Há algum tempo atrás, publicamos um spin de notícias (esse!) que falava brevemente de geotecnologias. Hoje quis dar mais detalhes e explicar melhor para vocês essa coisa misteriosa que está presente no dia-a-dia de todos nós e nós nem sabemos.

Podemos definir as geotecnologias como o conjunto de tecnologia para coleta, processamento, análise e oferta de informação com referência geográfica (ROSA,2005).  Tá, mais e aí?

E aí que o tchan e o balacobaco das geotecnologias está em permitir que as informações sejam obtidas e analisadas em contexto espacial. Ou seja, todas e quaisquer informações têm origem em algum lugar desse mundão de meu Deus.

São consideradas geotecnologias hardwares, softwares, peopleware (vocês já tinham ouvido essa? eu não!), que são recursos envolvidos nas fases entre obtenção de divulgação das informações.

O geoprocessamento é um nome dado para as operações realizadas com essas geotecnologias e envolve quatro categorias de trabalho com a informação espacial:

1) Coleta: as técnicas de coleta de informação espacial que podem ser sensoriamento remoto (imagens de satélite, por exemplo); GPS; topografia… e outros.

2) Armazenamento: através de bancos de dados espaciais (geodatabase)

3) Tratamento e análise da informação espacial: modelagens espaciais, geoestatística, funções topológicas, redes… entre outros.

4) Uso integrado da informação: o modo mais comum é através de softwares SIG (sistemas de informação geográficas). O SIG é, em suma, um conjunto de ferramentas computacionais que agrega todas as etapas anteriores e torna possível a publicação/ divulgação do resultado obtido nas etapas anteriores, o que pode ser feito através de um mapa, por exemplo.

Tudo lindo e maravilhoso, mas onde isso entra na nossa vida?

De um modo mais abrangente, as geotecnologias, através do geoprocessamento, são uma ferramenta que oferece um suporte muito eficiente aos processos de tomada de decisão. Então, podem ser aplicadas à gestão pública municipal por exemplo, uma vez que oferecem suporte ao processo de zoneamento urbano. Veja aqui o mapa do zoneamento urbano de Belo Horizonte.

O meio ambiente também se beneficia da utilização do geoprocessamento, que pode ser utilizado como uma ferramenta de monitoramento ambiental. Você já viu uma imagem assim?

Evolução do desmatamento no município de Alta Floresta – MT. Imagens Landsat disponibilizadas pelo Google Earth. (2019)

Para a produção de uma imagem desse tipo, são usadas uma série de geotecnologias. Vamos lá. Precisamos de imagem de satélite, para tanto precisamos de um satélite que tenha sensores imageadores (Aqui, 2 geotecnologias). Temos que pensar no armazenamento dessa informação (mais uma, 3). Além disso, as análises que serão feitas comparando as duas imagens, a antiga e a atual (4!). Por último, o SIG, que fez quase todo esse processo e onde foi gerado o layout final do mapa. Ou seja, cinco recursos geotecnológicos para um mapa que compara o avanço do desmatamento.

O documento final, o mapa, serve como uma ferramenta de grande valia na tomada de decisão a respeito do avanço do desmatamento naquela região. O que fazer? Como intervir? Onde preservar? São todas questões que terão um mapa como embasamento.

Então, se podemos ver como uma área de vegetação mudou, podemos ver como uma cidade cresceu, ou as variações nos níveis das águas. Explore a timelapse do mundo.

O geoprocessamento pode ser útil também para o agronegócio. É possível identificar as áreas de maior ou menor aptidão agrícola de uma fazenda, por exemplo. Assim, agrônomos podem selecionar a melhor cultura para aquelas áreas e fazer melhor gestão de recursos.

Aptidão agrícola de terras em Roraima. EMBRAPA (2001)

Tudo bem… Isso tudo ainda está meio distante da nossa realidade, né?

Mas você tem uma geotecnologia aí ao alcance da sua mão, seu celular. Nele tem um GPS, certo? Vocês, leitores atentos, se lembram que GPS é uma geotecnologia.

E, se o seu geotagging está ativo sempre que você tira fotos, você está produzindo uma informação espacializada. Outra coisa, você já entrou no Google maps e viu os “meus lugares” ? Por exemplo, lembra quando você marcou sua casa no google maps e chamou de “casa”? Então. Isso é informação espacial.

Ainda no Google maps, um recurso muito legal é a linha do tempo. Que mostra os lugares onde você esteve e quando. (Ok, é meio bizarro saber que temos esse nível de monitoramento, mas eu acho bem legal também saber quando e onde estive).

Vocês já ouviram a seguinte frase: “Coloca o trajeto aí no Waze?” ou “coloca no GPS?”. Gente, nada mais é do que geotecnologias assim, na palma da nossa mão.

O nome é incomum, mas a verdade é que são recursos que estão sempre permeando nosso cotidiano.

Nesse texto citei:

ROSA, R. Geotecnologias na Geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.16, v.2, 2005.