Conforme a IA aprende a enxergar como a gente, percebo como a gente não enxerga a realidade.

Acabei de assistir a este vídeo aqui (https://youtu.be/i6l3535vRjA?si=kH5DQZsGujpY-_Jm), que é bem técnico, mas despertou reflexões muito mais filosóficas do que eu estava predisposto ao clicar. E aqui estou eu devaneando sobre como funciona a nossa visão, nossa memória visual e como a IA é capaz de imaginar coisas. Não, não clique no vídeo, o resto do texto não depende dele — mas assista depois, se gostar de detalhes técnicos.

Quando tiramos uma foto, a câmera desmonta a imagem real em bloquinhos: os pixels. Se os pixels são menores do que nosso olho consegue ver, e se eles guardam mais degradês do que nosso olho pode diferenciar, achamos que a imagem gerada corresponde à própria realidade… mas não é. É uma aproximação indistinguível para nós.

Porém, nosso cérebro não enxerga bloquinhos. Enxerga conceitos (tente lembrar do rosto de uma pessoa ou de um lugar que você visitou… você não consegue ver os pixels, você “sente” as características gerais, os conceitos). E se a IA pudesse também enxergar conceitos? O resultado seriam imagens muito mais comprimidas, e ainda assim indistinguíveis para nós.

Essas duas imagens, para nós, são exatamente a mesma coisa. Mas elas são bem diferentes em nível de pixel.

A entropia (número de informações necessárias para representar algo) pode ser muito diminuída se as máquinas passarem a enxergar como a gente, o que é ótimo do ponto de vista de processamento e armazenamento de dados. Menos energia, mais eficiência, mais velocidade.

Mas… a coisa mais interessante de tudo isso é, no fim, perceber que a gente não enxerga a realidade, nem de perto. De um monte de ruído de alta entropia, nós aprendemos, primeiro, apenas a notar o que nos é mais relevante — aplicamos um filtro. Depois criamos símbolos, que são uma quantização daquilo que passa nesse filtro. Agora, ao ler este texto, você NÃO está enxergando a realidade, mas apenas o recorte dela que gera significado para você.

O mais curioso, porém, é que não temos como ver a falha, a diferença, já que somos objetos observados de nós mesmos. O problema é que isso justamente nos dá a confiança de achar que vemos a realidade, que sabemos a realidade. Infelizmente, nos é inacessível compreender nossa própria miopia… e essa lição de humildade viria bem — ainda mais neste mundo de tantas certezas.