Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia da Letras, que disponibiliza livros do seu catálogo para os nossos redatores escreverem as resenhas. Livro de hoje: “Minha coisa favorita é monstro”.

“Se você não vir o monstro quer dizer que ele não existe?”. Assim começa a história de Minha Coisa Favorita é Monstro, de Emil Ferris. Ambientada na Chicago dos anos 60, na história acompanhamos Karen uma garotinha de 10 anos apaixonada por filmes de terror. Levava sua vida normalmente até que sua vizinha/amiga é encontrada morta de forma suspeita. Decidida a investigar o caso, acompanhamos seu ponto de vista por meio de seu caderno rabiscado onde cria seu alter ego “lobismoça”.

Seguindo uma forma quase não linear, emulando as páginas de um caderno, com os desenhos feitos com uma caneta esferográfica, ‘Minha Coisa Favorita é Monstro’, de acordo com Art Spiegelman, autor de Maus “Um dos mais importantes quadrinhos de nosso tempo”, foge do convencional de Histórias em quadrinhos (HQs).

Sobre a autora Emil Ferris

Emil Ferris desenhando sua personagem ‘Lobismoça’

Em sua primeira obra totalmente autoral, aos 55 anos, Emil Ferris antes de entrar no mundo dos quadrinhos era ilustradora e designer. Sua história mudou de rumo quando contraiu a febre do Nilo Ocidental, que atingiu a parte motora de seu corpo. Ferris perdeu movimento de membros inferiores e superior direito. Em função da doença a autora afirma ter tido alucinações e delírios, em um deles relatou um encontro com o anjo da morte enquanto estava em seu leito.

Aos 40 anos, com uma filha de 6 e uma paralisia, Ferris entrou para a School of the Art  Institute of Chicago, onde aprendeu a desenhar com a mão esquerda (já que a autora antes do incidente era destra). Sua obra, apesar de trazer elementos fantasiosos, é uma autobiografia da infância.

Sobre a História

alter ego “lobismoça” de Karen.

A minha identificação com a personagem é imediata. Lembro que em meu ensino fundamental eu sempre espantava a falta de habilidade social e a solidão das aulas fazendo desenhos bizarros e fantasiosos nos cantos das páginas do meu caderno.  Lembro também que adorava histórias de mistérios e faria o mesmo que a personagem: coletar dados e investigar suspeitos.

A admiração da Karen pelo o irmão mais velho ‘Dezê’ me lembra que, quando criança, eu colocava quase que num pedestal as pessoas mais velhas com um tom de “Quero ser assim um dia”, que acaba se perdendo conforme envelhecemos e vemos que ser adulto não é lá grandes coisas.

Apesar da história ser do ponto de vista de uma criança de dez anos, Minha Coisa Favorita é Monstro aborda temas adultos como suicídio, preconceitos, relacionamentos abusivos e depressão. Caso seja sensível a algum desses temas vale o alerta de gatilho.

A HQ demorou quase 6 anos para ficar pronta, tem o seu final aberto e continuação prevista para os próximos anos.

a HQ é cheia de referências a filmes de terror clássicos

Pontos Fortes:  

  • O estilo de desenhos com caneta esferográfica,
  • inúmeras referências a filmes de terror.

Pontos Fracos:

  • A sequência dos quadrinhos às vezes fica com muitas informações em uma página, pode ser confuso para quem não tem o hábito de ler HQs.

Para quem gosta de:

  • MAUS de Art Spiegelman (1980)
  • Onde Vivem os Monstros filme/livro (filme dirigido por Spike Jones em 2010 e livro do Maurice Sendak de 1963)

Tradução: Érico Assis

Editora: Quadrinhos e Cia

Ano de Lançamento: 2019

Número de pág.: 416