Com o anuncio do governo sobre o  corte de verbas para pesquisa, o que renderia o fim de mais de 200 mil bolsas de mestrado e doutorado, o portal Deviante promove essa semana com textos apocalípticos sobre o fim da ciência no brasil.

Ao que cabe a mim, vou falar de física, mais especificamente a física teórica, o que é muito importante, uma vez que em geral é difícil entender qual o papel da ciência de base no desenvolvimento do país.

Quando Newton formulou as leis da mecânica, ele tinha como objetivo entender a natureza do movimento de objetos tanto cotidianos quanto astronômicos. Pelo que se sabe, jamais imaginou aplicação dos conceitos de força e energia para grandes desenvolvimentos tecnológicos, talvez na construção de sistemas mecânicos, como a maquina de Atwood .

Você pode dizer que Newton nunca usou o dinheiro do povo inglês para financiar seus estudos, não a toa a ciência era desenvolvida por pessoas mais abastadas,  o que pode ter sido a causa de termos vivido quase mil anos “em trevas”. Claro que Newton promoveu uma revolução, a partir daí a física se desenvolveu como uma explosão de descobertas. É claro que estou falando do que conhecemos hoje por ciência, já que existem progressos desde de que o rei Heron contratou Arquimedes para desmascarar o artesão da coroa.

É verdade que o desenvolvimento cientifico está sujeito ao momento histórico em que está inserido. Por exemplo, o conhecimento que Newton trouxe à humanidade permitiu os estudos sobre o calórico, que teve papel central na revolução industrial. Dessa vez quem financiou os estudos não foi o rei nem a igreja, foi a burguesia. Esse pode ser o argumento de quem hoje em dia defende que a iniciativa privada seja a responsável em financiar a pesquisa, mas, assim como a própria revolução industrial, esse é pensamento de 250 anos atrás.

Movimentos como a internacional ou a própria revolução russa não permitem que o conhecimento científico seja controlado por poucos, a ciência não deve ter dono, ela deve servir à humanidade.

Com a consolidação das identidades nacionais e o inicio de uma globalização, com a ideia de que conhecimento é poder, países que buscavam o desenvolvimento começaram a investir em pesquisa.

Voltando ao caso da física, o inicio do seculo XX foi marcado por diversas descobertas como a relatividade e a mecânica quântica, base que usamos até hoje para projetar novos descobrimentos. Assim como o caso de Newton com a mecânica, Einstein, quando desenvolveu a teoria da relatividade, não esperava uma aplicação direta tão cedo, mas, assim que soube do seu uso para o desenvolvimento da bomba atômica, alertou ao mundo de sua capacidade de destruição. Já a mecânica quântica nos permitiu ter todo tipo de dispositivo eletrônico, você não teria esse celular ou computador sem ela.

Com isso, chegamos ao Brasil de hoje: o iminente fim da ciência impacta em tudo.

A questão energética pode ser resolvida com o desenvolvimento de tecnologia nuclear, que tem como base a teoria da relatividade e da mecânica quântica. Se você preferir uma energia mais sustentável como a solar, estude quântica também. Podemos citar também a área médica, com equipamentos de ressonância magnética ou de tratamento fototerápico para câncer, tudo isso também com base em física quântica.

Se isso parecer algo meio longe de nossa realidade, vamos pensar em comunicação: todo mundo quer uma internet mais rápida ou um wi-fi que pegue mais longe e, de preferência, que seja barato, todo mundo quer um computador ou um celular que não valha um mês de seu salário. Tudo isso depende de pesquisa básica.

Isso porque estamos falando de aplicações imediatas que esses desenvolvimentos nos permitem imaginar. Fato é que tudo se inicia com perguntas fundamentais de como funciona a natureza ao nosso redor. Não da pra imaginar qual o impacto da física de partículas, da cosmologia, da gravitação, da teoria de cordas, de AdS/CFT, termodinâmica quântica no nosso dia-a-dia, assim como Newton, há mais de 300 anos, não se dava conta de que ia tirar o mundo das trevas que o precederam em quase mil anos.

Por causa dessa indefinição de não saber como nem quando esse tipo de pesquisa vai interferir no mundo, é quase impossível você convencer uma instituição que visa lucro investir nisso.

Com isso, se o governo não priorizar a ciência como ferramenta para desenvolvimento, vamos sempre ser colonia. Mesmo se você não for aluno de pós graduação ou cientista, acredite, esse corte vai te prejudicar muito mais do que você imagina.