Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia da Letras, que disponibiliza livros do seu catálogo para os nossos redatores escreverem as resenhas. Livro de hoje: NightFlyers de G.R.R Martin

Sim, a primeira coisa que você deve querer saber é: É parecido com as Crônicas de Gelo e Fogo? e, assim, eu diria que não. LÓGICO que ser um livro de fantasia espacial ajuda muito a tornar ele diferente de um de fantasia medieval. Mas não é exatamente disso que eu estou falando. Ele não tem um GRANDE PLOT TWIST do estilo casamento vermelho. Ele não tem diálogos mega bem desenhados como os discursos do Tyrion no julgamento pela morte do Jofrey. Ele é outra coisa. Se você vai ler ele esperando um “Game of Thrones do espaço” é melhor não ler. Achei interessante deixar esse recado logo no início, porque bom, ele é um livro de um autor muito famoso. Comparações são inevitáveis.

Mas, se ele não é um “Game of Thrones do espaço”, ele é oque? Ele é uma história muito bem amarradinha sobre um grupo de pessoas que não tem muito amor pela própria vida. Sério, grande parte dos personagens tem um visão niilista da própria existência. Mas calma, também não é nada no estilo Rick and Morty. Eles só parecem não se importar muito com o fato de que estão em uma missão provavelmente suicida, mesmo que essa parte da “suicida” não seja um fato para todos eles.

É um livro de fantasia que essencialmente fala dos relacionamentos entre pessoas. Eu não li outras coisas do Martin além das crônicas (e todo o “universo expandido” que ele lançou até agora) e de algumas histórias escritas por ele na coletânea de Wild Cards. Mas essa parece ser a tônica principal da escrita dele. Os universos são pano de fundo para discutir a natureza multifacetada dos infinitos níveis de relações humanas (escrevi bonito né?).

E outro grande talento dele é criar universos. Em um livro de 140 páginas com ilustrações e diagramação grande, ele consegue criar um universo mega complexo e que dá MUITA vontade de saber mais. Um universo onde a humanidade já se espalhou pelo universo, já criou um império interestelar (alô, Palpatine!), já guerreou com outros impérios alienígenas, já perdeu a guerra, voltou a ganhar, e se espalhar mais uma vez. Em poucas páginas ele cria um sociedade humana que não é nem mais um sociedade. Não existe mais o conceito de uma única “humanidade”, existem humanos normais, humanos melhorados, humanos meio máquina, máquinas meio humanas. Só o que não mudou foi a natureza das relações. Pessoas ainda são pessoas. Ainda têm desejos, paixões, ambições e todos os outros sentimentos que nos tornam tão (ou nem tanto assim) únicos.

E é nesse universo tão diferente que a história começa. Um pesquisador consegue um financiamento para pesquisar uma raça alienígena até então só mencionada em lendas. Lendas mencionadas por diversas outras raças alienígenas, sob diferentes formas, mas todas contam a mesma história, a de naves que viajam longe de qualquer planeta, em velocidade inferior a da luz, e que nunca param, sempre viajando em direção a borda da galáxia. Com esse financiamento ele reúne uma equipe de especialistas e um capitão de nave “maluco” o suficiente para tentar encontrar esses alienígenas. O problema começa quando no meio da viagem o telepata do grupo começa a sentir cada vez mais forte uma presença ameaçadora. O resto você vai ter que ler para saber.

Eu tenho que dizer que CURTI o livro, não só pelos motivos expostos antes, mas porque eu consegui apreciar a simplicidade da história, eu gosto muito de histórias simples. Nada de muito rebuscado, nada de grandioso, somente uma boa história sendo contada por alguém MEGA talentoso. Como eu disse, é um livro curto, eu não sei bem qual é o limite entra um conto e um romance, mas eu arriscaria dizer que ele está mais pra um conto do que um romance mesmo. Um mudança bem agradável é ver que ele se sai tão bem com estilo de narração em terceira pessoa quanto com o estilo em primeira pessoa. Mesmo sem o recurso de poder mostrar intimamente os pensamentos de cada personagem, ainda sim ele consegue demonstrar bem as nuances da cena, as diferenças de percepções dos diferentes personagens em cena, e dar o toque de personalidade de cada um.

O projeto gráfico do livro é uma beleza a parte também. As ilustrações internas são FODAS! A capa eu achei especialmente bonita, o fato deles terem optado pela capa dura e a gramatura maior do papel foram acertos na minha opinião.

É um livro que vale o investimento de se ter ele físico, não tive a experiência dele na versão digital, mas senti que o projeto gráfico do livro foi um fator que melhorou muito a minha experiência de leitura. Em resumo é isso, um livro LINDO com uma história muito bem contada. Traz personagens cativantes e que dá vontade de ler tudo de uma vez ( oque nem é tão difícil, o livro é bem pequeno mesmo.).