A trilogia Dead Space, mesmo com seus altos e baixos, agradou tanto a crítica quanto o público, porém, quando a EA Games fechou em 2017 a Visceral Games, desenvolvedora do game, muitos perderam as esperanças de ver um novo título da franquia. Mas alguns funcionários que foram desligados da Visceral, resolveram fundar seu próprio estúdio, a Striking Distance Studios, encabeçada por Glen Schofield, mente por trás da criação de Dead Space. Glen e seu novo estúdio anunciaram um sucessor espiritual de Dead Space, The Callisto Protocol. Ambientado em uma prisão instalada em uma das luas de Júpiter e cheia de ameaças monstruosas, a promessa é que o game seria mais aterrorizante e visceral, com armas de fogo, mas focado no combate corpo a corpo. 

Infelizmente o game não atendeu às expectativas, saindo com diversos problemas e decepcionando em outros pontos. Mas o cenário onde a história de passa é muito interessante e vai nos servir muito bem para o texto de hoje. Então pegue seu bastão de choque e vamos juntos combater os horrores na prisão Black Iron, pois hoje o texto é sobre The Callisto Protocol e as luas de Júpiter.

A história de The Callisto Protocol se passa em Calisto, uma das várias luas de Júpiter, no ano de 2320 em uma prisão chamada Black Iron. O jogador assume o papel do prisioneiro Jacob Lee, que se encontra no meio de uma terrível infestação encontrada na prisão.

O objetivo é sobreviver aos horrores que assolam o local enquanto se descobrem os segredos sombrios por trás da infestação. Para isso, Jacob também recebe a ajuda de Dani Nakamura, uma suposta terrorista que quer vingar a morte de sua irmã durante um ataque à uma colônia da lua Europa.

Imagem 1: O game conta com um elenco de peso, com o ator Josh Duhamel (Transformes) interpretando Jacob e Karen Fukuhara (The Boys) interpretando Dani. Na imagem, versões digitais dos atores citados vestindo trajes espaciais

O game se passa todo na lua Calisto, porém temos alguns flashbacks na colônia presente em Europa. E isso no traz um questionamento: seria possível habitarmos as luas de Júpiter? 

Vamos conhecer melhor as luas desse gigante gasoso que é o maior planeta do nosso Sistema Solar.

Imagem 2: Uma comparação entre os tamanhos de Júpiter, a Terra e nossa Lua. A imagem mostra figuras lado a lado dos planetas Júpiter e Terra, e nossa Lua.

No total, Júpiter tem mais de 80 luas naturais confirmadas, e os astrônomos continuam a descobrir novas. Para nós, as mais interessantes são as chamadas Luas de Galileu, recebendo esse nome por terem sido descobertas por Galileu Galilei em 1610. Essas luas foram as primeiras a serem descobertas orbitando um planeta diferente da Terra, o que ajudou a desafiar a visão geocêntrica do universo na época. Cada uma dessas luas possui características únicas e é composta por diferentes materiais, como gelo e rocha. Vamos a elas: 

  • Io: É a lua mais próxima de Júpiter e é famosa por sua atividade vulcânica intensa. Ela possui mais de 400 vulcões ativos, que resultam das interações gravitacionais com Júpiter e suas outras luas.

    Imagem 3: Representação de Io. Na imagem vemos uma lua quase dourada e com várias crateras.

  • Europa: É interessante devido à sua superfície gelada, que sugere a existência de um oceano subterrâneo. Esse oceano líquido pode ter condições propícias para a existência de vida.

    Imagem 4: Representação de Europa. A imagem mostra uma lua cinzenta cheia de canais em sua superfície.

  • Ganimedes: É a maior lua do Sistema Solar e possui um campo magnético próprio. Ela também tem uma crosta de gelo, mas estima-se que sob essa crosta possa haver um oceano salgado.

    Imagem 5: Representação de Ganimedes. Na imagem vemos uma lua azul meio esverdeada com diversas linhas em sua superfície.

  • Calisto: É a lua mais distante de Júpiter entre as quatro grandes luas e tem uma superfície craterizada, indicando que não houve muita atividade geológica recente. É considerada uma das luas mais antigas do Sistema Solar.

    Imagem 6: Representação de Calisto. A imagem mostra uma lua meio laranja/avermelhada com várias crateras em sua superfície.

Calisto (que dá nome ao game) e Europa, são as duas luas que aparecem em The Callisto Protocol. Em Europa, por breves trechos da história, acompanhamos uma colônia humana que foi formada nessa lua. Isso faz bastante sentido, já que novas pesquisas sugerem a possibilidade de existir vida dentro do oceano subterrâneo o Europa. Pesquisadores na Groenlândia, identificaram, em Europa, formações montanhosas semelhantes às encontradas no país, indicando que o seu oceano de lá poderia abrigar vida.

É importante ressaltar que devido à sua distância do Sol, a temperatura na superfície da lua Europa permanece igual ou inferior a -160 °C, o que a torna inabitável para os seres humanos. No game vimos que a colônia é toda fechada e vedada, com isso os humanos não têm contato com a atmosfera hostil da lua. Criar um ambiente habitável assim em algum lugar fora da Terra é um dos desafios que enfrentamos hoje, para quem sabe um dia, colonizarmos Marte por exemplo, mas com a água presente em seu estado líquido em Europa, isso seria bem mais viável.

Apesar de termos trechos em Europa, a grande estrela do game é Calisto, um mundo gelado e misterioso em nossa vizinhança cósmica. 

Com um diâmetro de cerca de 4.821 quilômetros (99% do diâmetro de mercúrio), Calisto possui uma superfície marcada por crateras, indicando uma história de impactos cósmicos ao longo de milênios. Suas feições geológicas remontam a bilhões de anos, sugerindo uma atividade geológica passada e uma aparente estagnação nas transformações de sua superfície nos últimos tempos. 

Estudos e análises de dados da sonda Galileo também indicam a presença de água abaixo da crosta gelada. Esse oceano, se confirmado, poderia conter condições favoráveis para a existência de vida microbiana, instigando a imaginação e impulsionando o interesse em futuras missões de exploração.  

Imagem 7: Como seriam as camadas de Calisto. A imagem mostra um desenho de Calisto com um corte lateral mostrado uma superfície de gelo, depois uma oceano logo abaixo dessa superfície e por ultimo seu interior de rocha.

Sua composição, principalmente gelo e rocha, juntamente com a possibilidade de atividade geotérmica interna, contribui para uma atmosfera científica repleta de especulações sobre a habitabilidade e os mistérios que essa lua gelada pode abrigar.  

No game, Calisto é o lugar onde está a localizada a prisão Black Iron, uma instalação penitenciária de propriedade e operada pela United Jupiter Company. Este sombrio e desolador lugar é essencialmente uma estrutura fria e impessoal, composta por metal e concreto. Os prisioneiros habitam celas apertadas, equipadas com dois beliches, um par de cadeiras, um sanitário e a constante vigilância do superintendente holográfico Duncan Cole, presente a todo momento, dia e noite, monitorando os detentos. Patrulhas de robôs corporativos percorrem os corredores sombrios, atentos a qualquer sinal de fuga – embora seja praticamente impossível para os presos encontrarem algum lugar para escapar. E mesmo que encontrem, a gélida atmosfera congelaria qualquer humano sem um traje de proteção, em segundos.

Imagem 8: Espere por vários sustos nos corredores da Black Iron. Na imagem vemos uma silhueta de algo humanoide no fundo de um corredor de metal e mal iluminado. 

Para os propósitos do game, faria sentido uma prisão em Calisto. Ela ficaria relativamente perto da colônia em Europa, onde poderia receber recursos e ainda seria uma instalação de difícil acesso, impedindo possíveis fugas (quase como aquele “incrível” filme de Christopher Lambert, A Fortaleza 2), mas um ponto importante seria a possível água encontrada nessa lua, recurso vital para a permanência humana no local. 

Vimos que Calisto possui uma superfície marcada por crateras, isso influenciou diretamente na história do game. E aqui vai um ALERTA DE SPOILER. Se não jogou o game pule o próximo parágrafo. 

Ao longo da jogatina descobrimos que o que causou a contaminação dos presos, transformados em Biófagos, foram larvas saídas da carcaça de um grande alienígena encontrado congelado debaixo da superfície de Calisto. Se seguirmos pela teoria da panspermia cósmica (teoria que sugere a possibilidade de vida existir e se espalhar pelo universo através de material biológico transportado por asteroides, cometas e outros corpos celestes), podemos supor que esse alienígena, ou algum ancestral seu tenha vindo através de um meteoro e depois tenha crescido e ficado preso no gelo. Com a quantidade de crateras encontradas na superfície de Calisto, se um dia essa teoria se confirmar, ali seria um lugar com grandes chances de isso acontecer. FIM DO SPOILER. 

Por último, vale citar, que apesar de não aparecer no game, Ganimedes também poderia substituir Calisto como palco para a história contada, já que estudos recentes sugerem a presença de um vasto oceano subsuperficial nessa lua, escondido sob uma crosta de gelo, que pode ter duas vezes a quantidade de água dos oceanos terrestres. 

E chegamos ao fim de mais texto. Vimos que algumas luas de Galileu são fonte de grande especulação quando se fala sobre vida fora da Terra, e a NASA sabe disso, já que tem planos para lançar a sonda Europa Clipper em outubro de 2024. Esta sonda realizará múltiplos sobrevoos próximos à Europa, com o objetivo de investigar mais profundamente a possibilidade de o satélite abrigar formas de vida.  

Essas descobertas poderão fornecer valiosas informações para outra sonda já lançada pela Agência Espacial Europeia em abril de 2023, a Juice. Sonda esta que está em uma missão de exploração de Júpiter e suas três luas oceânicas: Ganimedes, Calisto e Europa.

Imagem 9: A sonda Juice com suas mais de duas toneladas e meia de peso. A imagem mostra uma sonda quadrada e com uma antena redonda ao centro dentro de um laboratório.

Quanto a The Callisto Protocol, apesar de não ter alcançado as expectativas (depois do lançamento, a Striking Distance Studios passou por uma onda demissões com até mesmo a saída de Glen Schofield), é uma game que merece ser jogado, principalmente por fãs de terror espacial e ficção científica. Mas recomendo comprar ele em alguma promoção. 

Se já jogou, deixe aí nos comentários como foi sua experiência com The Callisto Protocol. Até a próxima. 

 

Fontes: Wikipédia, The Callisto Protocol Wiki, Game Rant, Espaço do conhecimento UFMG, El País, Museu WEG de Ciência e Tecnologia, Revista Galileu e Canal Orion