As duas crianças estavam muito animadas para esta semana na escola, terça-feira seria o dia da aula especial de imersão. Tinham tomado café completo como todo filho de endinheirado e já estavam prontos e fardados, apenas esperando. Não paravam de comentar sobre a aula da terça e sobre o que gostariam de ver naquele dia.

– Pronto, mordomo. Pode levar eles, os garotos estão animados para a aula de imersão ultrarrealista da pré história essa semana – falou o jovem senhor.

– Dinossauros! – disse o mais velho.

– Grandes dinossauros! – repetiu o mais novo.

– Seria incrível ver um plesiosaurus – disse Rick muito animado.

– Que nada o quelzacoatus é bem mais legal – falou Ed, ele adorava os pterossauros.

– Filho, é quetzalcoatlus. Eu ainda prefiro um rex – falou o jovem senhor bem contente pelo interesse deles.

– Nam, ele saiu de moda há quase 70 anos, pai – disse Rick rindo junto com Ed. 

Era incrível, um ambiente amplo ultrarrealista com toda a flora e fauna da época com sensação de tato e olfato extremamente precisos. O ambiente era praticamente perfeito.

– Confirmado, senhor – respondeu o mordomo.

Logo, um robô de quase 1 metro do tipo mordomo se deslocou para a saída da casa que tinha uma decoração bem clean com paredes e móveis predominantemente brancos e alguns sensores espalhados que piscam em vermelho de tempos em tempos. Era de formato simples e retangular branco recheado de sensores com algumas luzes à mostra que deslizou silenciosamente pelo ambiente até a entrada. Então aguardou as crianças que se despediram do pai e foram na direção da porta que se abriu imediatamente pelo comando do robô. O carro também já levitava saindo da garagem, também sob comando do mordomo com a abertura das portas em andamento.

O dia estava bom com o sol escondido por algumas nuvens bem brancas, mas, em breve, ficaria bem quente e com bastante vento. A unidade se acoplou ao veículo e esperou a entrada das crianças.

– Espere! Espere! Tchau, querido! Tenho que ir, tenho um encontro com a Sheila! – disse Jessica colocando um pouco de café num copo térmico e correndo em direção ao carro para aproveitar a saída das crianças com o robô, depois de um rápido beijo no rosto do marido.

– Está bem… Você volta para o almoço!? – perguntou o jovem senhor.

– Não! – Só volto no final da tarde! – respondeu ela entrando no carro e quase derramando o café nas crianças.

Jonas voltou para casa e pensava sobre qual projeto trabalharia pela manhã, enquanto isso já tinha solicitado o preparo do seu café da manhã com um descafeinado italiano cujo o aroma inconfundível já se espalhava pela sala, além de algumas torradas, uvas e uma grande maçã verde, mas algo chamou sua atenção quebrando o momento e fazendo um frio subir pela espinha lembrando de momentos terríveis de angústia e dor do passado.

Havia um jovem sentado no meio do seu sofá rindo com um traje de combate furtivo chumbo e um pouco surrado, seus olhos estavam cobertos por algum aparelho com um grande sensor verde.

– Então.. Não fui esquecido, né? Eu já paguei minha saída, eu contribuí por quase dez anos, não posso ter minha liberdade? – indagou o jovem senhor.

– Olha, fui apenas contratado. Para estrelas da engenharia como você, não rola essa de sair, mesmo não indo para outra concorrente, ficando independente – tentou explicar o jovem que começou a se levantar.

– Saca, você está deixando de gerar milhões para empresa e bônus para seus chefes imediatos. Isso cria uma mágoa inesquecível, a pior dor para alguns, é a dor no próprio bolso, sabe? – disse ele sacando uma pistola Tiger 2350.

Então uma divisória de vidro surgiu do chão entre eles dois, em seguida uma outra fechou o acesso aos quartos e uma terceira fechou o acesso a cozinha, deixando o jovem mercenário muito surpreso e isolado na sala de estar.

– Sinto muito, mas você achou que um grande inventor como eu ficaria indefeso dentro da própria casa? Um erro capital – disse o homem puxando e sentando em uma das cadeiras da mesa de jantar.

– Nossa, eu não acredito que… que vou morrer hoje. Como fui tão…

Do teto surgiram duas metralhadoras de calor e a ameaça foi neutralizada em segundos. Ele pegou um dispositivo e ativou o código laranja. Em seguida, o carro da família começou a piscar internamente com essa mesma cor.

– Madame e garotos. Conforme protocolo, estou retirando todos vocês da cidade, vamos nos encontrar com ele no ponto de extração delta – informou o robô.

– Não! Os dinossauros! Isso outra vez! – reclamou Rick.

– Outra vez? – perguntou Ed.

– Sim, é a terceira vez que vou mudar de cidade! Mãe? Vou poder falar com meus amigos? – perguntou Rick

– Não, querido. Sinto muito, temos que sair o mais rápido possível sem contato com ninguém – explicou bem frustrada e preocupada.

– Senhora, o novo local é no velho continente conforme preestabelecido pela senhora, já estou preparando a viagem com bastante sigilo.

– Eu disse a ele, deveríamos ter ido para lá desde a primeira vez…

Enquanto isso, Jonas estava sentado e pensando sobre o assunto, lembrou do risco que a família corria, lembrou de todas as vezes que precisou fugir.

– E se um dia eu cometer um erro também? O que será deles? O que vão fazer com eles? – disse a si mesmo.

– Eu não posso continuar assim…

Rapidamente, se levantou e chamou o assistente, em seguida disse um comando de voz:

– Enviar e-mail rascunho número 791822, eu confirmo que quero enviar – quando terminou de falar tirou o smartphone do bolso.

Ele pensou um pouco e confirmou com o polegar, a mensagem era bem simples:

 

“Eu aceito, vou te ajudar, vamos acabar com teu irmão, eu quero a minha liberdade em troca.”