Quando pensávamos no futuro, talvez todos nós tínhamos visões um pouco diferentes. Aqueles que são otimistas, assim como eu, pensam que vamos superar todas nossas dificuldades com relação a combustíveis, alimentos e outras formas de energia na sociedade pós-moderna que vivemos.

Nesse mesmo contexto, algumas pessoas não conseguem desvencilhar essa ideia de futuro com os alimentos que estarão dispostos à mesa nessa realidade. As pessoas podem até divergir sobre como seria uma alimentação ideal de acordo com o futuro que imaginam.

Alguns talvez sejam mais utópicos, baseando-se em desenhos e filmes antigos sobre o futuro, e desejam que a alimentação seja baseada em pílulas ou pastas nutritivas. Esse seria o futuro em que abdicamos das refeições por fontes personalizadas de nutrientes essenciais, tomando esses comestíveis como em desenhos antigos. Esse é o futuro imaginado que acaba desbocando na medicamentalização dos alimentos.

A medicamentalização é um fenômeno social que ocorre quando pensamos nos alimentos em virtude de seus nutrientes básicos e, consequentemente, nos seus benefícios à saúde ou performance esportiva, sexual, intelectual, etc. [2]. Geralmente ela se coaduna com o discurso médico-nutracêutico dos principais meios midiáticos, não importando muito a geografia e a distribuição dos diferentes recursos alimentícios. Só importa o efeito ao corpo.

Honestamente, não acho que esse se apresenta como o caminho para nosso futuro, levando em consideração que precisamos das refeições para objetivos muito maiores do que somos capazes de observar diariamente. Seja como marcador psicológico, cultural, social ou até mesmo ideológico. A alimentação, para indivíduos racionais, ocupa bem mais espaço do que queremos admitir à primeira vista.

Afinal, em uma refeição, não nos alimentamos apenas de nutrientes, mas também de apreensões, tabus, moralidades, valores e recursos. Por isso é bem difícil termos uma refeição voltada à lógica da farmácia, da medicamentalização alimentar (e daí se parte uma briga pessoal minha contra a vertente fitness de alimentos).

Por isso, acredito em outra vertente de alimentação do futuro, mais voltada ao hedonismo e nossas tecnodiversidades. Essa categoria é aquela em que juntamos as mais diversas técnicas, tecnologias, métodos e ideologias para criar padrões novos de alimentação, que sejam tão nutritivos e culturalmente significativos para nós quanto sustentáveis ao planeta. Apesar de difícil, tenho motivos para acreditar que o futuro nos reserva essa possibilidade!

 

Imagem um. Produtos alimentícios impressos em 3D se tornaram realidade em restaurantes e hospitais [1]. A técnica de impressão 3D visa articular formulações geométricas e tintas saborizadas para produção de experiências gastronômicas singulares ou disruptivas. Na figura, observamos uma pizza de calabresa sendo manipulada dentro de um compartimento fechado de vidro.

O fato é que essas oportunidades não precisam mais ser imaginadas. Elas já estão se mostrando em nosso presente, e devemos estar preparados para elas, afinal só assim poderemos entender os novos potenciais que criaremos como espécie, com novos tabus, moralidades, ideias, valores, apreensões e recursos. E esta é a proposta do meu novo livro: “Sabores do Amanhã”.

Com uma narrativa friamente calculada, eu exponho algumas das oportunidades em ciência de alimentos que já estamos encarando em nossa presente década, que estarão construindo juntos conosco o futuro da humanidade. Bem como aprofundo a gente em temáticas como ultrapersonalização alimentar e gastrodiplomacia.

Nesse livro, vamos entender um pouco mais sobre temas quentes como embalagens bioplásticas, carne cultivada em laboratório, impressora 3D de alimentos e rotulagem climática. São assuntos muito importantes e que nunca estiveram em análise juntos em um livro tão impactante.

O melhor desse estudo é também conseguir transpor a análise básica e sistemática, estudando estes dados de maneira mais transdisciplinar e multifatorial pelo efeito da Cultura Alimentar. De uma maneira em que todos nós, experimentadores de sabores do amanhã, poderemos nos identificar com as situações descritas no livro.

Já imaginou como vai ser a atuação dos poderes de polícia nesse novo cenário? Será que vegetarianos irão comer carne sintética? Alimentos impressos serão considerados ultraprocessados e ruins à saúde? E, afinal, qual vai ser o papel das mulheres nesse contexto todo?

Pensando juntos, poderemos construir mais possibilidades de futuro, sabendo todas as oportunidades e riscos que estarão em nossas mãos nos próximos anos. Convido-te a ler esta obra mais que especial!

 

 

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Sabores do Amanhã

 

Referências
[1]: NUNES, Leonardo. Impressora de comida 3D transforma a cozinha com pratos personalizados. Portal Perfil 10 jun. 2025. Disponível aqui.
[2]: OLIVEIRA, Jarbas; CAVALCANTI, Fillipe; ERICSON, Sóstenes. Medicalização da subjetividade e fetichismo psicofármaco: uma análise dos fundamentos. Saúde e Sociedade, v. 33, n. 1, p. e220833pt, 2024.