internet, dependem quase totalmente dos seres humanos para obter informações. Quase todos os cerca de 50 petabytes (um petabyte tem 50.000.000 gigabytes) de dados disponíveis na Internet foram capturados e criados pela primeira vez por seres humanos, digitando, pressionando um botão de gravação, tirando uma foto digital ou digitalizando um código de barras. O problema é que as pessoas têm tempo, atenção e precisão limitados. Tudo isso significa que eles não são muito bons em capturar dados sobre coisas no mundo real. Se tivéssemos computadores que soubessem tudo o que havia para saber sobre as coisas, usando os dados que eles coletavam sem a nossa ajuda, poderíamos rastrear e contar tudo e reduzir muito o desperdício, a perda e o custo. Saberíamos quando as coisas precisavam ser substituídas, reparadas ou lembradas e se elas eram novas ou passavam do seu melhor”

Mark Weiser propôs em seu artigo The Computer for the 21st Century a ideia de computação pervasiva. Esse conceito é muito interessante. Ele propõe que no século 21 as interconexões entre dispositivos vão ser tão comuns na vida das pessoas que ela vai parecer invisível, como a internet é hoje. Em 2016 a ONU definiu a internet como um direito humano, enfatizando a importância da natureza “transformadora e única da internet”. As últimas gerações já nasceram em uma realidade totalmente conectada e não sabem como é um mundo sem smartphones e internet.

Como a IoT pode melhorar a qualidade de vida humana

A Internet das Coisas tem inúmeras aplicações e em diversas áreas, como: transportes, comunicação, automação residencial/doméstica, fabricação, agricultura, cidades inteligentes, gerenciamento de energia, monitoramento ambiental, segurança, economia, etc. Não à toa, é previsto que até o final de 2020, cerca de 20 bilhões de dispositivos estejam conectados.

Apesar de diversas áreas se beneficiarem da IoT, talvez a saúde seja o nicho que mais vai fazer diferença de fato na condição humana. Uma das aplicações é o monitoramento dos pacientes. A prevenção de problemas de saúde se torna muito eficaz com uma coleta em tempo real de informações sobre o seu corpo, deixando o diagnóstico cada vez mais preciso. Com isso, milhões de pessoas ganham uma melhor qualidade de vida, com menos doenças e mais tempo fora dos hospitais. Consequentemente, os hospitais ficam menos cheios e o atendimento melhora proporcionalmente. Os smartbands são um ótimo exemplo. Eles monitoram os batimentos cardíacos e a qualidade do sono, revelando informações importantes sobre os seus hábitos e estilo de vida.

Há ainda, a Internet das Coisas Médicas ou IoMT. Esse conceito é uma aplicação da IoT para fins médicos e de saúde. Ela atua, principalmente, na coleta e análise de dados para pesquisa e monitoramento. Esse monitoramento pode ser remoto, e isso levou à criação de um sistema de saúde totalmente digitalizado, conectando recursos e serviços de saúde, como a quantidade de remédios disponíveis nos hospitais e farmácias. Em 2018, a Smart Healthcare estava sendo aplicada nos setores de registro e agora está permitindo que médicos, pacientes e enfermeiras façam parte de um sistema em que os registros dos pacientes são salvos em um banco de dados permitindo aos médicos o acesso às informações detalhadas do paciente.

A aplicação de uma IoMT fica evidente como no caso de Bob Burdett, um idoso que foi salvo por seu smartwatch. Bob estava fazendo uma trilha de bicicleta, quando caiu no chão, bateu a cabeça e ficou inconsciente. Imediatamente, o smartwatch ligou para a emergência, que chegou ao local rapidamente. O dispositivo não só avisou a emergência, como também o filho que estava como contato de emergência. O filho chegou ao local 30 minutos depois, mas o pai já não estava mais lá. O socorro chegou muito rápido ao local, o que salvou a vida dele.

Bob e seu smartwatch quebrado pela queda.

O papel na acessibilidade

Outro caso interessante é o projeto Seeing AI, desenvolvido pela Microsoft. Esse aplicativo é voltado para pessoas com deficiência visual e é simplesmente brilhante. Ele trabalha usando diversas ferramentas e softwares, como: algoritmos de identificação visual, inteligência artificial, linguagem natural e as câmeras do smartphone. Com tudo isso trabalhando junto, o aplicativo é capaz de descrever o ambiente em que uma pessoa está, ler textos e responder a algumas perguntas. Com as últimas atualizações, ele se tornou capaz de identificar emoções nos rostos das pessoas. O desenvolvimento de formas de acessibilidade é muito importante na inclusão social.

Os benefícios não ficam apenas na saúde e na acessibilidade, todos ganham. Um relatório de 2015 da Goldman Sachs indicou que os dispositivos de IoMT “podem poupar aos Estados Unidos mais de 300 bilhões de dólares em gastos anuais com saúde, aumentando a receita e diminuindo os custos”. Esses 300 bilhões podem ser investidos em outras áreas ou reinvestidos na saúde, aumentando ainda mais a qualidade dos serviços.

A consolidação da IoT

Como dito anteriormente, o conceito de IoT não é novo. Mas porque a popularização só veio agora? Pela limitação tecnológica. Com o avanço da tecnologia, está cada vez mais fácil conectar qualquer tipo de objeto à internet. O que acaba beneficiando a IoT.

A nova tecnologia que irá expandir a IoT está em processo de implementação no mundo todo. Essa tecnologia vai auxiliar no desenvolvimento da IoT e provavelmente nos próximos anos haverá uma “explosão” de dispositivos conectados. E que tecnologia é essa? O 5G. Essa tecnologia promete ser 100 vezes mais rápida que o 4G. Mas a importância do 5G não está apenas nos downloads mais rápidos. Para efeitos de IoT, isso nem é tão importante.

Para um futuro em que bilhões de dispositivos estarão permanentemente conectados à rede, entre carros autônomos, drones, lâmpadas, sua cafeteira e qualquer outra coisa, é preciso de uma tecnologia que dê conta do recado. E o 5G é a tecnologia mais provável para isso. Mas por quê?

A real importância do 5G vem da capacidade de conectar muitos dispositivos ao mesmo tempo. A Intel em parceria com operadoras e fabricantes, desenvolveu chips e modens voltados à IoT. O 5G vai atender tecnologias já existentes e também as emergentes, como os carros autônomos. O Atom x3-M7272, por exemplo, fornece firewall e inspeção de pacotes para carros autônomos. O XMM 7115 conecta dispositivos NB-IoT (um padrão que oferece melhor cobertura de rede interna e suporta um número absurdo de dispositivos conectados) e o XMM 7120M é um modem voltado para aplicações máquina a máquina, com foco em monitoramento de segurança, rastreamento de bens e automação industrial.

Em alguns lugares específicos, a tecnologia 5G já está disponível. Essa evolução nas telecomunicações vai beneficiar, e muito, a Internet das Coisas. Com essa nova transferência de pacotes otimizada, a rede vai comportar muito mais dispositivos conectados e inovações vão surgir. É possível que nos próximos anos, tenhamos trilhões de dispositivos na rede.

Conclusão

Uma das promessas mais interessantes da IoT são as cidades inteligentes. O Smart Healthcare pode ser readaptado a outros setores e logo as cidades estarão funcionando com sistemas conectados uns aos outros.

É claro que, como tudo na vida, a IoT tem seus prós e contras. A internet, por exemplo, possibilitou que o mundo inteiro tivesse contato, encurtando as distâncias. Isso gerou revoluções, mas também tragédias. Ou como a energia nuclear, que possibilitou energia mais limpa, mas também bombas atômicas. Mas, no saldo geral, tanto a energia nuclear quanto a internet beneficiaram a humanidade. A IoT nos dá a possibilidade de fazer carros autônomos, mas, ao mesmo tempo, esses dispositivos podem ser hackeados e causar tragédias. Mas assim como a internet e a energia nuclear, a IoT vai somar mais do que subtrair. É uma tecnologia com grandes potenciais e devemos explora-la e tirarmos o máximo de benefícios.


Pedro Henrique. Programador e aspirante a físico. Especialista em transformar café em código e textos.