Desde Jenner, nossas pesquisas na área das vacinas têm se desenvolvido com muita rapidez e qualidade. Edward Jenner é conhecido como o primeiro a vacinar uma população e protegê-la com grande eficácia. Durante um surto de varíola na Inglaterra no século XVIII, Jenner observou que as vacas também apresentavam uma variante da varíola humana, chamada por ele na época de varíola bovina, pois as vacas apresentavam os mesmos tipos de pústulas que os humanos, umas feridas na pele bem chatinhas de curar. O pulo do gato foi associar que as mulheres que ordenhavam as vacas tinham as mesmas feridas, só que os sintomas de varíola não eram os mesmos relatados durante o surto, mas sim muito mais leves.

Em um momento “Eureca”, Jenner resolveu transferir os conteúdos de uma ferida de uma vaca (eca!) para um menino de oito anos, filho do seu jardineiro, e que ainda não tinha sido infectado pela varíola humana. O menino Phillip ficou imune à varíola humana, e o processo de vacinação foi descoberto. Este foi um dos momentos mais importantes tanto para o estudo da imunologia, quanto para o desenvolvimento da humanidade. Desde então, várias vacinas foram desenvolvidas, tanto para vírus, como a varíola, quanto para bactérias como as que causam pneumonia, com eficácia comprovada mundialmente.

O nosso país tem o Programa Nacional de Imunizações, reconhecido e respeitado mundialmente. As vacinas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a cobertura já chegou perto de 90% das crianças em idade de vacinação. Para entender quando e onde as crianças, adolescentes e adultos devem tomar as vacinas clique AQUI

Como eu citei acima, o Brasil já foi reconhecido pela cobertura das campanhas de vacinação mundialmente. Quem não se lembra do Zé Gotinha? De ter que ir até o posto de saúde para tomar a vacina e ver o boneco animado e saltitante? Sim, as campanhas deram certo por muito tempo, mas como podemos ver no primeiro gráfico da figura abaixo, a quantidade de crianças vacinadas nos últimos 5 anos caiu bastante, e com isso podemos dizer que a cobertura da população brasileira diminuiu. E diminuiu de forma parecida em todas as regiões, o que não necessariamente está relacionado com uma gestão regional.

 

GRÁFICOS

 

Fonte: Datasus (http://pni.datasus.gov.br/inf_estatistica_cobertura.asp)

Mas, qual seria o problema de ter menos crianças vacinadas com o tempo? O problema maior de aumentarmos o número de pessoas não vacinadas em uma população é aumentar a suscetibilidade dessas pessoas a um surto de alguma doença contagiosa. Por exemplo, temos o sarampo. Uma doença infecciosa, contagiosa e causada por um vírus que é transmitido via contato com as pessoas infectadas, por tosse, espirros e contato direto. Imagine uma população que recebeu a vacina contra o sarampo nos primeiros anos de vida. Se aparece uma criança com sarampo vinda de outro país, esse vírus chega, passeia pelas crianças daqui e nenhum surto acontece. Já hoje, com a cobertura vacinal abaixo de 80%, essa criança com sarampo conseguiria infectar esses 20% não vacinados e o surto começa. O mesmo pode acontecer com a poliomielite, doença infecciosa, e contagiosa, muito mais agressiva que o sarampo, pois causa paralisia infantil.

O mecanismo que previne o sarampo, é muito parecido com o que protege da poliomielite, da caxumba, da catapora, entre outras doenças. Mas, o que acontece com a população brasileira? Por que temos cada vez menos crianças sendo vacinadas contra doenças que podem se espalhar para toda a população? Um dos motivos mais óbvios seria a diminuição no investimento por parte do governo nas campanhas de vacinação, mas não é isso que vemos no terceiro e quarto gráfico da figura acima. Os investimentos em campanhas são cada vez maiores, sendo o orçamento previsto para 2018 o maior já visto desde o começo do Programa Nacional de Imunização. Para onde vai esse dinheiro? Esse é um tema bem complicado de estudar, mas tem caroço nesse angu.

Um outro motivo que pode ajudar na queda da cobertura é a recusa, a não vacinação deliberada das crianças. Hoje em dia há vários grupos que promovem a não vacinação das crianças, e os motivos são vários, mas sempre tem uma pseudociência no meio para “explicar” esse comportamento. Um trabalho publicado por um grupo no Reino Unido fez a correlação entre crianças que receberam a vacina para sarampo, caxumba e rubéola, com o desenvolvimento de autismo. Este trabalho, apesar de retratado, ou seja, comprovadamente errôneo, motivou e motiva até hoje estes grupos antivacinas, que justificam que os componentes presentes nas vacinas são capazes de causar autismo nas crianças, público alvo da maior parte das vacinas disponíveis hoje. Ainda há outros motivos para a recusa, como razões morais, envolvidas com a vacinação contra o HPV, hoje fornecida pelo SUS para crianças entre 9-13 anos. Famílias dizem que não querem vacinar seus filhos, pois podem induzi-los à prática de sexo na infância e adolescência.

O fato é que precisamos estudar mais os fatores que levam à queda na proteção da população brasileira, mesmo com o aumento no investimento nas campanhas. A vacinação é muito importante para que possamos garantir a proteção da nossa população, e movimentos baseados em fatos não científicos só atrasam o nosso desenvolvimento.

 

E você leitor, o que sabe sobre vacinas? Foi vacinado? Conhece alguém que não foi e defende a não vacinação? Conte para nós!

 

 

Referências

Dados públicos sobre vacinação [1] [2]

Calendário de vacinação

Grupos contrários à vacinação avançam no País e preocupam Ministério da Saúde

Vacinação em queda no Brasil preocupa autoridades por risco de surtos e epidemias de doenças fatais

Orçamento cidadão 2011-2018

Edward Jenner

Trabalho sobre vacinação e autismo (RETRATADO)

 

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Thais Boccia da Costa

Bióloga, mestre e doutora em Imunologia, graduanda em Licenciatura em Ciências e admiradora da educação.