Mhysa! Mhysa! Mhysa! Mhysa! Ela não voava em dragões, mas montava cavalo com uma arma num braço e uma criança no outro

Ana Maria de Jesus Ribeiro você não conhece, mas Anita Garibaldi com certeza já ouviu falar e mesmo assim ela ganhou um texto só para ela aqui no GMH. Digo mesmo assim porque a minha intenção é resgatar nomes femininos esquecidos pela história ou apagados propositalmente. Apesar de ser razoavelmente conhecida muito do que se diz sobre ela é sempre como: a esposa de Giuseppe.

Ah, faça-me o favor, um mulherão desses precisa ter sua história contada além dessa paixão. Foi importante na vida dela? Sim e muito. Mas diminuir a história de uma revolucionária é no mínimo uma pena. Então, venha comigo e se apaixone pela heroína brasileira.

Nascida em 30 de agosto de 1821, Ana Maria tem seu local de nascimento reivindicado por duas cidades, Laguna (atual localidade de Morrinhos em Tubarão, cidade litorânea) e Lages, ambas em Santa Catarina. Era descendente de imigrantes portugueses que vieram na grande imigração da galera de Açores para a região de Santa Catarina que aconteceu entre 1747 e 1753.

Aliás, aqui está um bom adendo, vale a pena estudar a imigração açoriana no Brasil, é um período muito interessante para entender a formação das vilas catarinenses. Nessa imigração embarcaram cerca de 6 mil homens, mulheres e crianças lá no Porto de Angra, na Ilha Terceira com destino a Santa Catarina. 6 navios diferentes realizaram 14 viagens, e cerca de 280 pessoas morreram na travessia.

Voltando… Ana era terceira filha de Seu Bento e da Dona Maria Antônia de Jesus, que tinham outros nove filhos. Quando seu pai morreu, ela se viu obrigada a casar com Manuel Duarte de Aguiar por necessidade. Tinha apenas 14 anos na época e a cerimônia aconteceu na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. O casamento durou apenas três anos porque Manuel se alistou no exército imperial abandonando sua jovem esposa.

E foi na tomada de Laguna durante a Guerra dos Farrapos que Ana, com 18 anos, conheceu Giuseppe Garibaldi, 32 anos. Rolou aquela paixão forte e ela passou a ser Anita Garibaldi. O casamento entre os dois aconteceria anos depois em Montevidéu, quando já eram marido e marida há muuuito tempo. Tem muitos textos por aí sobre o romance dos dois, tem filmes e tudo mais. O que eu quero contar aqui são as peripécias de Anita, seu dom para escapar de impossible situations e sua força de lutar pelo que achava certo.

Nasce uma guerreira

Foi em Imbituba que Anita participou de sua primeira batalha contra um navio imperial, sem esforço tomaram a embarcação e a transformaram em farroupilha. Ali a jovem não decepcionou, mas foi em 1839, naquela que ficou conhecida como a Batalha Naval de Laguna, que ela se destacou. O confronto marítimo contra os stormtroopers… quer dizer, soldados imperiais foi tenso. A jovem corria de um lado para o outro levando munição para os revolucionários, mas, mesmo com todo esse esforço, Garibaldi perdeu a batalha.

Os curitibanos catarinenses

Na encosta do planalto catarinense, onde está localizado o pequeno município de Curitibanos, ocorreu uma das batalhas mais sangrentas da história do sul. É aqui que Anita começa a se destacar e mesmo lutando com bravura perde para o império e é capturada. Resolve então pedir ao comandante da tropa inimiga que a deixasse encontrar o corpo de seu marido e, impressionado com a moçoila ,ele permite. Muito esperta, ela sentia que Giuseppe ainda estava vivo e quando foi percebendo que ele não estava entre os mortos começou a bolar sua fuga. Percebendo que os guardas estavam distraídos, Anita deu no pé no meio da mata chegando ao rio Canoas onde nadou feito peixe, feito sereia, feito Anita Garibaldi.

Chegou ao Rio Grande do Suuullltchê, onde encontrou o mozão e de lá seguiu para Mostardas.

Mostardas, Ah… Mostardas…

Esta é a minha história preferida sobre a nossa deusa, louca, feiticeira, mina demais. Veja só você que Anita, estava gravidinha de seu primeiro filho com o Giu, e lá ficaram morando até o nascimento do garoto. Mas isso não é interessante, o que interessa é o que acontece 12 dias após o nascimento de seu primogênito.

Imagine uma casinha no meio do nada, nada além de tropas imperiais cercando o imóvel por todos os lados e Anita ali, com uma criança de menos de duas semanas de nascida, Giuseppe fugindo por uma das portas… Você, assim como eu, talvez pensasse: danou-se, não há saída! Mas Anita Garibaldi, não.

Ela monta o cavalo e sai da casa em disparada carregando em um braço seu filho recém-nascido e no outro um fuzil, deixando todos sem reação. Essa cena memorável virou estátua em 1939 no Janículo, em Roma.

Estátua de Anita Garibaldi em Roma – que orgulho dessa ragazza! Foto: Isa Discacciati.

Ah, como é bom, como é bom… macarrão e revolução

De Mostardas fugiram para o Uruguai, onde moraram por muito tempo, até que decidiram viajar para Nice, cidade natal de seu esposo que na época se chamava Nizza e pertencia aos italianos que não eram italianos porque ainda não existia a Itália.

Não pense que ela não tem a ver com a história dos nossos amigos (no meu caso parentes) que cantam bella, ciao! Anita esteve em Roma participando da unificação da Itália (aqui ocorre a proclamação da unificação da Itália que acontece de fato só em 1861, a República italiana que conhecemos hoje nasce apenas em 1946).

Ela parte então com o exército romano que declara guerra às demais províncias e ao império austríaco que dominava toda a região.

Aqui começa a história de amor de Anita com os italianos, um amor que dura até hoje com enorme devoção e que a laureia como a Heroína dos Dois Mundos.

A esta altura Anitíssima estava grávida de seu quinto filho – importante ressaltar que os outros rebentos estavam com a família do pai, longe dos conflitos. Os austríacos não deixaram barato e chegam em Roma com exército de 15 mil homens, enquanto a galera dos Garibaldi era de apenas 3 mil, fazendo com que todos saíssem vazados.

Adeus, guerreira

A fuga foi impressionante, isso porque eles tiveram que passar por alpes e fazer um caminho nada amigável para uma mulher com um barrigão de grávida. E não duvido nada que ela teria chegado ao destino ilesa não fosse a pneumonia que levou a sua vida e a de seu bebê em 4 de agosto de 1849.

Sua bravura, inteligência em combate e ousadia fazem com que Ana Maria de Jesus Ribeiro ou Anita Garibaldi seja uma das Grandes Mulheres da História. 

Olha aí um comentário, ário, ário, ário… dessa que vos fala:

Confesso que de toda a pesquisa feita acabo corroborando com a versão de Paulo Markun que escreveu ‘Anita Garibaldi – uma Heroína Brasileira’, mas muito interessante também é o livro ‘Nova História das Mulheres no Brasil’, que tem como uma das colaboradoras Cristina Scheibe Wolff, historiadora da Universidade Federal de Santa Catarina – a quem muitas pesquisas me interessam e recomendo a leitura.

Tem muito mais a se falar sobre essa mulher incrível, mas ficaria um texto enorme, então leia livros! Um monte de gente gabaritada escreveu sobre o assunto e o livro é sempre melhor do que a matéria.

Recomendo fortemente que assistam ao programa Retrovisor, uma das iniciativas educacionais e culturais mais interessantes que já vi nesse nosso Brasilzão, aliás, a ideia mais incrível. Nela, um ator ou atriz, preparadíssimos, incorporam um personagem da história e são entrevistados por Paulo Markun e a plateia da Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo. Assistam! 

Ah, vejam também o episódio sobre Luís Gama!

 

Fontes pra que te quero:

Anita Garibaldi – uma Heroína Brasileira – Paulo Markun

Nova História das Mulheres no Brasil – Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro

Leia sobre a imigração açoriana:

“Dos vulcões ao Desterro” – João Gago da Câmara

É ísso aí, galera! Se você tem sugestões de biografias a serem feitas deixa nos comentários. Se assistiram ao vídeo recomendado diga o que achou e diga também o que achou dessa história. Um bacio e até a próxima!