Salve, salve gente amiga!
Impossível se falar em artilharia naval sem lembrar as palavras do historiador militar John Keegan:
“Navios e canhões foram feitos uns para os outros”.
No século XVI, as embarcações assumiriam o formato que seria comum até meantes do século XIX, tornando-se maiores e mais robustas do que as caravelas ibéricas e dos primeiros exploradores que atravessaram o Atlântico e o Índico.
O tamanho maior proporcionava a força e a capacidade de armazenar mais armamentos e, em terra, os canhões se tornavam cada vez mais fortes, mais precisos e com maior alcance.
Até então, especialmente no Mediterrâneo, a manobrabilidade das galés — somada ao fato de haver escravizados como remadores — conservava sua supremacia como principal navio nas frotas.
Entretanto, essa engenharia deixou de ser usada quando os navios empregados na guerra tiveram que acompanhar os navios utilizados para o comércio, em rotas cada vez mais afastadas das costas.
As evoluções tecnológicas na construção naval permitiram o aparecimento de grandes navios oceânicos propulsionados exclusivamente por velas e, portanto, com os bordos desimpedidos para os canhões. Aproveitando o progresso da artilharia, esses gigantes oceânicos tornaram as galés e galeaças praticamente obsoletas, ainda no século XVI.
A disputa naval já demonstrava sua nova face: saíam de cena os esporões e as armas portáteis, a vez seria da grande bateria de artilharia que ocuparia todo o navio.
No alvorecer do mundo moderno, do mundo do Renascimento, o primeiro “plus” para a artilharia naval: canhões fabricados em bronze, mais resistentes que os de ferro forjado, carregados pela boca, com maiores cargas de pólvora, que atiravam projéteis esféricos de ferro fundido e podiam ser recarregados.
Esse “detalhe” fez com que galeões ingleses e holandeses assumissem a primeira posição como navios de guerra. A abordagem perdeu sua importância estratégica e desenvolveram-se novas táticas de combate, que favoreciam o emprego da artilharia contra o navio inimigo.
Com a tecnologia naval “de vento em popa”, a partir de 1547, os ingleses conseguiram fundir canhões confiáveis de ferro, com moldes e processos semelhantes aos dos canhões de bronze. A principal vantagem era o preço. Por sua qualidade e confiabilidade, o “Iron 1.6″ acabou substituindo os canhões de bronze.
O próximo estágio tecnológico seria a padronização dos calibres para a artilharia embarcada, bem como a própria padronização dos vasos de guerra.
No início do século XVIII, belonaves já levavam cinquenta canhões cada, em frotas de setenta ou mais embarcações, enfatizando o poder da artilharia. Almirantes holandeses uniformizaram a formação em linha frontal: em vez de atacar o inimigo diretamente, os navios agora formavam uma linha, em fila indiana, e navegavam paralelamente aos oponentes, disparando das laterais.
Os ingleses aprenderam logo a estratégia. Os almirantes redesenharam suas frotas com base nesse princípio: os navios de linha (aqueles fortes o suficiente para ficarem em formação da fila) passaram a ser a espinha dorsal da Marinha, enquanto navios menores protegiam o dispositivo. Era o “cartão de visitas” da futura senhora absolutas dos mares.
Vale a pena lembrar: as guerras anglo-holandesas do século XVII mostraram a necessidade das forças navais combaterem organizadas em “linhas de batalhas”, para que os navios se apoiassem mutuamente com sua artilharia, ou pudessem concentrar seus tiros em um alvo escolhido. Desta forma, o galeão evoluiu para navios que eram classificados conforme o número de canhões. Os navios de primeira classe possuíam de 100 a 120 canhões, dispostos em 3 conveses; os de segunda classe, eram compostos por 80 a 98 canhões, em 3 conveses; os de terceira classe, 74 canhões, em 2 conveses; os de quarta classe, entre 50 a 60 canhões, em 2 conveses. Estes eram os navios de linha. Os navios de quinta classe – que detinham de 32 a 44 canhões, dispostos em 1 ou 2 conveses – e os de sexta classe – compostos por 20 a 28 canhões, em 1 convés – eram embarcações utilizadas em missões de escolta, vigilância ou esclarecimento.
Sugestão de leitura:
BITTENCOURT, Armando de Senna [et al.]. História militar geral I: as guerras da idade antiga à idade moderna. Palhoça: UnisulVirtual, 2009.
EVANS, A. A. A compacta história das guerras. São Paulo: Universo dos Livros, 2017.
KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LARDAS, Mark. Spanish Galleon vs English Galleon: 1550-1605. Oxford: Osprey Publishing, 2020. (Osprey Duel v. 106)
VIDIGAL, Armando; ALMEIDA, Francisco Eduardo Alves de [orgs.]. Guerra no mar: batalhas e campanhas navais que mudaram a história. Rio de Janeiro: Record, 2009.
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