Se promessa é dívida, como não terminar o ano no vermelho e ainda devendo mais?

Todo final de ano, algumas cenas se repetem: matérias em sites dizendo qual a melhor cor para usar no réveillon, textões no Facebook com o balanço do ano e mensagens motivacionais, retrospectiva passando na TV, o show da virada e a famosa queima de fogos.

Engraçado o quanto damos importância às comemorações dos ciclos. Comemoramos aniversários, bodas de casamento, mudança do ano no calendário e mais tantas outras coisas, que só posso pensar que somos uma espécie muito festeira!

A palavra réveillon é derivada do termo francês réveiller, que significa deixar de dormir ou fazer vigília. Mas porque virar a noite do dia 31 de Dezembro para o dia 01 de Janeiro (ou de 28 Nixian para Achronian, no único calendário que importa) é tão importante assim? Basicamente porque nossa vida é regida por ciclos.

A adaptação à ciclagem do tempo foi importante para nossa evolução enquanto espécie. Identificar os melhores períodos para plantio, colheita, procriação, caça de determinados animais, etc, garantiu nossa sobrevivência lá nos tempos mais remotos, através do planejamento.

Hoje em dia, no entanto, os ciclos adquiriram mais uma importância: a de serem marcadores temporais para realização de metas. É mais ou menos como se a gente quisesse atribuir ao tempo a responsabilidade de realizar os nossos sonhos – e dessa forma também temos em quem jogar a culpa quando aquela promessa de ano novo não se cumpre.

E aí entra o nosso comportamento supersticioso, que é quando relacionamos como causa e efeito dois eventos que aconteceram ao mesmo tempo ou com um curto intervalo. Por exemplo: Maria usou roupa vermelha na virada do ano e encontrou um namorado no mês seguinte. Vários são os rituais que as pessoas realizam em troca de alguma benesse no ano seguinte, e o problema não está com nossas crenças, mas sim nos hábitos que nós temos para atingir nossos objetivos.

Antes de continuar a leitura desse texto, pense no que você mais quer no ano de 2018. Agora pense em como você pode se planejar para fazer isso acontecer. Ah, e não esquece de registrar isso em algum cantinho visível, tá? Parece tão simples, mas por que será que não temos o hábito de planejar nossos sonhos? Porque dá um trabalhinho no começo.

Somos preguiçosos – biologicamente falando. A gente se comporta de forma a ter o mínimo gasto de energia e a maior recompensa. E por isso pode ser um pouco difícil você ter que se esforçar agora para algo que o seu “eu do futuro” irá desfrutar. Geralmente, aqueles que conseguem cumprir suas resoluções de ano novo são pessoas que se planejam para ter pequenos ganhos que as motivem a atingir o objetivo final.

Vamos colocar uma situação prática: digamos que sua meta de ano novo seja conhecer um novo país. Como se planejar para cumprir? Alguns passos seriam estimar os gastos, como e quando conseguir o valor necessário, escolher a data mais conveniente e… tchanrã! Você acabou de cumprir uma promessa de fim de ano! Mas atenção, para seu eu de agora não se cansar de tanto trabalho não-remunerado, que tal pensar em pequenas recompensas para cada objetivo conseguido? E isso vale para grandes sonhos ou para tarefas do cotidiano.

Planejar recompensas é uma forma de ser grato a si próprio, reconhecer seus esforços, te ajuda a ser persistente e motivar-se a dar sempre o melhor de você em tudo que fizer! Até mesmo as metas mais ousadas e os sonhos mais altos podem ser alcançados com um bom planejamento, pequenos ganhos ao longo do caminho e uma pitadinha de esperança! Boas festas!

 

REFERÊNCIAS:

DUHIGG, Charles. O poder do hábito: Porque fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. Tradução de Rafael Mantovani.

HUBNER, Maria Marta Costa; MOREIRA, Marcio Borges (Org.). Temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeira: Guanabara Koogan, 2012.


Daniele Almeida Estudante de Psicologia na UFAL – Pólo Palmeira dos Índios e entusiasta dos memes na interwebs.