Nada como se esparramar no sofá e atualizar aqueles seriados acumulados… Mas há quem ache que fazer aquela maratona intensa de episódios seja perda de tempo – noob. Por isso, começamos aqui uma série de textos para combater a inocência dessas pessoas, vamos abordar as ciências emaranhadas nos seriados mais famosos.

Para começar, e aproveitando que a série está lançando sua nova temporada no domingo (16), vamos hoje de Game of Thrones e a genética enraizada nas árvores genealógicas das famílias do universo de George R. R. Martin.

E NÃO, não vamos abordar os cruzamentos capazes de descobrir que os filhos de Robert Baratheon com Cersei Lannister são na verdade bastardos. Isso é tão simples que até Ned Stark em um mundo sem os conhecimentos de Mendel conseguiu perceber.

Na verdade, tentaremos prever aqui se há possibilidades genéticas de Daenerys Targaryen enlouquecer como seu pai, ou pelo menos explicar que o filho dela morreria mais por questões genéticas do que magia.

Daremos nosso primeiro passo olhando a árvore genealógica dos Targaryen, onde é possível perceber uma grande afeição dos integrantes dessa família por incesto, a própria Daenerys é filha de um casamento consanguíneo e neta de um casamento consanguíneo – só olhar na parte inferior direita da imagem.

 

Então, o quão geneticamente a Daenerys é parecida com seu pai para lançarmos a possibilidade dela pirar o cabeção durante essas últimas temporadas?  

Para resolver esta incógnita, precisamos medir o parentesco genético entre os dois indivíduos em questão, isto é feito através da probabilidade deles terem genes idênticos herdados de um ancestral comum a ambos. Essa medida é denominada Coeficiente de Consanguinidade.

r=(1/2)^n

Onde:

r = Coeficiente de Consanguinidade

(½) = é a chance de um gene qualquer ser transferido para próxima geração.

n = é a quantidade passos que separam os indivíduos.

 

Não se assuste, mantenha o foco. Você quer provar para seus amigos enquanto esperam pelo novo episódio, que ela pode ficar louca.  Então pra não começarmos de cara com um caso tão… exótico…, vamos aplicar a uma família mais sensata.

Na família sensata, se quisermos saber a probabilidade de genes idênticos entre o Avô  ( I1) e o neto (III1), temos que verificar o caminho que o gene teria percorrido, nesse caso seria I1  -> II2 -> III1.

Cada passagem é chamada de passo, e no nosso cálculo é o “n”.

Desta forma, aqui  r = (½)^2 = 1/4 ou  25%.

 

Essa hora você pode se perguntar: e o somatório? Então caro sci-leitor, aqui só temos um caminho que liga o neto (III1) ao Avô (I1), porém quando há mais caminhos, todos os caminhos devem ser somados (e levam a Roma, em nosso caso a Westeros).

Você já deve imaginar as possibilidades de caminhos que ligam Daenerys ao Rei Louco, não? Aqui, apresento a vocês a família Targaryen – resumida a quem nos interessa porque eu não queria ficar desenhando.

E nossas possibilidades seriam:

  • Daenerys -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Shaera -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Jaehaerys -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Shaera -> Betha -> Jaehaerys -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Shaera -> Aegon -> Jaehaerys -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Jaehaerys -> Betha -> Shaera -> Aerys
  • Daenerys -> Rhaella -> Jaehaerys -> Aegon -> Shaera -> Aerys

 

Onde:

r = (½) + (½)^3 + (½)^3 + (½)^5 + (½)^5 + (½)^5 + (½)^5 = ⅞ = 87%

 

Assim, chegamos ao valor de 87% de chance para Daenerys possuir genes idênticos aos de Aerys II, seu pai, o rei louco. Além disso, casamentos consanguíneos estão associados com infertilidade, problemas durante a gravidez, anomalias congênitas, morbidade e mortalidade. Essa idéia nos leva a pensar que a gestação de Daenerys teve mais problemas relacionados a genética, do que a Magia utilizada por Mirri Maz Duur

Então Sci-leitor, está preparado para uma possível Daenerys, khaleesi, mãe dos dragões, a não queimada, Rainha de Meereen … e LOUCA?


Se você gostou do texto, comenta aí que responderemos. Podem comentar outros seriados e as ciências que vocês querem ver aqui.

References:

[1] M. B. Bellad et al., “Consanguinity, prematurity, birth weight and pregnancy loss: a prospective cohort study at four primary health center areas of Karnataka, India.,” J. Perinatol. : Off. J. Calif. Perinat. Assoc., vol. 32, no. 6, pp. 431–437, Jun. 2012.

[2] H. Hamamy et al., “Consanguineous marriages, pearls and perils: Geneva International Consanguinity Workshop Report.,” Genet. Med. : Off. J. Am. Coll. Med. Genet., vol. 13, no. 9, pp. 841–847, Sep. 2011.

[3]   http://lineu.icb.usp.br/~bbeiguel/Genetica%20Populacoes/Cap.5.pdf

[4]   Beiguelman, Bernardo, and S. B. G. Editora. “Genética de populações humanas.” Ribeirão Preto: SBG (2008): 483-488.

 


Crhis Vasconcelos

Biomédica, mestre e doutoranda em Genética, mas programação é meu dia-a-dia. Minha principal área é a bioinformática estrutural e seriados, mesmo que seja 20 minutinhos do episódio. Café é vida, mas nas folgas um violão e uma cerveja  me deixam feliz.