Esse texto faz parte de uma série chamada:

ELEMENTOS QUIMICOS QUE NINGUÉM SE IMPORTA E ONDE HABITAM

Como ele foi planejado para ser serializado mesmo, é interessante que você leia os outros.

Para ler, você pode clicar aqui!

Vamos lá!

Chegou a vez do Tecnécio! Esse tem uma utilização muito relevante e presente no nosso dia a dia, mas provavelmente você não associa com o nome dele.

Nosso amiguinho da vez é um importante radiofármaco!

Sim, a principal utilização dele é ser agregado como marcador radioativo para exames de imagem. Pode parecer um conceito meio estranho né? Nós sabemos que alguns tipos de radiação são extremamente nocivas para a nossa saúde. Então porque diabos nós botaríamos VOLUNTARIAMENTE um isótopo radioativo pra dentro do nosso corpo? Mas é exatamente assim que alguns exames de imagem funcionam. Você junta um isótopo radioativo com algum fármaco que tenha ação em uma área especifica do seu organismo. E esse fármaco ao chegar nessa área de atuação, se acumula no local. E, bom, como esse fármaco que está se acumulando, contém uma partícula radioativa, aparelhos externos podem “enxergar” essa radiação e por consequência “enxergar” o local especifico.

Mas por que o tecnécio? Um dos principais motivos é que o tecnécio possui um grande número de estados de oxidação possíveis. Isso torna ele muito versátil. O famigerado “Pau pra toda obra”. Devido a essa versatilidade faz com que ele seja responsável por quase 80% da rotina clínica de um serviço de medicina nuclear. Então apesar do nome dessa série, ele é mega importante!

CORTE RÁPIDO

Viu como é maneiro esse lance de divulgação cientifica? É um elemento responsável por uma verdadeira revolução na medicina que a grande maioria das pessoas não faz a menor ideia de que existe. Apoiem os divulgadores!

FIM DO CORTE RÁPIDO

E como que o nosso amigo consegue fazer isso? Se liga nessa imagem aqui:

Esse é um esquema básico

de como funciona a “vida” do tecnécio radioativo. Ele é produzido num reator nuclear a partir do Molibdênio e possui uma meia vida de 6h, ou seja, depois do momento em que ele é produzido em até 6h, metade do molibdênio já decaiu para a versão não radioativa. Não é que ele perca totalmente a funcionalidade depois dessas 6h, mas ele perde a “eficiência” bem rápido. O que faz com que o tempo entre a produção do composto e a utilização tenha que ser bem baixo. Uma comparação simples é como se você produzisse uma lâmpada que já sai da fábrica acesa e que a cada 6h perde metade do brilho que ela emite. Imagina a logística que você tem que fazer pra iluminar um lugar com essas lâmpadas. Mais difícil que fazer entregas no Rio de Janeiro!

Continuando no exemplo da lâmpada, ainda bem que só precisamos iluminar nossa sala por pouco tempo e normalmente deixamos a fábrica bem perto dessa sala, de modo que se perca o menor tempo possível com transporte. No Brasil, por força de lei, toda a produção de Tecnécio é de monopólio da União. Todo o tecnécio do brasil é produzido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e o principal produtor é o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) que produz 38 radiofármacos ligados ao tecnécio para os mais diversos exames.

Estrutura química do tecnécio-99m ligado a exametazina, usado para diagnósticos do cérebro.

E é só isso que faz o tecnécio?

Não! Ele ainda possui uma aplicação muito limitada MAS NÃO MENOS IMPORTANTE. Ele é um excelente inibidor de corrosão em aços. Ainda se estuda exatamente qual é o mecanismo de inibição que ele realiza. Mas os primeiros estudos já mostram que ele tem desempenho igual ou superior a diversos outros agentes anticorrosivos, mesmo em ambientes mega agressivos. Mas lembrando que ele é radioativo, o que não torna ele um candidato muito viável né? Não adianta muito você ter uma pia de aço “inoxidável” que pode te causar um câncer no longo prazo!

Até mais e fiquem ligados no próximo texto da série!