Vamos começar o texto com uma pergunta para quem se identifica como homem: no decorrer deste segundo ano de pandemia, o que você pensou sobre o significado de masculinidade? Já tenho publicados aqui no Portal Deviante três textos em que o tema principal é Masculinidades. Ao revisitá-los, todos retratam de uma certa forma o período que vivia enquanto o escrevia. Em especial o de 2020, em meio ao primeiro ano da pandemia, reflito bastante sobre como naquele momento o que representa o ideal de “ser homem” prejudica o combate a COVID-19. 

O texto chamado “Masculinidade Patriarcal em tempos de COVID-19” continua atual, porém algumas coisas mudaram: Trump já não é mais presidente dos EUA e com a CPI, ficou evidente que as teorias conspiratórias vinda do governo de Bolsonaro tem por trás esquemas de corrupção. Mas ainda assim, temos muito o que caminhar no “ser homem”, no texto de hoje parto dos grupos masculinistas que invadiram o capitólio, comento o fato do Supermen ser bissexual incomodar tanto e mostro como no meio das politicas públicas e da cultura pop o tema de “ser homem” vem aos poucos mudando.

O viking masculinista?

Vamos dar início no dia 6 de Janeiro de 2021 nos EUA, o agora ex-presidente Trump faz um discurso dizendo que não aceitará sua derrota e incita seus apoiadores a invadirem o Capitólio. Tal invasão resultou na morte de 5 pessoas, 52 presas, naquele mesmo dia, e o mundo conseguiu vê, mais uma vez, como as teorias conspiratórias podem fazer um estrago a democracia e a humanidade.  

Em seu livro “Como Funciona o Fascismo” Jason Stanley fala como um dos pilares fundamentais de governos de extrema direita é a irrealidade, é por meio dela que se justifica uma série de ataques a políticas públicas, universidades e sistemas educacionais, criando uma distorção do que é real, para que assim as teorias conspiratórias tomem o lugar, sendo usadas para alimentar o ódio a algum grupo específico (1).

(Os Simpsons 1987/-)

Esse tipo de discurso foi alimentado durante todo o governo Trump, coisas como: questionamento do sistema eleitoral, a anticiência seja COVID-19 ou nas questões climáticas e as reais intenções do candidato oposto. Entre esta última temos as mais bizarras teorias, como por exemplo, “presidente Trump está travando uma guerra secreta contra os pedófilos adoradores de Satanás do alto escalão do governo, do mundo empresarial e da imprensa.”

Vemos essas teorias conspiratórias dentro do contexto pandêmico refletidas em discursos anti vacina e chegando até mesmo questionar a existência do Coronavírus. Com uma visão distante chega a ser engraçado indivíduos acreditarem que, com a vacina da COVID-19, será implantado um chip para nos rastrear. Analisando de forma séria cerca de 20% dos Estadunidenses acreditam nisso. Tais distorções colocam em risco o avanço da vacinação nos EUA, cria uma desconfiança nas instituições científicas o que resulta no aumento de casos, como se vem observando nos últimos dias.

Talvez esteja me adiantando, vamos voltar na invasão do capitólio. Você deve ter chegado a ver essa imagem: um homem vestido de pele de animal, com o rosto pintado da bandeira dos EUA e um capacete com chifres de bisão. O “viking do capitólio” chama-se Jake Angeli, o termo viking é usado erroneamente, suas vestimentas remetem-se aos nativos norte-americanos, sendo totalmente descaracterizada ao se apropriar de um símbolo tradicional e ligá-lo a discursos extremistas (2). Esse indivíduo não está sozinho, ele representa uma personificação da extrema direita norte Americana chamado: Tribalismo Masculino.

Foto: STEPHANIE KEITH / REUTERS

O Tribalismo Masculino, também conhecido de masculinistas, é um movimento criado na ultradireita estadunidense, que tem como símbolo o homem “primitivo” ou “selvagem”, que tem como base o negacionismo científico, racismo, antissemitismo e o ódio às mulhers (2). Entre seus princípios está o retorno a um suposto passado glorioso, ou seja, a volta de uma vida tribal, a veneração ao corpo masculino, a alta virilidade, a violência e principalmente a objetificação das mulheres. De acordo com Rosana Pinheiro Machado, em entrevista à BBC, “Diferente de machismo, é uma repulsa à mulher. É outro nível de machismo.”

“Nos últimos anos diversas pesquisas entre grupos masculinos evidenciam uma nova compreensão nas dinâmicas de poder e opressão às mulheres, algo fundamental na violência de gênero. (…) E esta violência torna-se um marco na expressão dominante do homem, pautada na instrumentação da força física, potência sexual, misoginia, dominação das mulheres e a LGBTQIfobia” (7). 

Em grupos masculinistas existe uma inspiração nos Espartanos, Vikings, Indígenas e Romanos. As ideias desses arquétipos devem ser recuperadas e preservadas a todo custo. Os adeptos entendem que com os avanços sociais uma essência foi perdida, o que de certa forma diminui o que os “faz homens”. Ou seja, é uma resposta às pautas de igualdade, feministas e da população LGBTQIA +(2). 

Essa evocação de um passado admirável também é um dos pilares de governos fascistas, trazendo o pensamento de Stanley novamente: “a política fascista invoca um passado mítico puro que foi tragicamente destruído. Dependendo de como a nação é definida, o passado mítico pode ser religiosamente puro, racialmente puro, culturalmente puro ou todos os itens acima” (1). 

Em seu livro “O amanhã vai ser Maior”, Rosana Pinheiro Machado destaca as ideias de Jack Donavan, um dos principais líderes de grupos masculinistas, para esse cara “O globalismo e a civilização feminilizam a raça humana, enfraquecendo a natureza viril do homem, que encontra sua essência na hostilidade.” A autora destaca como esse ideal patriarcal está fortemente presente na política brasileira exemplos disso são o bordão “tchau, querida” no impeachment da primeira mulher presidenta do Brasil e adesivos de carro que traziam uma representação totalmente machista de Dilma Rousseff (8). 

(fonte: Agência Câmara)

Vale destacar que toda essas construções de grupos masculinistas citado aqui no texto estão ligadas diretamente a ascensão de governos de extremistas. Políticos como Jair Bolsonaro tentam emular um homem viril, pronto para guerra e que não tem medo de usar a violência se preciso for, tanto que uma das suas principais pautas é o armamento da população (2). Enquanto o tribalismo masculino tem suas origens no submundo da internet, na vida real talvez as coisas não sejam tão exageradas assim, porém, ainda estamos em uma sociedade patriarcal, apesar de existirem avanços, os homens cis de uma forma geral tem dificuldade de demostrar sua vulnerabilidade (3). 

Tanto no Brasil como nos EUA os homens são os que se vacinam menos. Entre os diversos motivos, o principal é a sociedade patriarcal na qual estamos, nela mulheres tendem a ser mais cuidadoras e procurarem mais métodos de prevenção (se vacinar, usar máscaras, distanciamento social), enquanto para os homens isso seria símbolo de fraqueza (3). O próprio discurso preguado por inflencer de Direita é contra medidas mais saudáveis que vão além da pandemia como por exemplo: não usar sinto de segurança, andar em alta velocidade.

Os tempos de pandemia no qual vivemos de tanta incerteza, crises financeiras e políticas, em que temos que encarar a nossa finitude, a impotência perante a tudo que acontece no mundo, é um período no qual estamos vulneráveis. Citando novamente Rosana Pinheiro Machado, “Crises econômicas têm um papel fundamental na formação de subjetividades, emoções e frustrações das pessoas” (8).

 Esses movimentos masculinistas são uma resposta, ou até mesmo uma negação, de que as coisas vão mudando, nem tudo é permanente, e principalmente o passado só é reverenciado por uma parcela mínima que se beneficia com isso, que são os homens brancos padrão, se você é gordo, negro, mulher ou se encaixa dentro das siglas LGBTQIA+ o passado não é algo tão admirável assim. 

Ilustração: André Moscatelli

Trazendo um pouco dessa discussão dentro da Saúde do Homem, para ser bem sincero, as coisas já não vinham bem antes da pandemia. Alguns dados comparando pessoas do sexo masculino e do feminino:

  • a taxa de mortalidade geral do Sexo masculino é 2.5x maior(link)
  • homens têm maior prevalência de fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis entre essas alimentação ruim(com menor ingestão de vegetais e alto de gorduras), consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tabagismo, sedentarismo entre outras(link)
  • o número de homens cis que procuram serviços de prevenção a saúde é 30% menor do que comparado as mulheres( link); 
  • A morte por violência é maior entre os homens (link);
  • Estima-se que nos próximos 20 anos a taxa de mortalidade de homens por doenças cardiovasculares aumente em 250% (link).  

Enfim os números são altos quando se trata na Saúde do homem, e como falo em todos os textos que escrevo sobre a pandemia, a COVID-19 colocou uma lente nos problemas da nossa sociedade. A saúde do homem já dentro de um contexto pós 2020 se vê muitos casos de piora em todos os âmbitos seja na saúde mental, no qual tivemos piora nos quadros de ansiedade e estresse, na saúde física, com o sedentarismo somando-se ao aumento no consumo de álcool, e aqui destaco também o aumento da violência de gênero, que sim é pra ser uma pauta que nós homens temos que nos colocar (4).        

Agora o texto vai se dividir em duas outras partes 1) ressignificar a masculinidade, partindo de uma responsabilização dos homens cis e entendendo que o sistema patriarcal também nos limita 2) usar uma politica publica na Colômbia, que tem como objetivo o combate a violência contra as mulheres, e o seriado Ted Lasso para entender novos caminhos da masculinidade.

Destruir Masculinidade?

(Fonte: Reprodução/Divulgação)

Emicida fala que “homem pode ser livre desde que – não abraçar e não beijar outro homem, jamais ande de mãos dadas ou demonstre sensibilidade, desde que você não chore, não desabafe, não reconheça o quão difícil é estar em determinada situação, desde que você não realize tarefas domésticas, não diga “eu te amo” para seus filhos, não tenha respeito profundo a todos que não são como você, desde que você cumpra uma lista longa de atributos – acredite o mundo é seu” (9).   

Em Outubro de 2021 a DC revelou que uma das versões do Super Homem é bissexual. O ambiente dito “nerd” é um tanto quanto preconceituoso e tal revelação trouxe várias respostas que mostram como a masculinidade patriarcal é frágil. E destaco uma das que mais me chamou atenção a de que o “Supermen ser bissexual destrói a masculinidade.” 

Quantas vezes você já pensou “o que me faz ser um homem?” ou melhor “o que a sociedade considera ser um homem?” os órgãos sexuais com o qual nasci? Gostar mais da cor azul? Quando criança brincar de carrinho e torcer pelo Corinthians? Isso me faria um homem? Há os que defendem, como falei na parte anterior do texto, que ser homem é tudo aquilo derivado do patriarcado, ou seja, uso de força, ser ativo, usar armas, não demonstrar sentimentos, se cuidar? jamais isso seria sinônimo de fraqueza.

No livro de J.J. Bola “Seja Homem: A masculinidade desmascarada” o autor relata que o patriarcado se faz presente na nossa vida, seja homem ou mulher, que de início se apresenta como coisas simples, por exemplo: carrinhos de menino e fogãozinho de menina, mas que tem repercussões na vida adulta e de como vemos o papel de ser homem (9). O mesmo autor ainda complementa:

 “Uma sociedade patriarcal é aquela em que os homens assumem as posições primordiais de poder na esfera pública, dominando o governo e a política, a economia, os negócios, a educação, o emprego e a religião, e estendendo esse domínio para um nível privado e interpessoal no lar, dentro dos relacionamentos e até nas amizades. O Patriarcado protege e prioriza os direitos dos homens acima dos direitos das mulheres” (9).

No livro Equatoriano “?¿Qué hacemos con la(s) Masculinidad(es)?” (tradução livre “O que fazemos com a(s) masculinidade(s)?) Um dos seus autores, Gustavo Endara, questiona:

 “Os homens têm que entender melhor o tempo que vivemos e sempre se perguntar: como sair do uso da força à empatia; da dominação ao respeito; de papéis tradicionais para os não convencionais. O que podemos fazer para nos tornarmos cientes de quão privilegiados temos sido pelo patriarcado? Como colocamos mais ênfase no cuidado e tenha a coragem de experimentar o que pode realmente nos fazer felizes?” (5). 

Entender e colocar sob um novo olhar de que vivemos, sim, em um mundo no qual somos privilegiados pelo simples fato de a sociedade nos entender como “homens”. Privilégio este que é invisível aos olhos de quem se beneficia dele e por isso a masculinidade patriarcal e suas vantagens é um assunto tão difícil de se abordar. Que se reflete quando nós, os homens cis, pouco pensamos em questões de raça, sexualidade, gênero e afins (6).

Fonte: Igor Bastidas, link

As masculinidades são variadas, dependem do contexto, lugar e época que vivemos: o entendimento do que é ser homem hoje vai ser totalmente diferente daqui há 20 anos, ou até menos que isso (6). Por exemplo, no Século 17, os sapatos salto alto foram trazidos da pérsia para o continente Europeu e usado por homens como símbolo de virilidade e riqueza. A condição do “ser homem”, e toda a masculinidade associada, não é uma ideia fixa, como peças em um quebra cabeça, mas sim algo fluido e que se modifica conforme o tempo (9).

Estar em constante mudança é algo natural de uma sociedade, então por qual motivo nos apegarmos há algo do passado que há muito deveria ser superado? Isso se dá na cultura pop com um herói em quadrinho ou na coletividade em crenças e costumes que não fazem sentido. Eu não saio mais para caçar meu almoço todos os dias, então, por que vou querer trazer o ideal de um povo antigo novamente? E que masculinidade é essa que será destruída ao um personagem de quadrinhos, que não existe, beijar outro homem?  

O processo de desconstruir essa masculinidade passa por entender que esse sistema, que ao mesmo tempo nos dá a sensação de liberdade, também nos limita e inibe o nosso crescimento pessoal. Coloca nós, os homens cis, em uma posição na qual não devemos demostrar e nem nos deixar influenciar por sentimentos (9).   

“Ao assumir uma nova masculinidade como processo de humanização, o homem é convidado a reconhecer e se encarregar do machismo tradicional que herdaram, e para explorar todo potencial humano e assim alcançar a equidade de gênero (…) reconhecer a masculinidade como uma categoria política, cujo o centro é o questionamento dos poderes dominantes, o desmantelamento do privilégio e a busca por igualdade substantiva para mulheres, homens e população LGBTQIA+” (5). 

A busca por uma masculinidade igualitária, transformadora e antipatriarcal passa por diversos obstáculos, entre os principais, os grupos conservadores e reacionários, que tem como objetivo manter e defender o que eles entendem como uma ordem “natural” (5).  Mas existem sim alguns movimentos que vão contrário a esse pensamento retrógrado pregados por políticos e influencers.

Linha Calma e Ted Lasso

Fonte: Nathalie Lees, Link

Vivemos em um contexto no qual os direitos das mulheres avançam cada vez mais, em que a legalização do aborto se torna real em vários lugares, em que são destacados os casos de abuso sexual na industria com #Metoo, em que, na América Latina, os números de casos da violência de gênero cresceu em meio da pandemia de COVID-19. Já passou da hora de tornar o homem, e o entendimento que temos de ser homem derivado do Patriarcalismo, se juntar à luta. Tudo isso deve sim ser uma pauta nossa.

Nessa última parte do texto vou destacar dois exemplos de como novos caminhos para masculinidade vem sendo construídos, seja na vida real ou nos seriados. 

-O Ted Lasso

Ali no meio de 2020 estreou uma série sobre futebol na Apple tv+, um streaming não tão badalado como Netflix, Ted Lasso, que chegou calado e vem ganhando reconhecimento pelo público geral e por premiações, sendo considerada a melhor série de comédia do Emmy em 2021. Qual motivo está trazendo nesse texto um pouco denso um seriado de comédia? Bom, nele temos várias representações de masculinidade positiva. 

( Apple Tv+Ted Lasso 2020/-)

A série conta a história de um técnico de futebol americano do Kansas, que aceita a proposta de trabalho em um time de Futebol no interior da Inglaterra. No decorrer dos episódios acompanhamos Ted com uma cultura totalmente diferente tentar se adaptar à nova vida, criando relações com os jogadores e funcionários do clube. 

Seu primeiro ep. termina com Ted falando ao telefone com sua ex-esposa “eu te amo e tudo bem você não precisa sentir o mesmo.” No decorrer do seriado o personagem é constantemente xingado pelos torcedores do time, maltratado pelos jogadores e Ted reage a isso de forma totalmente empática, entendendo que todos tem suas frustrações e que, se por acaso, essas pessoas estiverem dispostas a conversar sobre seus sentimentos Ted será todo ouvidos.

Ted também não tem vergonha de demonstrar seus sentimentos, de abrir mão de opiniões quando alguém se mostra mais entendedor, tratar as mulheres como pessoas, não se incomodar de forma alguma com elas estarem em posição de poder maior que a sua. Ted cozinha todas as manhãs, fala com todos na rua, ele tende a acreditar no melhor das pessoas.   Não para por aí, existem diversos outros personagens complexos que mostram caminhos do ser homem longe de um entendimento patriarcal. 

-Linha Calma. 

Estamos agora em Bogotá, capital da Colômbia, ano 2021, escutamos ao telefone “Sejam bem-vindos a Calma, uma linha de escuta para homens”, alguns breves minutos depois entra em contato um especialista em psicologia para prestar atendimentos. Com dez meses de funcionamento, a linha Calma já atendeu mais de 2 mil homens, oferecendo sessões gratuitas, com apenas uma condição: estar disposto a falar sobre machismos e analisar suas emoções.

O “Calma” foi idealizado pela administração de Claudia López, primeira mulher e primeira prefeita declarada gay de Bogotá, que faz da luta contra o chauvinismo masculino um pilar de seu programa. O principal objetivo é combater o feminicídio, oferecendo atendimento imediato a homens que temem perder o controle e cometer atos violentos contra a família.  

A ideia do programa é combater o machismo, e todas as consequências vindo dele, que é fortemente arraigado na sociedade colombiana. O foco é trocar comportamentos violentos e tóxicos, por atitudes mais saudáveis, como confiança mútua e reconhecer que a imagem de “machão” os prejudica.

O programa também questiona se essa abordagem de punir os agressores por meio do sistema penal tem alguma eficiência. Talvez a melhor alternativa seja focar os esforços na educação e prevenção. Os que ligam para a “linha Calma” são em sua grande maioria homens cis, que apresentam dificuldades com o ciúmes, problemas com a guarda dos filhos e alguns relatam estar a beira do suicídio. 

De acordo com diretor de cultura da cidade de Bogotá, Nicolás Montero “Ao levar os homens a analisar como essas atitudes muitas vezes esquecidas estão prejudicando a sua vida e de todos aqueles ao seu redor, o programa visa fazer parte de uma profunda mudança cultural.”

“ainda não conseguimos superar o patriarcado”

(Fonte: Cristina Spanò link)

 

Na semana que escrevo essa conclusão do texto Jair Bolsonaro falou que vacinas contra a COVID-19 podem causar HIV, nem vou me aprofundar no quão absurda é essa frase, que esconde todo um preconceito em uma doença que nos anos 90, e infelizmente até hoje, é associada a populações negligenciadas. Estou trazendo essa declaração aqui para mostrar como ela é reflexo dos tempos difíceis que vivemos e como políticos patriarcais continuam a prejudicar diretamente a nossa vida.  

A pandemia está passando, talvez não da forma e nem na velocidade que queríamos, mas é isso, o mundo vai se adaptando. Aqui no Brasil já passamos dos 600 mil mortos, resultado novamente de políticas patriarcais. Lembrar desses dois anos (2020/2021) me vem muito a cabaça de quantas vidas teriam sido salvas se frases como: ‘histórico de atleta’, ‘temos que lidar como homens’, ‘se esta na chuva é pra se molhar’, ‘ter COVID da mais anticorpos do que a vacina’ não tivessem sido ditas pelo presidente da república.

Vamos para um contexto mais geral, um pouco longe da pandemia. Quantas guerras teriam sido evitadas, se os homens aprendessem a lidar melhor com seus sentimentos? Se invés de responder com violência, pudéssemos simplesmente agir de forma empática. Se ao invés da dominação, o respeito fosse maior. Outros movimentos, sejam feministas e da população LGBTQIA+, já estão bem a frente, enquanto nós, homens Cis, ainda não conseguimos superar o patriarcado.

Esse já é o quarto texto sobre masculinidade patriarcal que escrevo aqui no Deviante (todos estão nas referências). Apesar de achar que ainda tem uma infinidade de assuntos dentro do tema que deve ser abordado, eu pretendo evoluir nessa discussão. Masculinidades sempre deve ser escrita no plural, pois existem diversas visões seja a Trans, negra, bissexual e tantas outras e são essas que quero abordar em temas futuros. Então até o próximo texto.

REFERÊNCIAS:      

 

  1. STANLEY, J. Como funciona o Facismo: A política do “nós” e “eles”. 2018
  2. MOREIRA, L. Masculinidade Genealógica e o viking do capitólio: Reflexões sobre virilidade e política. Novos Debates, 2021.
  3. SOARES, A.J. et.al. Elementos da masculinidade que vulnerabilizam homens à morbimortalidade pela COVID-19: revisão integrativa. 2021. Disponível no link
  4. SOUSA. A.R. Saúde de Homens na pandemia: panorama brasileiro. Rev baiana enferm 2021. Disponível no link
  5. Livro: ?¿Qué hacemos con la(s) Masculinidad(es)?. Editora  Friedrich-Ebert-Stiftung (FES-ILDIS) Ecuador. 2018.
  6. KIMMEL, M. S. A Produção Simultânea de Masculinidades Hegemônica e Subalternas. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 9, p. 103-117, out. 1998.
  7. 7. VIVEROS, V. M. As Cores da Masculinidade:Experiências  Interseccionais e Práticas  de  Poder  na  Nossa América Rio de Janeiro: Papéis Selvagens. 2018.
  8. 8.  MACHADO, R.P. Amanhã vai ser maior: O que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para crise atual. Editora Planeta. 2019.
  9. 9. BOLA, J.J. Seja Homem: a masculinidade desmascarada. Editora Dublinense. 2020.

Outro texto sobre Ted Lasso – Why We Need the Non-Toxic Masculinity of ‘Ted Lasso’ link 

Outros textos sobre a “linha Calma” – In Colombia c’è un servizio telefonico “anti-macho”. Ed è diretto agli uomini link

¿Aló? Esta es la línea de ayuda antimachista de Colombia link 

Outros textos publicados por mim sobre masculinidade:

Masculinidade Patriarcal em tempos de COVID-19. (link)

Masculinidade e Saúde parte I (link) e Parte II (link)