No começo dos anos 2000, o mundo dos games vivia uma enxurrada de survival horror’s. Com o sucesso dos Resident Evil’s e Silent Hill’s todos queriam pegar uma fatia desse bolo que gerava grandes lucros. Enquanto uns apostavam em atmosferas cada vez mais pesadas (como Siren), outros apostavam em mecânicas inovadoras (exemplo de Eternal Darkness), porém uma empresa seguiu por outro caminho, pensando naqueles que não tinham tanta coragem de jogar jogos assim, mas ainda sim gostariam de experimentar o gênero com um amigo ao lado.

Lançado em 2004 e desenvolvido pela Hydravision Entertainment, Obscure é um survival horror ambientado em uma escola de ensino médio chamada Leafmore High, sendo um dos seus diferenciais o sistema de cooperação, onde é possível controlar dois personagens ao mesmo tempo, alternando entre eles, ou jogar em multiplayer cooperativo com outra pessoa. Na história, acompanhamos um grupo de estudantes que descobre que a instituição está envolvida em experimentos sinistros relacionados a uma planta mutante sensível à luz e que transforma humanos em criaturas violentas. E é sobre essa planta que aprenderemos mais hoje. Então prepare sua lanterna e fique sempre na luz, por iremos descobrir mais sobre o jogo Obscure e plantas que não fazem fotossíntese.

Como já dito anterior, o jogo se passa na escola Leafmore High, nela, alunos estão desaparecendo misteriosamente. Kenny, um dos estudantes, some após ficar à noite na escola. Seus amigos — Shannon, Ashley, Stan e Josh — voltam à escola de noite para procurá-lo e descobrem que o lugar está trancado e cheio de criaturas monstruosas.

Investigando corredores escuros e passagens secretas, eles descobrem um laboratório subterrâneo. Documentos revelam que os diretores da escola, os irmãos Herbert e Leonard Friedman, estavam conduzindo experimentos científicos ilegais usando uma planta mutante chamada Mortifilia, capaz de transformar humanos em monstros.

Imagem 01: Os cinco adolescentes disponíveis para a jogatina. A imagem mostra cinco adolescentes, duas mulheres e três homens em frente a uma escola

No jogo, a Mortifilia foi descoberta pelos irmão Friedman em 1890 durante uma de suas expedições no continente africano com o objetivo de estudar possíveis ervas e plantas medicinais. Os irmãos viram que a Mortifilia possuía propriedades de rejuvenescimento quando aplicada em seres vivos, entretanto, ela causava horrendas mutações nas cobaias utilizadas nos experimentos quando elas eram expostas à luz solar.

Infelizmente essa descoberta ocorreu tarde demais, já que os irmãos haviam testado o soro da planta neles mesmos. Para reverter o processo de transformação, os irmãos começaram a fazer testes nos alunos da escola que eles fundaram. Isso já nos anos 2000, mostrando que apesar das mutações causadas, a Mortifilia realmente tinha poderes de rejuvenescimento (nessa época os irmãos Friedman já tinham mais de 100 anos, mas com a aparência de 60).

Então, depois dessa longa introdução, vamos conhecer mais as propriedades da Mortifilia, que, apesar de não existir no mundo real, tem suas “raízes” em vários tipos de plantas que conhecemos.

Capacidade Parasitária / Infecção: A Mortifilia libera esporos que infectam seres humanos. O organismo infectado sofre mutações físicas e psicológicas. A pessoa pode se transformar em uma criatura agressiva, perdendo a sanidade.

A Mortifilia não faz fotossíntese (processo pelo qual as plantas produzem seu próprio alimento usando a luz do sol). Plantas desse tipo são classificas em dois grupos: heterotróficas e micoparasitas.

Plantas heterotróficas obtêm nutrientes diretamente de outras plantas vivas, ligando-se às raízes ou caules da planta hospedeira. Algumas não possuem nem clorofila (pigmento verde), por isso não conseguem fazer fotossíntese. Elas retiram água, minerais e açúcares da planta hospedeira usando estruturas chamadas haustórios.

Já as micoparasitas formam uma relação com fungos do solo. Mas, em vez de uma troca mútua, elas simplesmente “roubam” nutrientes que o fungo obteve de outras plantas. Elas não fotossintetizam e dependem totalmente do fungo para obter energia.

Imagem 02: A planta fantasma (Monotropa uniflora) é albina e depende de fungos para viver. Na imagem vemos uma planta brotando em meio ao solo.

Provavelmente a Mortifilia se aproximaria mais do primeiro grupo, pois podemos supor que ela se alimentaria dos nutrientes da vitima que foi infectada pelos seus esporos. Esporos esses que também aparecem na realidade, especialmente em plantas mais primitivas como musgos e samambaias. Essas plantas não produzem sementes e a reprodução assexuada ocorre através da liberação de esporos, mas diferente da Mortifilia, seus esporos não são perigosos. Talvez os fungos ligados a certas plantas sim, mas aí já estaríamos entrando em outro campo…

Imagem 03: As samambaias possuem esporos como parte do seu ciclo reprodutivo, que são estruturas que germinam para formar uma nova planta. A imagem mostra uma planta com pequenos esporos acumulados em formato circulare

Regeneração / Imortalidade: Os irmão Friedman descobriram que a Mortifilia tem propriedades regenerativas. Seu objetivo era criar um soro de rejuvenescimento e prolongar a vida humana. Porém, a regeneração vem com o preço da mutação e perda da humanidade.

Na vida real, muitos medicamentos foram descobertos a partir de plantas, como a aspirina, originária do salgueiro ou o cardioglicosídeo presente na Digitalis, usado no tratamento de doenças cardíacas, mas nada milagroso que dê a vida eterna.

Sensibilidade à Luz: As criaturas derivadas da Mortifilia , assim como a planta, são extremamente sensíveis à luz. A luz enfraquece ou até desintegra os monstros, por isso lanternas UV são armas importantes no jogo.

No mundo real, luzes UV podem fazer mal para todos os seres vivos (pode até causar danos no DNA), porém plantas que fazem fotossíntese tem uma tolerância maior comparadas com as que não realizam esse processo. Com isso, faz até sentido as criaturas infectadas pela Mortifilia serem sensíveis à luz. Nesse caso, se as criaturas fossem mais inteligentes, um bom protetor solar seria um ótimo meio de defesa usado por elas, na verdade é ótimo para você também. Fica a dica: use protetor solar.

Crescimento Subterrâneo / Expansão: A Mortifilia cresce por túneis e rachaduras da escola como uma rede de raízes. Ela se espalha por paredes e dutos, como se “dominasse” o subsolo da Leafmore High, sendo uma presença constante durante a jogatina.

Hoje já é comum o conceito da Wood Wide Web, um apelido dado por cientistas para a rede de comunicação subterrânea que conecta árvores e plantas por meio de fungos no solo.

Imagine que, debaixo da terra, existe uma rede de “cabos” naturais: esses cabos são os filamentos dos fungos.  Esses fungos formam uma rede que leva água, nutrientes e até mensagens químicas entre plantas. Assim, as plantas conseguem “comunicar-se” entre si. Um conceito bem interessante que pode ser aplicado ao jogo e explicaria a “onipresença” da planta na escola.

Imagem 04: A Wood Wide Web funciona de forma análoga à internet, sendo comparada a um “Wi-Fi da floresta”, e é crucial para a comunicação e cooperação dentro dos ecossistemas florestais. Na imagem vemos duas arvores que apresentam comunicação entre si através de suas raízes e raízes de fungos

E por fim, Controle Biológico: A planta parece ter alguma forma de “inteligência primitiva” ou instinto de autopreservação. Os infectados agem como extensões da planta, defendendo-a e atacando ameaças. Há um elo biológico entre a raiz principal e os monstros criados por ela.

Apesar de plantas reais possuírem mecanismos que são análogos ao instinto de autopreservação, isso está bem longe de ser algo consciente. Vale lembrar ainda que, apesar de demonstrarem certos comportamentos complexos, ainda não temos um consenso sobre plantas possuírem consciência ou não. Já a parte do elo biológico podemos supor que as criaturas protejam a Mortifilia devido algum feromônio que a planta exala solicitando ajuda. Esse é um tipo de mecanismo presente na vida real. Certas plantas quando atacadas, conseguem emitir sinais de alerta, geralmente compostos químicos liberados no ar, que avisam plantas vizinhas e também chamam insetos aliados como reforço para sua defesa. Esses insetos aliados são geralmente predadores naturais dos herbívoros que atacam as plantas, agindo como um “exército de resgate” que reduz os danos.

Imagem 05: Algumas criaturas encontradas no jogo, muitas delas passam por vários estágios de mutações. Na imagem vemos monstros humanoides deformados devido contaminação com a Mortifilia

Finalizando, com uma ambientação sombria, ótima trilha sonora, jogabilidade que mistura ação e suspense e buscando inspiração nos filmes de terror adolescente do final anos 90 e começo dos anos 2000, Obscure se tornou um cult clássico entre os fãs de jogos de terror. O sucesso foi suficiente para gerar uma continuação, Obscure II (também conhecida como Obscure: The Aftermath), lançada em 2007, porém depois do fechamento da Hydravision Entertainment, a franquia acabou em um limpo. Quem sabe um dia poderemos reviver essa aventura em um remake ou até em uma continuação?

E por hoje é só. Diga ai nos comentários se curtiu o texto e se conhecia o jogo. Uma última curiosidade é que, apesar do jogo ter buscado inspiração nos filmes de terror adolescente do começo dos anos 2000, um em especial foi o que mais influenciou os produtores: Prova Final de 1998. O filme acompanha alunos descobrindo que seus professores são alienígenas e possui um elenco, no mínimo, curioso. Fique com o trailer e até mais:

Fontes: Wikipédia, Obscure Wiki, Obscure Blog, Brasil Escola, Ciência Hoje das Crianças e Associação Brasileiras dos Estudos das Abelhas