Muito se fala que quem gosta de comer e é gordo tem “pensamento de gordo”, mas uma pesquisa brasileira aponta para o nariz como uma das possíveis causas da atração quase irresistível por alimentos gordurosos.

Um artigo recém publicado descreve um estudo que mostra que um subgrupo de neurônios olfativos presentes no nariz é capaz de expressar um receptor celular especializado no transporte de moléculas lipídicas. A descoberta foi feita em um estudo da mucosa nasal em ratos.

Conhecido como CD36, o receptor tem sua expressão aumentada no tecido adiposo, onde regula o metabolismo dos lípidos. Pesquisas anteriores já haviam ligado a presença do CD36 nas línguas dos mamíferos com a preferência por alimentos de alta gordura.

“A existência de CD36 em neurônios sensoriais nasais é uma descoberta nova e parece apontar para detecção olfativa de lípidos em mamíferos. Como na língua, isso pode estar ligado a uma preferência por alimentos gordurosos”, disse Isaias Glezer, professor de Bioquímica  da Universidade Federal de São Paulo.

Figura demonstrando sistema olfatório com neurônios olfatórios que ficam na parte de cima da cavidade nasal, levando o estímulo até o cérebro.

Cheiros chegam pelo nariz até os neurônios olfatórios que ficam na parte de cima da cavidade nasal, levando o estímulo até o cérebro. (Fonte)

Outra possibilidade é que este receptor seja ligado a percepção de aromas por indivíduos da mesma espécie, auxiliando nas interações sociais, na percepção dos feromônios (hormônios sexuais).

Para investigar a função desses neurônios olfativos, os pesquisadores realizaram experimentos com dois grupos de ratos: um grupo que expressava o CD36 e outro que não expressava, e ambos foram expostos a um pedaço de papel embebido com sal e outro pedaço de papel perfumado com uma mistura de ácidos graxos (gordura). Os animais do tipo selvagem (com CD36) passaram muito mais tempo explorando o papel perfumado de gordura do que o papel embebido com sal, enquanto que no grupo sem CD36 a diferença não foi significativa.

O próximo passo da pesquisa é confirmar se o receptor está também presente no epitélio olfativo humano. Quem sabe, se somado a um tratamento que desligue a gula, seja o caminho para acabarmos com a obesidade?!

Fonte: Neuroscientistnews